O primeiro capítulo do livro “Doze Segredos Da Língua Portuguesa” de Marco Neves é a sua tentativa lidar com a problema difícil de “saudade” e, mais geralmente, de palavras não traduzíveis.
O seu argumento é que esta questão nunca se trata de palavras literalmente intraduzíveis. Para elucidar este ponto de vista, há duas linhas de pensamento*. Por um lado, é sempre possível, traduzir qualquer palavra mas pode-se precisar de uma frase, ou pelo menos precisar que acrescente um adjectivo. Por outro lado, há muitas palavras aparentemente fáceis que se tornam, quando pensarmos nelas, mais complicadas. Quando um alemão diz “pão” em vez de “brot”, achamos que o entendemos, mas a imagem na sua mente é de uma comida escura e pesada, feita de centeio. Não é a mesma coisa do que o que está na cabeça dum ouvinte inglês ou português, e por isso, podemos dizer que é um tradução fiel?
Eu não tenho paciência para isso, mas afinal, chegou à conclusão certa. O que estas palavras nos dizem é: quais são os conceitos específicos que a gente se sente o suficiente que valha a pena inventar uma palavra especifica para não ser prolixo. No final do capítulo, o autor dá muitos exemplos bonitos de tais palavras intraduzíveis de várias línguas.
*=originally “ataque” but apparently portuguese arguments don’t have lines of attack, the reasonable, fair-minded bastards!