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Asterix Na Lusitânia – Opinião

Adoro esta série de bandas desenhadas e estou muito feliz que os nossos heróis, Astérix e Obélix chegam finalmente na província romana de Lusitânia. A sua missão é libertar Malmevês, um empresário de garum (uma espécie de molho de mariscos) e o pai da Saudade, (uma mulher pela qual o Obélix está caidinho, embora não admita!). O Malmevês está preso numa cadeia romana porque é suspeito de um atentado contra o imperador, mas os gauleses espertos sabem descortinar o verdadeiro assassino, disfarçando-se como Tugas para entrar sem ser capturado.

Ainda bem que não havia partidos políticos da extrema-direita porque às vezes os visitantes ajudam muito.

Como sempre, os habitantes da terra onde a história tem lugar têm as características dos atuais habitantes do país moderno: comem bacalhau, construem calçadas mosaicas e cantam poemas tão melancólicas que quem os ouve desata logo em lágrimas.

Apesar da morte dos criadores, Goscinny e Uderzo, a série retém o espírito dos livros originais: humor, otimismo, alegria e inteligência.

Astérix na Lusitânia: Wook

Pois é, mas como se pronúncia o nome do tipo?
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Sal – João Andrade e Luís Buchinho

Sal - João Andrade e Luís Buchinho

Esta banda desenhada conta a história de uma rapariga madeirense, de uma família em crise, que foi levada para uma casa de acolhimento. Os quadrinhos são bem desenhados. É super fácil entender quem está a falar e o que é que está a acontecer. Em sumo, a execução da história é bem realizada. Quanto à história, tenho algumas dúvidas sobre como funciona o sistema de apoio de crianças. Tendo trabalhado neste ambiente no passado, parece-me pouco provável que um trabalhador de proteção de crianças tenha o direito de simplesmente encostar o carro na rua de um menino e dizer “entra no carro” como acontece neste livro. Ainda por cima, o comportamento dos empregados na casa de acolhimento é pouco profissional… Eu sei que cada país tem as suas normas mas… Uau, fiquei surpreendido com as palavras que usaram, e a falta de respeito para a privacidade das crianças. Não é abuso, nada disso, mas também não é muito simpático. Mas talvez este especto faça parte da história. Infelizmente não sei como os autores vão desenvolver este fio da história porque este livro é apenas o volume 1 de uma série, o que não é evidente pela capa, mas ainda assim, é, mesmo. Então, vai haver mais no futuro, mas esta parte tem uma conclusão satisfatória da primeira fase da nova vida dela, portanto não me deixou frustrado por não completar a história.

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A Couple of Interesting Things Happening in London, One of of Which Might Not Be Happening, Who the Heck Knows?

Just by pure chance I heard about another two Lusophonic Occurrences here in London this week.

One is the Utopia Film Festival, which started yesterday and goes on till the twelfth. The films look quite serious and not exactly entertaining but if I can shake the lurgy, I might go and see one towards the end of its run.

And the other is a weird one. It’s a brand new international Portuguese literary festival in London, on Saturday the 7th. But hang on, haven’t we already had a brand new international Portuguese literary festival in London, FLILP, in June this year? I mean, I’m grateful for all these international Portuguese literary festivals you’re bringing to my town, but there must be other towns and other countries that need brand new international Portuguese literary festivals!

Anyway, it’s called Letras Lusas Em Londres and it was organised by Alcino Francisco, who I actually met and spoke to at FLILP in June, where he was one of the guests, and bought a copy of his book.

