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Reading (and Watching) List

Reading a book

Eis a minha lista de livros para quem quiser saber mais sobre a revolução em Portugal, e os anos antes e logo depois

Livros já lidos

Livros que quero ler mas ainda não li

Livros que não li porque não são livros mas sim filmes

  • Capitães de Abril (disponível aqui em português e acho que o Apple TV tem uma versão dobrada ou legendada mas não tenho)
  • Escolha insólita: Prazer Camaradas é estranho mas numa maneira interessante. Existe uma versão gratuita no Arquivo da Internet mas não experimentei porque tenho um DVD portanto sei lá o quão nítida é a imagem. Boa sorte!)
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Haxan

Na perseguição do seu objetivo* de ver todos os filmes e de ler todos os livros mencionados por Reece Shearsmith, a minha filha insistiu em nós vermos um filme sueco intitulado Haxan (“A Feiticeira”). O filme é muito antigo, tendo sido feito em 1922, mas foi restaurado. Por isso, tem uma imagem muito nítida: é a branco e preto, mas com um tom amareldado. Claro que não há diálogo, exceto as várias linhas escritas, intercaladas entre as cenas.

*it was suggested that “na demanda de ver” would be more idiomatic, I’m struggling with this because the word “demanda” mostly means “demand” and she wasn’t demanding anything. In fact, if you look at the alternative meanings, it can also mean “action of searching” (2) or “enterprise, intent, design” which actually sounds abiut right. So if you’re braver than me, you could try using demanda in this context, but it hurts my brain to write it like that. I can find actual examples online of “na perseguição deste objetivo” though, so I know it’s allowable. This page for example.

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Prazer, Camaradas

Quite a long text, this. I split my review up over three days. Thanks to Dani Morgenstern for the corrections. I’ve put quite a few footnotes at the bottom where the mistakes were interesting enough to warrant it.

As you’ll see in the text, I had quite a bit of trouble getting hold of a copy due to the only online supplier, FNAC, refusing to guarantee delivery due to the supply chain mess we have referendummed ourselves into, so if you’re in the UK and interested in this, you might have to wait a while.

Tive oportunidade de ver este filme num festival de cinema português há dois anos mas estava doente. Logo depois, chegou a covid e a estreia do filme foi andou adiada*. Finalmente, quando reabriram as lojas online, havia problemas com as encomendas internacionais nesta ilha parva.
Enfim, depois de tantos obstáculos, a minha sobrinha (que é muito simpática) entregou-me uma cópia** depois de fazer férias na Madeira.
Tenho tantas coisas para dizer! Mas não quero sobrecarregar as professores, portanto irei escrever mais amanhã e provavelmente fico com alguns pormenores até o dia a seguir***!

O filme que mencionei ontem conta a história de um grupo de estrangeiros que chegam a**** Portugal em 1975 para participar na criação de uma melhor sociedade depois da queda do Estado Novo. São marxistas e passam o verão numa quinta cooperativa. Os protagonistas apresentam-se no início do filme. “O meu nome é Mick e tenho 18 anos” diz um idoso de sessenta e tal anos, e os outros também se declaram “jovens” de grande idade. Fiquei curioso, mas acontece que os realizadores tomaram a decisão de usar habitantes da aldeia, agricultores das cooperativas e até uns estrangeiros que realmente fizeram a peregrinação ao centro da ação pós-revolucionária. Portanto, cada pessoa na tela tinha cabelos cinzentos mas protagoniza a um jovem radical e idealista*****. Além disso, utilizam iPhones e não há tentativa nenhuma de recriar o mundo dos anos setenta. É uma ideia gira, com resultados mistos. Mas vou escrever mais amanhã!

A filme tenta esboçar as atitudes dos portugueses e dos estrangeiros e das****** pessoas de diversas gerações em relação ao sexo*******. Naquela época, a Europa estava em plena revolução sexual mas Portugal tinha sido reprimido por um governo conservador e por uma igreja que andava de mãos dadas. Os estrangeiros trabalham nos campos (mesmo que sejam fracas, comparados com os camponeses) e trazem com eles a cultura da igualdade dos géneros e do amor livre.
Às vezes, este contraste entre culturas é iluminador ou até engraçado, sobretudo quando o idealismo dos jovens faz parte do diálogo. Por exemplo, há uma cena em que três estrangeiras aparecem num sonho dum jovem marxista (um jovem com barba grisalha!) Afagam os seus próprios seios ao tentar seduzi-lo.
“Fumo, Pedro, não só em casa mas na rua e no mercado também.”
“Não há melhor método de mudar as relações de produção do que beijar em público e fazer muito amor”.
Infelizmente, há cenas um bocado menos efecazes e até embaraçosas, mas isso não me importa muito. Adorei o filme e fico contente por tê-lo visto.

