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This Book Is Really Kicking My Bum

It’s Atirar Para o Torto by Margarida Vale de Gato. Just about every page brings me a whole crop of obscure vocabulary. It makes it hard to get absorbed in the flow. I underlined the mysterious strangers on this page because there were so many I couldn’t keep track. Some are obvious (“forçosamente”,”desdiz”), others I’d seen before but couldn’t remember (“frincha”) and others are total mysteries (“vesgo”). Outrossim looks like it’s combining ‘outro’ and ‘assim’ but it’s “likewise” (another one like that) rather than what I thought at first: “otherwise” (like something else entirely)

Even the title of the book was a mystery: “Atirar para o torto”. Torto can mean someone who has a physical deformity of some sort – they’re lame or cross-eyed – as in Que Mulher é Essa by A Garota Não, so I wondered in a vague way if she was taking about some sort of persecution of disadvantaged people. That wouldn’t be a great title for a poetry book though. “Para o torto” means something like “wide of the mark”, so if you threw something at me but your aim was way off, you could say you had thrown “para o torto”. So the book means something like “Shooting and Missing”.

Edit – I’ve been re-listening to old episodes of Say It In Portuguese and the word Torto comes up in this episode, so if you want to know more, have a listen.

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Herança de Sangue – Penina Baltrusch

Conheci esta autora no FLILP há três meses. Achei-a muito simpática e é evidente que a sua obra tem muitas fãs no seu próprio país (aqui está uma brasileira a falar sobre o mesmo livro, por exemplo).

O romance é um thriller, que se passa em Inglaterra, e conta a história de uma funcionária de um call centre inglês chamada Ella, que descobre que foi adotada e que é a herdeira de um milionário. Em breve, apaixona-se por um rico e os dois casam-se, mas nem tudo é como parece. Em breve, a sua amiga está morta, ela mesma quase morre num acidente de trânsito e durante a sua lua de mel, ela cai montanha abaixo. Então é evidente que há alguém que quer se livrar da nossa heroína. Mas quem?

A escritora escreve bem: o diálogo parece-me natural e a ação não pára*. Infelizmente, achei o enredo um pouco rebuscado. Os planos do antagonista não têm pés nem cabeça, e há vários outros aspectos pouco credíveis. Basicamente, a experiência de ler este livro não é nada má, mas deixou-me insatisfeito. Talvez um conhecedor deste género, que esteja mais acustomado à suspensão de descrença possa gostar mais.

*Strictly speaking should be “para” following the Acordo Ortográfico but it’s the least popular change in the AO for obvious reasons, and even people who usually take care to follow the new rules tend to rebel on this one. I feel like I’ve written about this before but I can’t find it now, so here’s a Ciberdúvidas article for anyone who isn’t familiar.

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Memórias Póstumas de Brás Cubas

Mais um romance exigente. Ouvi-o como audiolivro que me deu água pela barba, e não só água mas leite e sumo de laranja também. Não estou acostumado a ouvir sotaques brasileiros durante tanto tempo.

Brás Cubas conta a história da sua própria vida após o fim da mesma. Refere-se várias vezes ao Candide de Voltaire, e realmente este livro é do mesmo género. O ritmo é mais lento: enquanto o Candide corre de cena para cena, este anda em saltinhos, de um assunto para um outro, com pensamentos aleatórios, uns profundos, outros engraçados.

O livro foi traduzido por Margaret Jull Costa (tradutora das obras mais recentes de Saramago) e também ouvi a versão inglês para reforçar a minha noção do desenrolar da história, e ainda bem, porque não compreendi muito bem o que o narrador brasileiro disse.

Eu sei que este livro está muito na moda atualmente por causa do elogio de uma influenciadora americana, e não tenho a mesma opinião, mas vale a pena, sem dúvida.

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E O Céu Mudou de Cor – Israel Campos

Neste romance angolano, vemos o mundo do ponto de vista de um jovem que mora num país opressivo, que é ficcional mas é uma versão (se não me engano) da Angola atual. Embora o narrador seja o protagonista, o personagem mais interessante (para mim) é o seu primo, Mateus. Idealista e lutador, este jovem enfrenta a corrupção quotidiana e recusa aceitar os comportamentos e as cunhas que estão a enfraquecer o seu país. Na perseguição deste objetivo, o Mateus, o narrador e um amigo deles, encontram o Sr. Zé que quer levar a cabo uma mudança social. O narrador é mais novo do que o Mateus e não entende perfeitamente o que está a acontecer ao seu redor.

