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A Semana Política – The Bad Old Days

A minha esposa enviou-me este vídeo durante o seu turno da noite. Faz parte de uma série de textos lançada pelo jornal Público para comemorar 50 anos de liberdade.

É um pouco fora do tema da semana mas convém lembrar de que existem políticos que trabalham dia após dia para fazer o relógio andar para trás e devolver o país àquela época. Dois dias atrás, partilhei um vídeo de um candidato do Ergue-te a elogiar Salazar. É um meme, sim, porque o homem é tão burro, mas também é mais do que um meme…

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Capitão Falcão

I’ve been trying to find a copy of Capitão Falcão on DVD for a while now but I’ve just found a free copy for download on the Internet Archive*. That’s a pretty respectable site, not a nest of pirates, so it appears to be legit. Anyway, can’t get it anywhere else, so I downloaded it. I couldn’t quite believe my luck. I’d have happily paid a hefty pile of cash for this but nobody wanted my money, apparently.

Anyway, here’s my review:

Este filme é incrível. Ouvi dizer que é um dos filmes portugueses mais engraçados de sempre e não mentiram. O protagonista é um militar (protagonizado por Gonçalo Waddington da série Odisseia) que é selecionado pelo General Gaivota para um novo cargo de super-herói e defensor do estado. O seu nome é Capitão Falcão e o seu auxiliar chinês é conhecido por Puto Perdiz. Os dois usam máscaras à moda antigo: ou seja, são máscaras que escondem a parte superior do rosto, não dessas máscaras cirúrgicas que cobrem a fuça.

Mas porque é que os protagonistas têm nomes de aves? Suponho que é uma referência aos super-heróis do passado. Quanto ao Puto Perdiz, a sua alcunha é parecido com a do Robin (o “Boy wonder”), da série Homem-Morcego. Mas existem ainda mais paralelos porque sem dúvida este filme trata-se de uma sátira daquele género de super-heróis. Os vilões riem-se em voz alta de modo exagerado, como o Doutor Evil do “Austin Powers”, por exemplo, e os métodos de interrogação gozam com as séries policiais duras.

Mas acima de tudo, acho que há duas personagens nas quais este filme é baseado: Primeira: O Besouro Verde** uma personagem americana que também usava mascara e também tinha um ajudante chinês (protagonizado pelo lendário Bruce Lee!). É óbvio que o seu “vibe” (como dizem os jovens) é cem por cento o do Besouro Verde. Mas mencionei a série no Insta e a minha amiga Olga respondeu com uma segunda personagem: “Major Alvega!”

“Hum, o quê? Diz lá, quem é esse Major?”

Major Alvega, também conhecido por “Battler Britton” era um piloto da RAF (Força Aérea Britânico) que estreou na revista Sun*** em 1956 e depois mudou-se para Portugal mas naquela altura a ditadura nacionalista exigiu todos os heróis terem nomes portugueses, e foi assim que nasceu o Major Alvega****. Este vídeo dá mais informações. É evidente que o escritor do diálogo é consciente do legado do Major Alvega porque há uma cena numa prisão onde Capitão Falcão perguntou a um homem como se chamava. O homem respondeu que antes de ser preso tinha sido um major. “Major Al…. ah ah ah… Major Alberto”

Enquanto o Major Alvego assumiu um nome Salazarista, Capitão Falcão é um servidor do próprio Salazar, porque o filme tem lugar nos anos sessenta e os criminosos são liberais, ateus e comunistas. Pior ainda, “São comunistas e ninjas…. Comuninjas”

This should give you a pretty good flavour of it! (Don’t worry though, that blaring music doesn’t play all the way through – it’s much easier to understand than this!)

*If you also need subtitles, try these

**Green Hornet in english, but Besouro means beetle, not hornet

***Yes, a now defunct magazine, not the still existing paper

****Confusingly it seems that when Major Alvega was turned into a TV series it was sold back to anglophone audiences with a totally different name: Ace London!

Once again I’m indebted to Cristina of “Say it in Portuguese” for correcting the errors in the original draft

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Enquanto Salazar Dormia…

I’m off reddit these days so I’ve gone feral and all my book reviews for the time being are going to be accompanied by the #uncorrectedportugueseklaxon This one is “Enquanto Salazar Dormia” by Domingos Amaral

Este livro é muito interessante. Já sabia, antes de ler, que Lisboa era um covil de espiões mas quanto mais o enredo desenrolou, mais achava que precisava de mais informações, portanto ouvi um outro audiolivro (em inglês) sobre esta época. Com este como pano de fundo, esta história tornou-se mais viva, com tantas referências à história verdadeira da segunda guerra mundial.