*adiado (delayed) not atrasado (late)

**I used the word “exemplar” which is the word I usually use for a copy of a book but although not fully wrong, “cópia” was given as a suggested improvement in the context of a film.

*** O dia a seguir (the day to come) not o dia depois (the day after)

****They arrive “a Portugal” not “em Portugal”. A good example of an unexpected preposition change between languages. We would definitely arrive in Portugal, not at it.

*****I started off translating, in my head “each one… Had grey hair but they portrayed…”. But in Portuguese you don’t tend to use the “they”, so this shift from singular to plural in the same sentence doesn’t really work, and my “protagonizavam jovens radicais…” got switched to “protagonizava um jovem radical…”.

****** I keep making this mistake. In English we would say “of the Portuguese and the foreigners but in Portuguese it has to be” of the Portuguese and of the foreigners.

******* it would sound weirdly formal in English but the “em relação” is necessary here.

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Aparição – Opinião

Ontem, vi um filme português chamado “Aparição”, baseado num livro existencialista de Virgílio Ferreira. É um filme muito sério, com poucas gargalhadas mas a cinematografia é incrível e os actores estiveram bem. A história desenrola-se em Évora nos anos cinquenta. O protagonista é um professor de latim, recentemente licenciado. que também escreveu um livro. Sendo ateu, e vivendo nas sombras da segunda guerra mundial, os seus pensamentos pesam a condição humana numa época no qual a morte, o amor, a moralidade e o significado da vida estão em causa.

There’s a better description of the story and a programme about it on the RTP site here

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V-V-V-V-Variações

Recentemente, vi um filme chamado “Variações”. Já sabia que este gajo foi uma figura muito importante na música portuguesa nos anos oitenta. Nuno Markl mencionou-o na rubrica “Caderneta de Cromos” e também aparece na série 1986. Logo depois, perguntei à minha esposa que me disse que era um dos cantores favoritos dela quando era nova. Alguns outros portugueses disseram a mesma coisa. Confesso que não compartilho o entusiasmo deles, mas isto não é surpreendente, porque não cresci num país onde a música dele fez parte do dia-a-dia, mas queria saber mais sobre este artista para compreender algo que marcou a minha esposa da mesma maneira que fui marcado pelo Morrissey ou pelo Lloyd Cole ou pelo Boy George.

O filme é espectacular: Sérgio Praia, o actor que o protagonizou é um actor excelente com uma voz bonita e uma presença forte que fez toda a diferença, porque claro este tipo de filme seria lixado se não tivesse um actor capaz de carregar o espírito do protagonista. Deixou-me com uma imagem dum homem complexo, corajoso e dotado que viveu uma vida cheia, apesar de morrer relativamente novo com quarenta anos: lutou numa guerra, viajou através do mundo, seguiu o seu sonho de ser músico, participou no nascimento do clube gay mais famoso do país, etc. Ouvi pessoas a comparar o Variações com David Bowie, e pergunto-me o que conseguia fazer se tivesse atingido a idade que o Bowie tinha quando morreu, ou se a carreira dele alcançasse o mesmo tempo da de Leonard Cohen ou Bob Dylan.

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Opinião – Comboio de Sal e Açúcar

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Anteontem, vi um filme moçambicano chamado “Comboio de Sal e Açúcar”, que já ganhou muitos prémios internacionais, e foi o filme submetido por Moçambique aos Óscares na categoria de “Melhor Filme Em Língua Estrangeira” (embora não tenha conseguido entrar na lista de candidatos seleccionados). Os sotaques dos actores eram bastantes difíceis mas felizmente todos falavam devagarinho e portanto não tive problemas em seguir o diálogo.