It’s surprisingly hard to find details of the festival though. I can see a few people on Insta refer to it, and even an interview with Alcino himself, but I can’t find an official account for the event on Insta. Alcino Francisco’s own Instagram account is dormant. If I Google the name of the festival, there’s a Facebook page right at the top of the ranking, but when I click on the link I land on some random video clip, so I think the page was deleted. This news article describes it, but there are two links to the organisers’ websites and both of them are deadlinks.* I can see there’s a reasonably full list of guests on this page, but nothing like this glossy publicity materials FLiLP put out in the run-up to their launch. It’s all weirdly hush-hush really. I dug around all over the place. I found another blogger who had done a couple of posts about it, so he must be better informed than I am, but, again, I’m not seeing anything linking to some central place on the Web where the organisers have set out a programme, or what to expect or… Well, anything really. The woman who put together FLiLP seems much better organised, as well as… Ahem… More original.

An old friend of the family has suggested we go together but even if I wasn’t full of cold germs, I don’t think I’d want to trek over there because I’m not even sure it’s actually happening. That’s how bad the lack of information is.

*By the way, it also contains the phrase “@s leitor@s” which almost made me want to take Solanium’s example and learn Spanish instead.

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A Viúva – José Saramago

Pela segunda vez neste mês, encontro-me sentado à mesa a escrever uma opinião sobre um livro mas com mais vontade de escrever sobre as circunstâncias da leitura em vez do seu teor.

Deixem-me explicar: este é um Audiolivro mas li-o na aplicação da Bertrand e a app da Bertrand é um verdadeiro monte de merda. De vez em quando, fecha-se inesperadamente e quando se reabre, a app esqueceu-se de onde ia. Isto aconteceu centenas de vezes.

Como resultado, li grande parte do livro mais do que uma vez, provavelmente saltei uns parágrafos e perdi (a) o fio à meada e (b) a minha vontade de viver.

Nada disto é culpa de Saramago, mas ainda assim, responsabilizo-o por ter escrito um livro que acabou por me causar tanta dor. Passou a ser o meu inimigo.

O livro não é típico da obra dele. Escreveu-o em 1947, e foi publicado sob o título d’A Terra do Pecado. O estilo idiossincrático de Saramago não se tinha ainda desenvolvido. O enredo, as frases e a voz autorial, todos fizeram-me lembrar dos poucos romances do século XIX que já li. Um Eça de Queirós ou um Camilo Castelo Branco.

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Sentinel – Luís Louro

Convém lembrar que ninguém consegue trabalhar sem pausa. Prescindir de descanso aumenta os níveis de stresse até estarmos prestes a saltar pela janela fora. Dito isso, a não ser que estude, vou chumbar no exame e logo vem aí a depressão, o sofrimento e a vergonha.

Tendo em conta estas duas conclusões desoladoras, larguei as canetas e, a partir da 1h30 da manhã do Domingo, escovei os dentes e deitei-me na cama com uma banda desenhada portuguesa. Pus-me a ler.

O Sentinel é a sequela do Watchers e é igualzinho: tem desenhos giros de uma Lisboa realista, no sentido de ter prédios, lojas e ruas idênticos à cidade verdadeira, mas também irrealista com elétricos voadores, e “bichinhos” (mini-girafas, hipopótamos pequeninos, elefantes de bolso) por todo o lado e árvores a irromper pelos telhados. Esteticamente, lembra-me de mais uma BD, a “Dog Mendonça e Pizzaboy”, que tem a mesma mistura de realismo, magia e humor.

Sentinel Luís Louro

O artista também tem o seu lado galhofa, como pequenos pormenores engraçados escondidos nos cantos dos quadrinhos. É claro que Luís Louro nasceu para desenhar BDs. Tem um jeito incontornável.

Então, que pena que a história não tenha pés nem cabeça.

Encontramo-nos num mundo futurista, em Lisboa, algum tempo depois dos eventos do primeiro livro. Os discípulos do “Sentinel” querem continuar a sua interpretação da sua missão por… Ora bem, não me lembro bem o primeiro livro, mas mexem nas vidas das pessoas com os seus drones de espiam-nas com as suas câmaras em prole da sua ideologia patética. Em suma, é uma chatice.