Há imensas cenas de sexo rebuscadas, e cada vez que uma mulher entra no âmbito da história, o narrador avalia o tamanho e a aparência dos seios dela o que se tornou irritante depois de algum tempo, mas apesar disso a história é divertida.

Vacilei entre 3 e quatro estrelas mas acabei por dar 3 porque o desenlace roubou tanta emoção dum filme alheio (o Casablanca, que também aparece na capa) e achei este truque um pouco preguiçoso.

Thanks to Cristina for the corrections

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A Revolução dos Cravos

Hoje, lembramo-nos dos membros das forças armadas que derrubaram o governo salazarista, devolvendo a Portugal a sua liberdade. Logo depois, as guerras em África terminaram*. Foi um processo penoso mas durante os anos que se seguiram, aquele ato de coragem por parte dos militares melhorou as vidas de milhões de pessoas e foi realizado quase sem derramamento de sangue – apesar de elementos da DGS terem aberto fogo sobre a população a porta da sede da PIDE. Quem me dera que mais revoluções fossem assim tão pacíficas e eficazes.

A propósito, durante os meses iniciais de aprender português, ouvi esta frase num podcast mas percebi “A Revolução de Escravos” que faz sentido até certo ponto. Já sei que “de escravos” não seria gramaticalmente correto mas para mim, um jovem de quarenta-e-tal anos, sem experiência neste mundo confuso de gramática portuguesa, nem sabia melhor.

*i wrote “foram levadas ao fim”, trying for “brought to an end” but I think it has more a sense of “carried to their end”, which is pretty much the opposite of what I was aiming for!

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Álvaro de Copos

Ontem, escrevi um texto sobre Humberto Delgado, o “General sem Medo”. Na mesma altura, os aderentes da outra ideologia extremista, o comunismo, alcunharam-no de General Coca-Cola, troçando dele por ser um fantoche da OTAN* e dos EUA.

Mas décadas antes disto, tinha havido mais uma história interessante sobre a bebida e a reação portuguesa ao capitalismo americano. A Coca-Cola foi lançada no mercado português em 1927. Naquela altura, Fernando Pessoa era um escritor comercial além de ser um poeta (ou melhor “além de ser muitos poetas”) e escreveu um slogan para a marca: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”**. É um bom slogan, mas implica algo sobre o produto cujo ingrediente principal era basicamente cocaína: era muito viciante. O governo de Salazar já pensava em proibir o refresco, mas o slogan confirmou a decisão. Foi banido durante o resto da época da ditadura e não foi vendido no país até 1977, quando Mário Soares, então primeiro ministro da República, negociou um empréstimo de 300 mil dólares.

A cronologia é confusa: uma página tem uma imagem do Soares a apertar a mão do Presidente Ronald Reagan, mas Reagan passou a ser presidente em 1981. Os motivos também são confusos. Uma página deu impressão de Pessoa ter tentado derrubar o governo Salazarista com o slogan. Duvido disso. Suspeito que a maneira de contar a história depende do escritor e da sua opinião de Pessoa e do capitalismo americano. Pessoa escreveu um slogan para a marca. Então, isto significa que ele gosta da bebida? Ou que foi um ato de sabotagem? Salazar baniu-o porque era anticapitalista e queria proteger as empresas nacionais? Ou porque foi um capitalista que cedeu sob pressão do poeta? Os comunistas falam mal da Coca-Cola porque é uma ferramenta do capitalismo ou porque preferem o Compal?

*OTAN is NATO in portuguese but NATO is often used just because that’s the standard way of writing it and, after all, it’s an international organisation.

**How to translate this? The “-se” pronouns effectively make the verbs able to be used without an object, and the two verbs are cognates of “estranges” and “entrances”. First it estranges then it entrances… Hm, it doesn’t sound idiomatic does it? First it seems weird, then you’re hooked. Something like that is probably better.

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Humberto Delgado

Humberto Delgado

Humberto Delgado foi um marechal da Força Aérea, conhecido como “o general sem medo” por causa da sua coragem na oposição ao regime Salazarista. Mas a sua carreira seguiu um caminho rumo de altos e baixos* da cena política do século XX. O marechal participou no movimento militar de 1926 que suplantou a República parlamentar com uma ditadura militar que daria lugar ao Estado Novo poucos anos depois. Delgado participou neste movimento com entusiasmo, criticando tanto os republicanos quanto os monárquicos, apoiando as políticas do novo estado e escrevendo um livro sobre (A) Pulhice do Homo Sapiens e a necessidade da liderança de Salazar. Elogiou Hitler, não só no início do seu regime, mas durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial.