Com humor e emoção, o autor lança uma crítica contra vários aspectos do sistema social. Claro que não conheço o seu país suficientemente para julgar quão exato seja esta crítica, e é muito provável que tenha perdido algumas coisas, mas foi interessante vislumbrar o mundo pelos olhos do seu protagonista.

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Vinil Rubro – Mário Freitas e Alice Prestes

Vinil Rubro

Coloquei este livro no cesto enquanto estava a a buscar um livro de que precisava. Fiquei desiludido. Gostei da arte, mas não tem uma história. Quanta história é que um criador é capaz de contar em 16 páginas? Ela está sozinha em casa com saudades de alguém? Pois, acontece, mas não há mais nada e o álbum deixou-me insatisfeito.

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Neon – Rita Alfaiate

Recebi esta BD como presente de uma amiga e comecei a ler quase de imediato.

Conta a história de uma rapariga que vive com o seu cão robô numa cidade quase vazia. A única outra pessoa que ela encontra no seu dia-a-dia é uma empregada do supermercado onde ela faz as compras. A autora faz com que a cidade inteira exista só para ela.

Há pouco diálogo mas a arte é incrível, e adoro como ela usa variações no estilo artístico para sinalizar as emoções da protagonista ou o “tom” da cena. Por exemplo, à volta da página 70, temos uma série de imagens embaciadas em preto e branco, uma que parece um desenho de um livro infantil, e uma muito realista, que espelha os sentimentos de pânico, isolamento e revelação quando ela vai à procura do cão e acaba por encontrar o cinema ao ar livre.

Adorei este álbum e irei procurar mais livros desta autora durante a minha próxima estadia em Portugal.

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Memórias Póstumas de Braz Ucas

Passei algum tempo durante o fim-de-semana no jardim da minha mãe, a arrancar ervas daninhas e a ouvir o audiolivro clássico brasileiro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” mas achei-o difícil por causa do sotaque e porque os primeiros capítulos contêm montes de referências literárias e históricas. Enfim, decidi ouvir a versão inglês em paralelo. Alguns capítulos em português e depois os mesmos capítulos em inglês, para remendar os buracos no meu entendimento.

Infelizmente, a versão inglês é a versão grátis do Spotify e é horrível. Acho que foi gerado por “inteligência” artificial com reconhecimento ótico de caracteres. A voz soa humana mas vai lendo erros no texto, tipo “AU” em vez de “All” e assim por diante . De vez em quando, ouvimos um número de uma página, lido em voz alto ou um título numa outra língua qualquer. Acho que seria mais fácil ouvir a versão brasileira sem batota!

O erro que mais me irrita é quando a voz artificial traduz um verbo com o pronome indefinido “se” (veja este blogue como referência dos usos de se em situações impessoais). Seria praticamente impossível descrever precisamente de que modo é que a “inteligência” artificial falha, mas basta dizer que é uma desgraça. Estou a pensar em comprar a versão do Audible, traduzida pela estimada Margaret Jull Costa e lida por um ser humano qualquer. Custa sete libras mas tem de ser melhor.

Por acaso, tenho um trabalho de casa que foca na posição dos adjetivos (antes ou depois do substantivo) e o livro contém este ótimo exemplo:

Tanto quanto sei, o significado é “I’m not an author who has died but a dead man who has become an author”. Daí, (como se explica logo a seguir) a sua campa é o berço do seu estado atual

O livro está muito na moda nos dias que correm por causa de um vlog americano (veja vídeo infra) mas tem estado na minha TBR há meses e estou super-entusiasmado por me gabar de o ter lido em português. Toma, monoglotas*!

*I originally wrote Chupa (Suck!) instead of Toma. Chupa sounds incredibly rude in English, but appears not to be quite as rude in portuguese. Or rather it definitely can be rude in certain contexts, and it’s always fairly uncouth, but when people say “Chupa, Dinamarca” or whatever, after a football game they are just gloating, not making an obscene suggestion, at least according to Priberam.

interjeição

5. [Informal] Indica satisfação, geralmente em relação a uma derrota ou um revés de alguém. = TOMA

“Chupa”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/Chupa.

But I asked around and I think the feeling was that it was a bit too spicy and I should de-escalate the situation by using Toma instead. In both cases, they’re interjections. Toma doesn’t really change even if you’re taking to a whole group of people “Coloquei ananás nesta pizza. Toma, italianos!” but with Chupa it seems to be more of an open question whether you say “Chupa italianos” or “Chupem italianos” (ie, conjugate it as a plural imperative because you’re addressing multiple Italians). In the kinds of situations you are saying these types of things, the niceties of grammar are often among the first casualties.

Well, that was an interesting diversion!