Certo dia a esposa de um homem morto no primeiro livro decide consertar o seu coração despedaçado por vingando-se da memória do Sentinel. Saca uma arma (De onde? Como? Sabe-se lá!), calça um fato de girafa (De onde? Como? Sabe-se lá!) e aprende as competências de um espião ou um agente do Serviço de Informações de Segurança* (DO? C? S-SL!). Em breve, mete-se em sarilhos mas conta com a ajuda de um bandido ucraniano que ela encontra durante um assassínio de um discípulo. Basicamente dá por ele porque está a tentar dar cabo de uns criminosos. Salva-lhe a vida. Ele quer retribuir o favor. A sua deformação profissional é exatamente o que ela precisa para continuar a matar os pilotos dos drones.  Durante este tempo todo há uma espécie de coro grego na forma de mensagens numa rede social qualquer. Adoro isto. Não devia funcionar mas funciona mesmo contrariando todas as leis de Deus e do Diabo**.

Infelizmente, a vingança é um beco sem saída. Por fim, ela assassina um inocente a tiro e pinta o símbolo dela na parede com o seu sangue. Os dois ficam presos e temos de enfrentar a reviravolta mais rebuscada e mais parva de sempre.

Quando sair o terceiro tomo, espero que o autor largue as citações cinemáticas (bué cringe) e adicione mais uma semana de reflexão sobre o enredo e o diálogo, porque com mais investimento de tempo pode criar algo verdadeiramente impressionante.

*I should have just written it SIS but since it was followed by a string of abbreviations I thought I’d spell it out in full. Portuguese MI5, anyway.

**I originally wrote “de Deus e do Homem ” (all the laws of god and man!) but this is the actual expression, apparently. I was just being lazy and translating literally.

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A Educação Física – Joana Mosi

Joana Mosi - a Educação Física

Gostei d’O Mangusto, mas o livro mais recente da mesma autora é uma desilusão. Não havia nada que me agarrou. As personagens não me interessaram, não havia um enredo, nem diálogo divertido e é tão mal desenhado que muitas vezes eu nem sequer sabia quem estava a falar.

Se este livro tivesse algo que pode ser chamado “um enredo”  seria sobre um grupo de mulheres que combinam ir ao ginásio diariamente, mas na verdade, isso acontece pousas vezes, e a protagonista (se for possível dizer “este livro tem uma protagonista”) é chata. Não faz jus a nada, está a namorar com um homem casado, não tem sentido de humor nem qualidades notáveis. Não me lembro do nome dela, e quero lá saber.

Levou-me imenso tempo a ler.

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O Guardador de Rebanhos – Alberto Caeiro

Tendo lido um excerto deste conjunto de poemas de Alberto Caeiro (um dos Heterónimos de Fernando Pessoa), decidi ler o resto, para acompanhar uma das minhas sessões de fazer um puzzle e ouvir audiolivros. Existe uma versão no youtube que é ótima, mas não pago pelo serviço sem anúncios e… ora bem, basta dizer que a poesia soa melhor sem anúncios…

Os poemas descrevem a sua vida solitária, a escrever poesia para estar sozinho, e a cuidar os seus pensamentos como se fosse um pastor a guardar um rebanho no campo. A filosofia deste poeta está em sintonia com a ruralidade no seu redor: “penso com os olhos e com os ouvidos / E com as mãos e os pés” e sente-se maior quando vê um céu aberto do que quando está numa cidade, rodeado por prédios. Um poema que me marcou é o número XX que compara o Tejo com o rio que corre pela sua aldeia. Ainda que o Tejo seja belo, é mais famoso, ou seja, mais público, e quando as pessoas o veem, pensam na sua história e no seu percurso da Espanha para o Atlântico e daí em direção à America. Mas o seu rio é o seu rio e mais nada, e “quem está ao pé dele está só ao pé dele”.