Mas, no decorrer daquela guerra, a simpatia do marechal passou para os Aliados. Eh pá, mais vale tarde do que nunca. Apesar do Estado Novo ser neutro durante a guerra, cooperou, até certo ponto, com os aliados. Humberto Delgado representou Portugal em vários projetos, incluindo a instalação das bases áreas nos Açores que ainda existem nos dias de hoje.

Após a guerra, continuou a sua obra em vários cargos no governo, no serviço diplomático e na OTAN.

Em 1958, candidatou-se nas eleições contra o candidato do regime, Américo Tomás, tornando-se o foco da oposição ao Estado Novo. Recebeu um nível esmagador de apoio público, mas surpreendentemente perdeu, tendo recebido apenas 23% dos votos, o que levantou suspeitas de fraude eleitoral. No ano seguinte, Delgado pediu asilo político no Brasil por causa das ameaças dos seus inimigos políticos.

Convencido de que o regime não poderia ser derrubado por meios democráticos, o marechal deu apoio à ação revolucionária, incluindo a Revolta de Beja em 1962. Tentou regressar ao país em 1965 mas foi assassinado pela PIDE perto da fronteira com Espanha**. Foi enterrado em Espanha onde permaneceram os seus restos mortais até 1975, quando foram transferidos para o Cemitério dos Prazeres em Lisboa.

*The highs and lows – this is a fixed expression.

**It was pointed out that, since Portugal only has one country on its border I could drop the “com Espanha” here. I’ve left it though, because I’ve said he was in Brazil. I guess it removed ambiguity about whether he was killed early in his journey, after setting off from a border town in Brazil or something, but this is good advice in most scenarios, I think.

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Maria E Salazar – Opinião

“Maria e Salazar” de Robin Walter, é uma banda desenhada. Trata-se de uma biografia duma portuguesa, mas também conta a história duma época na história de Portugal.

A estrutura do livro lembrou-me de um outro livro chamado “Maus” de Art Spiegelman, porque ambos são contados por um escritor que é um protagonista no livro. Fala com o narrador (o pai do Spiegelman e um empregado da família de Robin Walter) que descreve a sua experiência de vida numa ditadura. No caso de Maus, o pai de Spiegelman era um judeu que viveu na Alemanha nos anos 30. Por outro lado, fosse o que fosse, o Estado Novo nunca atingiu o nível de terror abrangido pelo nazismo, portanto, esta história é mais quotidiana. A Maria nao é uma refugiada, não era exilada ou presa. Saiu do país à procura duma vida melhor, que é um direito de todos nós seres humanos. Acabou por viver num “bidonville” (“bairro de lata”) em França. Muitos outros portugueses partilharam as suas próprias experiências: as saudades dos portugueses, fora do país por motivos económicos ou para afastar-se da guerra em África, e a dupla identidade dos filhos, que se sentem portuguses e franceses ao mesmo tempo.

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A Grande Exposição do Mundo Português (1940)

Here’s the transcript I’ve been trying to make of this imperialist propaganda video. I only managed the first 6 minutes. I might come back to it after the exam but I think the benefits I’m getting are pretty small for the time spent (about 3 hours and counting!) It’s interesting how I can pretty much understand the gist of the video but when it comes down to actually separating out the words, in their proper forms, the detail isn’t as simple to disentangle. Corrections from Sophia (thanks!) in italics


[00:00] Naqueles terrenos vastos e escaldados, que se estendiam entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, junto daquela praia do Restelo, donde largaram o século XV de Vasco da Gama, durante mais dum ano, milhares de operários, de técnicos e artistas portugueses, demolindo o feio para construir o belo, rasando o inútil para pôr em seu lugar uma verdadeira cinza de Portugal no passado e no presente. Ergueram um traje amorosamente esse prodigioso momento das nossas virtudes e do nosso préstimo foi a exposição do mundo português. A maravilhosa exposição foi inaugurada a 23 de Junho de 1940 pelo português mais digno de tal acto Senhor General Carmona, presidente da república portuguesa. E a seu lado estava o homem que a tornou possível; verdadeiro arquitecto de Portugal de hoje, novo e eterno, Salazar, e o ministro das obras públicas, engenheiro Duarte Pacheco a quem coube a honra a verificar. Assistindo o título de comissario geral Doutor Augusto de Castro, pelo engenheiro Sá e Melo e pelo arquitecto Cottinelli Telmo. Os antigos terrenos transformaram-se na soberba praça de império, com a sua fonte luminosa e os seus jardins. De todos os lados* se erguiam pavilhões de risco sobre e digno de uma originalidade e um gosto incontestável. Os olhos deslumbravam-se com as perspectivas imprevistas, com a pureza das linhas, com o equilíbrio deslumbre. Ao cinema português, cumpria pular no tempo e no espaço magnifica fixando-a num filme que servisse para matar as saudades dos que a viram e para a mostrar aos que não puderam vê-la. Foi o que o cinema procurou fazer, lamentando não dispor mais amplos recursos que permitissem traduzir fielmente a par das formas a cor, a alegria e a imponência da exposição de Belém.

