
A Lusofonia é o nome dado aos territórios mundiais onde se fala português. Mas para além disso, existe uma ideia de uma comunidade de povos unidos por uma história e um idioma partilhada*, mesmo que muitas pessoas vivem noutros países. Talvez o melhor encapsulamento desta ideia deja uma citação de Fernando Pessoa “Minha Pátria é a Língua Portuguesa”. Eu também sou cidadão dessa pátria, apesar dos erros que faço!
O autor e poeta Angolano conhecido como “Ondjaki” deu a sua opinião sobre a lusofonia no festival internacional de literatura em 2014. Para o escritor, a lusofonia é uma comunidade de pessoas lusófonas de qualquer país, sejam de onde forem**, mas às vezes, ouve pessoas a falar como se a lusofonia fosse apenas os cinco países africanos. Perguntou porque é que se fala dele e dos outros escritores africanos como membros da “lusofonia”*** mas Saramago nem por isso. Tanto quanto eu entendo, o seu ponto de vista não é uma acusação de racismo ou de colonialismo. Afirma, isso sim, que somos todos iguais perante a língua.
Identifico-me muito com esta visão, como cidadão dum outro país expansionista: os países onde se fala inglês são os países que antigamente “pertenciam” ao nosso império e embora o passado seja o passado e o presente seja o presente, a comunidade linguística deve servir como um lembrete da nossa história partilhada, e é isso que é a chave para a cooperação no futuro.

Lado ao lado com a ideia intangível da lusofonia, existe uma entidade política que representa a zona lusófona. O título dela é Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) e foi fundada em 1996. Tem o propósito de aprofundar a amizade e a cooperação entre os países lusófonos. Para além dos objectivos económicos (desenvolvimento, crescimento, negócios internacionais), esta amizade consiste em ligações culturais e desportivas. E sem dúvida a saúde da língua em si é importante, portanto a difusão do conhecimento de português faz parte da sua missão.
A organização é regida por um secretariado executivo cujos planos são concretizados por ação a outros níveis da estrutura governativa: o Conselho dos Chefes de Estado,**** e os conselhos dos ministros dos negócios estrangeiros e relações exteriores. Por seu turno, estes conselhos devolvem responsabilidade aos encontros mensais do comité de concertação permanente.
A CPLP tem uma presidência rotativa com um mandato que dura dois anos, para não ser dominada por um único país. Mas apesar disso, há quem afirmem que a organização é dominada pelo país mãis desenvolvido (Portugal) e o maior, e mais rico (Brasil). Da mesma maneira, a Comunidade de Nações (“Commonwealth”) que é a estrutura equivalente da “Anglosphere” (basicamente, a anglofonia) é alvo de críticas de quem veja todas as uniões intergovernamentais como símbolos do passado colonialista. Para mim, tais desequilíbrios são quase inevitáveis, mas não é motivo de desespero. Deve funcionar, isso sim, como um estímulo a trabalhar juntos para eliminar desigualdades e erguer os mais fracos ao patamar dos países desenvolvidos. É esse o sonho.
*I wrote “Compartilhado” in a couple of places but that’s a Brazilian thing and “partilhado” is more usual in PT-PT
** I wrote “sejam onde forem” thinking it meant “wherever they happen to be” but it was changed to “wherever they happen to be from”. I guess the reason for this was my poor verb choice. Sejam and Forem are both from ser, so you can use it in phrases havubg to do with where you are from since that’s a question of your identity. I probably should have written “estejam onde estiverem” since estar is the verb that deals with where you happen to be right now.
*** Talures kindly reminded me that there is another expression – PALOPs – which stands for Países Africanos de Língua Oficial Português, which covers this same group of countries. That’s definitely not what Ondjaki is talking about in the clip but it might be the origin of the confusion, I guess…?
**** The Oxford Comma is as much a pet peeve in Portugal as they are in the English-speaking world but I like them.
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