Acabei por ouvir três vezes, e acho que a gravação do poema seria um excelente acompanhamento para um passeio ou uma hora de jardinagem

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Barco Negro

Amália Rodrigues

Acabo de ler o panfleto deste nome da autoria de Gabriele Giuga, sobre a obra de Amália Rodrigues, com ênfase na canção Barco Negro. É claro que o autor* tem melhores conhecimentos da teoria de música do que eu (o que não é grande elogio porque não sei nada). Ele escreve minuciosamente sobre a sequência de colcheias aumentadas e semicolcheias e ostinatos rítmicos e não sei mais o quê. Não entendo muito mas em suma, afirma que um fado bem escrito tem as suas sílabas dispostas de tal modo que não impedem o ritmo da música. Ou melhor, se for bem escrito, a letra terá um ritmo natural e quando é lido em voz alta, sugere a forma da música, ainda que as guitarras fiquem caladas.

Não sabia que este Fado tem raízes no Brasil. O original é chamado Mãe Preta escrito por Caco Velho. Tem um ritmo muito semelhante mas mais animado. A letra foi proibida em Portugal pela censura do Estado Novo, mas com uma letra de David Mourão-Ferreira (o criador da maioria dos fados mais famosos de Amália), o samba tornou-se uma canção de amor e o ritmo abrandou-se para ser mais adequado às casas de fado.

*apparently Gabriele Giuga is a dude. The e on the end of his first name really threw me. Thanks to Cristina for spotting this and other errors.

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O Poeta E O Social

O Poeta E O Social

Ao contrário da opinião anterior, não tenho muita coisa para dizer sobre este livrinho. Consiste em 40 teses mas realmente são 20 pares de epigramas mordazes, que comparam o papel do poeta com o do crítico da sociedade (ou pelo menos acho que é isso que ele quer dizer com “o social”).

Por exemplo:

Se o social chegou à fase adulta, o poeta ficou na infância.

Se o social não passou da infância, o poeta tornou-se adulto.

Parece que têm métodos e modos de viver que são diametralmente opostos mas sabendo algo sobre a carreira do autor, duvido que ele quer insinuar que um é melhor do que o outro ou que um deles não vale nada.

Nas últimas páginas há um “exercício” que é claramente uma piada e que dá para entender que o livrinho é uma espécie de brincadeira, o que não está nada mal. Confesso que me faltava de alguma coisa fácil depôs do último conto d’A Inaudita Guerra da Blábláblá.

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A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho

A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho

Este livro reúne seis contos que têm elementos de humor e do realismo mágico. São divertidos e cheios de surpresas. Já falei da história sobre o chimpanzé que digitou o “Menina e Moça”. São todos iguais. Loucuras e mais loucuras.

O último conto custou-me ler porque tem lugar no passado e com resultado é sobrelotado com palavras desconhecidas. Por exemplo, olha esta jóia:

Desconheço…

  • Torrão = pedaço de terra aglomerada.
  • Megera = mulher antipática
  • Atear = Lançar fogo, fomentar
  • Engrolar = Dizer ou fazer mal à pressa
  • Esconjuro = Exorcismo

E não tinha toda a certeza sobre

  • Soleira = limiar da porta*
  • Bento = abençoado

Nem sequer me lembro de há quanto tempo li uma frase com 5 palavras desconhecidas e 2 pouco-conhecidas. Sinto-me como um noviço.

Também quase gritei quando vi esta gramática.

Já agora, eu sabia, teoricamente, que a contração de “nos” e “(l)o” existia, mas nunca me tinha deparado antes com tal coisa. Ainda por cima, o substantivo ao qual se refere o “lo” é o “castigo”** mas há nada mais nada menos do que três substantivos femininos intervenientes. Que fonte de confusão! Perdi sono por causa desta frase, malta.

*it’s hard to even define this one without resorting to other hard words. It’s a doorstep though, mmmkay?

**In case anyone is reading this who is not a fan of pronoun ju-jitsu and can’t follow my explanation, the bottom line is that no-lo means “it to us” so it goes”…know how to accept the punishment […] to accept submissively the imposition of whoever gives IT TO US”. Oof.