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The Walking Dead

Acabo de ler o décimo nono episódio da banda desenhada The Walking Dead. O primeiro foi um dos primeiros livros portugueses que li por completo, e achei-o um método genial para aprender português idiomático. Ainda recomendo que novos leitores experimentem BDs antes de enfrentar um romance.

Infelizmente, a editora Devir deixou de publicar a série após o volume 14 e depois nós leitores tivemos de mudar para a versão brasileira. Confesso que acho um chatice ler tanto calão brasileiro e tenho saudades do meu mundo perdido: Os EUA pós-apocalipticos à portuguesa!

Mas não desesperes! Há uma luz na escuridão! Segundo o site bandasdesenhadas.com, a editora voltará a publicar novos livros. Esperam completar o conjunto em 2025. Fico muito feliz e antecipo ler os próximos volumes em breve.

The Walking Dead 19
Even if you don’t know any portuguese, you can pretty much guess what they’re saying here and none of it is about flowers or kittens.

Entretanto, o Rick carioca não deixa de ser interessante. Este episódio conta a história da aliança entre as três colónias*: Hilltop, O Reino e… A outra cujo nome me escapa… Juntam-se para entrar em guerra contra o grupo de Negan. Ouvi dizer que o Negan se torna um aliado do Rick na série mas é quase inacreditável porque na BD é praticamente o diabo! De qualquer maneira, a ação neste livro é incrível, com poucas páginas perdidas em coisas de telenovela. Acho que é o melhor da série até agora.

Li este livro no app Kobo no meu telemóvel mas não recomendo, porque fiquei com dores na vista. Antes, experimenta o Wook e começa no início!

*I originally wrote “povoação” which I think would normally be used for population, as in “the population of the UK is increasing by 1% per year due to net immigration” but can also sometimes mean a village or settlement (the actual word I was trying to translate) according to Priberam, but it seems povoado is a more natural word, but apparently in the TV series they are referred to as colónias – eg here (but it’s Brazilian so uses a circunflexo)

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Perguntem a Sarah Gross – João Pinto Coelho

Perguntem a Sarah Gross ' José Pinto Coelho

Perguntem a Sarah Gross é um romance que gira à volta da protagonista, que (já adivinhaste?) se chama Sarah Gross, e uma outra personagem, Kimberley, que narra os acontecimentos em Connecticut. A ação abrange décadas e continentes diversos, e a narrativa vai saltando entre a Polónia nos anos vinte do último século e os EUA em 1968-9, e aborda os males de nazismo e do racismo dos Estados Unidos na era da luta pelos* direitas civis dos cidadãos negros.

A Sarah é uma protagonista com um espírito indomável mas também tem um segredo escondido no seu passado, que vem a ser desvendado com o desabrochar dos eventos da história.

Perguntem a Sarah Gross está disponível como audiolivro para quem quiser ler com os ouvidos!

*Good example of a context where, as an english speaker you (or at least I) would naturally be inclined to write para

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A Noite – José Saramago

A Noite ' Saramago

A Noite é o… Hum… Sétimo Livro de Saramago que já li, mas é diferente dos outros porque é uma peça de teatro. A ação passa-se no escritório da redação do Jornal de Lisboa nos anos setenta. Durante o primeiro ato, conhecemos as personagens, os seus cargos na empresa e as suas atitudes face ao governo de Marcelo Caetano. Um rádio está a tocar em* pano de fundo. Após algum tempo ouvimos “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho, e começamos a perceber (se ainda não soubéssemos) em que noite especifica a peça é passa-se. Mais tarde ainda, a abertura do “Grândola Vila Morena” toca, o que causa o editor do turno de noite gritar “Desliga-me isso” e as luzes apagam-se, deixando o palco na escuridão.

No segundo ato, os jornalistas ouvem os boatos da revolução que está em curso, e tentam averiguar os factos. Uma clivagem abre-se entre os apoiantes do regime (principalmente os gestores, o editor e o diretor) e os socialistas (os trabalhadores na sala de impressão**, alguns jornalistas) que vêem com entusiasmo a ditadura a chegar ao fim.

O caos daquela noite é muito bem ilustrado, e o autor também retrata as divisões no país daquela época pelo exemplo de uma empresa cuja estrutura espelha a estrutura da sociedade. Para mim, o pior do livro é o desfecho: achei o coro de vozes demasiado óbvio, como se fosse uma propaganda, mas suponho que, da perspetiva de 1979 (quando a peça se estreou) era importante defender a liberdade, contra quem ainda tinha saudades da PIDE, e talvez seja por isso que às últimas 2 páginas da peça faltam uma certa sutileza visto por gente moderna!

*Em, not no. In background, not in THE background

**A Gráfica would also work for print room

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