O enredo desenrola-se no país durante a guerra civil que ocorreu durante os anos oitenta. Logo no inicio do filme, um grupo de viajantes embarca num comboio. Um grupo de soldados, liderados por um comandante intimidante, conhecido como “Sete Maneiras” (protagonizado por António Nipita) acompanha-os para proteger os viajantes e a carga de sal e açúcar nos vagões. Claro, os passageiros têm de aguentar muitos perigos e dificuldades por causa da guerra. A maior parte do perigo vem dos rebeldes que os atacavam, mas também havia buracos no caminho-de-ferro, árvores caídas e outros obstáculos que era preciso de superar. Todas as vezes, os soldados mandaram os viajantes resolver o problema.

Além disso, logo depois do início da viaja, torna-se claro que nem todos os soldados estavam motivados pela lealdade para com* o seu país. Tendo sido brutalizados por anos de guerra, faltava-lhes disciplina, e pareciam acreditar que os passageiros lhes deviam estar agradecidos, que tinham direitos a roubar os conteúdos de alguns vagões, e ainda pior, que as passageiras eram propriedade sua. O comandante fecha os olhos a estes assaltos, até ao momento em que Salomão, o pior de todos, é morto por um outro soldado que tinha mais coragem e mais conhecimento do seu dever como soldado para com o cidadãos. No fim, com Salomão morto, o comandante recusou-se a deixar os outros soldados enterrar o cadáver dele porque não merecia essa honra.

O filme mostra a brutalidade da guerra. Tantas vidas foram desperdiçadas, e tantas crianças testemunharam esse horror. Na ultima cena, o comboio chega ao destino com o corpo dum rebelde morto atado à frente da locomotiva, e um grupo de rapazes atiraram-lhe pedras. É uma cena muito intensa, e eu reconheço que é provável que esteja a dar a impressão de que é muito deprimente, mas não é! Manteve o meu interesse com a sua qualidade.

 

*=I originally wrote “pelo”. “Para com” looked so strange I thought it was a typo in the correction but that’s how you say “towards” as in “he felt loyalty towards is country”

Thanks Fernanda for her corrections on this and to Antonio for the Brazilian perspective

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A Costa Dos Murmúrios – Opinião

Este texto era para ser uma opinião sobre um livro mas acabou por se tornar uma dupla-opinião, sobre um livro e um filme. A razão para esta decisão vai se revelar em breve.

17162622Comecei a ler “A Costa Dos Murmúrios” de Lídia Jorge no inicio de Outubro, mas custou-me muito entender o enredo. O livro desenrola-se em Moçambique, no principio dos anos setenta, durante a guerra colonial e tem que ver com o horror inerente a um sistema daquele género, baseado em violência e arrogância que envenena as vidas das pessoas assim como o álcool metílico envenenou as pessoas que beberam o vinho logo do início do livro.

Entendi cenas, sim, diálogos e parágrafos, mas é escrito num estilo muito literário que me faz lembrar os romances de Graham Greene e de Joseph Conrad. Por isso, não consegui entender o enredo inteiro.  Ainda por cima, Lídia Jorge utiliza muitas palavras desconhecidas. O meu dicionário ficou sempre perto de mim. Porém, às vezes,  até o dicionário não chegou. Por exemplo, havia uma palavra “mainata” que não conhecia. Não a encontrei no dicionário, e a minha mulher não sabia o significado. Hum, uma mulher deu nomes às mainatas e mainatos. Os nomes eram nomes de vinhos. Um deles, Mateus Rosé, morreu. Perguntei ao Google.

Exmo Google

O que é que é uma mainata por favor?

Obrigadissimo

Colin

O Google respondeu com imagens de pássaros pretos que se chamam “mynah” em inglês. Falam ainda melhor do que os papagaios. Boa. Durante o resto do livro, imaginei estes pássaros de estimação lá em casa.

Quando cheguei ao fim, decidi ver o filme para que pudesse ter certeza do que é que tinha acabado de ler. Imediatamente, vi o meu erro. Um(a) mainato/a não é um pássaro, mas sim um empregado doméstico. Talvez seja uma palavra especifica do ultramar, e só significa um empregado negro. Não sei. Senti-me ridículo por ter feito um erro tão estúpido!

Há outros aspectos do filme e do livro que me deixaram confuso. Por exemplo, ainda não entendo o relacionamento entre a escritora e a protagonista, Evita. A Autora escreveu o papel dela no primeiro capitulo mas não percebi exactamente o que é que ela queria dizer. Gostei do livro mas estou muito contente por ter visto o filme também porque ajudou-me muito a entender a história.


Queria agradecer a Fernanda pela ajuda com as correcções neste texto