
A minha filha, a autora, sugeriu que nós (mãe, pai e filha) lêssemos um livro juntos e depois discutíssemos as nossas opiniões uns com os outros. Escolheu o Penance (“Penitência”) de Eliza Clark para dar o pontapé de saída.
Fiquei impressionado pelo domínio da autora do seu enredo: a história é contada por um escritor de crime verdadeiro* que está a escrever um “livro dentro do livro” sobre um grupo de estudantes numa escola em Yorkshire. São raparigas com dezassete** ou dezoito anos cujos dramas, traumas e doenças mentais acabam em tragédia e três delas matam uma outra. Cada capítulo consiste numa série de entrevistas com familiares e amigos das raparigas. A história delas é, em si, incrível e Eliza Clark retrata cada um com uma personalidade realista e “dinâmicas de grupo” acreditáveis, mas o papel do escritor também está em causa. Quanto podemos confiar numa outra pessoa com os seus próprios motivos?
Falámos anteontem e todos gostámos (4/5 estrelas). Todos nós percebemos aspetos do livro que os outros perderam (por exemplo eu fui a única pessoa que não percebi que o nome do escritor no livro, Alec. Z. Carelli, é quase um anagrama do nome de Eliza Clarke (não é exato, mas sim perto!) e eu percebi uns pormenores partilhados entre as raparigas e outros adolescentes que cometeram crimes verdadeiros nas notícias***.
O livro de Setembro irá ser o Piranesi de Susanna Clarke. Mesmo sobrenome, outra grafia. Em Outubro sou eu que vou escolher um livro de autor chamado Klark.
Penance de Eliza Clark (Audible, Amazon e que pena, não existe nenhuma versão portuguesa mas aqui está a página do Wook).
*I don’t think True Crime as a genre is very well-known in portuguese. I can see people using it (here for example) but the big kahuna of the genre, In Cold Blood by Truman Capote, is listed under “Jornalismo Literário / Romance de Não Ficção” on Wikipedia, so watch your step with this one.
**Just found out the brazilians even spell seventeen differently and now I want to smash everything.
***Might just be a coincidence but for example, one is “pretending to have a dealer”, which is a detail that appears in descriptions of the murderers of Brianna Ghey last year, and that seems to specific to be a coincidence. The two murders are very simple: apparent simple motives which were latched onto in the public imagination, but lurking just underneath are huge reserves of sadism, unhealthy online activity and general headfuckedness.