[03:20] Todas as inúmeras obras da arte que impunham não eram unicamente feitas de matéria. Também eram feitas do espírito e tinham a alma, a própria história de Portugal. E essa história, a mais velha de todas foi novamente contada ao povo por meia de alegorias e de findo os mais grandiosos era sem dúvida o momento ao Infante Dom Henrique autêntico padrão erguido ao génio da raça. Nós demos ao mundo novos mundos. [corte?] Lembrava aos visitantes uma das legendas da pavilhão de honra. E o interior do pavilhão em redor de um átrio decorado com as bandeiras de todos os municípios portugueses, continha uma sala de recepção ornada de tapeçarias de alto preço, uma sala de honra onde se evocavam as mulheres celebres da tradição portuguesa desde a padeira de Aljubarrota a oração mariana, um teatro de concepção moderníssima

[04:20] Ao lado do pavilhão de honra e fazendo corpo com ele para melhor honrar e destacar a capital do império erguia a sua alta torre o pavilhão de Lisboa. Um dos seus mais velhos aspectos exteriores é o pátio em que um baixa-relevo estilizava a arquitectura em presépio da cidade rainha do ocidente. O átrio do pavilhão de Lisboa foi consagrado a São Vicente, patrono da capital em cujas armas figuram os dois corvos heráldicos do santo.

[05:00] Ali estava a grade que durante quatro séculos serviu de porta a umas das capelas da Sé. Um cofre guardava o Foral de Lisboa purgado em 1179 por Dom Afonso Henriques. Dois trípticos evocavam o cerco e a tomada de Lisboa aos moiros** e o pintor, exemplo dos antigos, emprestou às figuras as feições de alguns distintos Olisiponenses***. A evolução do aspecto da cidade podia seguir-se através de gravuras paneis de azulejo e de modelos reduzidos, cheios de verdade.

*=I originally heard this as “no topo dos gelados” and couldn’t for the life of me, un-hear it afterwards

**=alternative spelling of “mouros”

***=seems to be a fancy-pants way of saying “lisboeta”

https://www.youtube.com/watch?v=2QdO6sXEoTI

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Salazar – Agora, na Hora da Sua Morte

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Este livro é uma biografia de Salazar. O ditador outrora de Portugal está perto da morte, a assistir a sua própria vida que desenrola-se como um filme ou um sonho.

Adoro a atmosfera alucinatória das imagens, que combinam desenhos, propaganda da ditadura e fotografias, mas fico frustrado por não saber o suficiente sobre a sua carreira para ser capaz de distinguir ficção de facto, sonho de realidade, biografia de opinião política. Porém, acabei com a ideia que os autores acreditam que o ditador tinha altos ideais para fazer crescer a economia do país e melhorar a alma do povo, mas sob a superfície era tudo apodrecimento, violência e receio. O capítulo mais poderoso, na minha opinião, trata d'”A Lição de Salazar”, a série de 7 cartazes ilustrando as valores do novo estado tal como a vida bucólica, comunidade, poder militar, respeito pelas autoridades. Depois de cada cartaz, os personagens da imagem mudam, tornam-se mais sombrios. O pai da família ideal torna-se ameaçador e bate a mãe, enquanto as crianças encolhem-se nas cadeiras. Entretanto, na casa do povo, homens discutem opressão até às polícias chegarem. A contraste entre a retórica e a realidade está muito bem feito.

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Citação*

Quem vende a liberdade em troca de segurança não merece nem liberdade nem segurança
Ben Franklin

I wrote this o iTalki after a (to me) somewhat surprising exchange with a Portuguese teacher who told me that Salazar was pretty good, rightfully still popular (for example….) and that if he were still in charge, everyone would be better off. Furthermore, the captains who deposed him in the Revolução Dos Cravos should have been locked up.

Discussing this opinion with other portuguese people, one said it was commonly held among less educated people (like voting Trump, like supporting Brexit…) and another said “replies “OMG a juventude de Portugal está perdida”

 

*=I originally wrote “cotação” which does mean “quotation” but in the sense of an estimated cost.

 

Muito Obrigado a Sofia, Natan, William pela ajuda