O Atelier de Noite é o meu segundo romance de Ana Teresa Pereira. Encontrei o mesmo sentimento onírico do outro (O Verão Selvagem Dos Teus Olhos). Os dois livros partilham também um origem em literatura inglês. Neste caso, o primeiro conto é baseado na vida de Agatha Christie, que desapareceu durante 11 dias nos anos vinte do século passado. ATP usa este evento como matérias-primas de uma obra contada numa série de esboços (não há capítulo que ultrapassa 2 páginas, e alguns têm tamanho mesmo menor) de uma escritora a viver às escondidas num hotel, a fugir da vida, talvez num estado de fuga. Mas o ponto de vista muda de um capítulo para outro, e nós leitores, com visão turva, nem sempre sabemos quem é a protagonista: quer Ana quer Agatha, ou até Poirot. Os cargos de autora e protagonista ficam embaçados.
Embora o segundo conto tenha uma outra história, não é cem por cento distinto. Tem a mesma estrutura, e várias frases e temas repetem-se nos dois. Confesso que o meu português não é o suficiente para entender a ligação entre os dois. É provável que perdi algumas coisas, mas gostei de viver durante um dia (sim, um dia. É pequeno. Devorei-o) neste sonho literário.