Finalmente acabei de ler este calhamaço de 666 páginas! É um thriller que tem lugar em Portugal e nos Estados Unidos, entre 1986 e 2017. Como a maior parte dos thrillers, este é de leitura fácil, com poucas palavras difíceis, e um leitor não-nativo não se perderá num labarinto de cláusulas. O enredo também é simples. Mas… Ora bem, é simples mas não tem pés nem cabeça. Claro que muitos thrillers e policiais têm enredos rebuscados mas suspendemos a nossa incredulidade com a ajuda do autor. Se a bolha de confiança rebenta, está tudo perdido. Para mim, esta bolha rebentou com dez milhares de agulhas.
Por exemplo (aviso: a partir daqui, haverá spoilers):

Não acredito por um instante que a Levi* ficasse presa, apesar da sua confissão. Ela era uma adolescente que tinha sido drogada por alguém e que não tinha memória das suas ações. As pistas (o sangue, a sua altura não ser suficiente) indicam que não podia ter cometido o crime, e havia um segundo assassínio na mesma noite, aparentemente cometido pela vítima dela. Não serão estes indicadores de que há algo mais complicado em causa? E a família é rica; recuso-me a acreditar que não conseguiram contratar um advogado capaz de lidar com este cenário ridiculo.
O enredo depende de muitas pessoas não serem capaz de identificar os seus próprios familiares. As duas vítimas não são quem toda a gente acham que sejam, ainda que a filha de uma tivesse confirmado e (presumo) o médico legista tivesse examinado a outra. Que raios?
Há duas pessoas que sabem bem que a Levi é inocente, porque ambos sabem o que o pai planeara, mas nem uma das duas interveio, apesar de ambas terem motivos para a ajudar. Uma dessas pessoas (Chefe Ditmas) explica a sua motivação, mas não é psicologicamente satisfatória. Tens uma obrigação para o teu amigo morto, pá, mas não te importas se a filha dele for para a cadeia durante 8 anos? És burro? E a segunda pessoa é o namorado dela, que preferia deixar a sua namorada inocente na cadeia como um bode expiatório em vez de confessar as suas próprias ações na noite em questão. Que cobardia. E após passar tanto tempo na cadeia por culpa dele ela fica com o mesmo gajo? É a personagem mais parva de sempre!
Afinal, a prova da falta de confiança, por parte do autor, no seu enredo é que nem a Levi, nem o seu namorado, que matou o pai dela, têm mais do que uma mão cheia de diálogo. Claro que o Tordo sabe bem que, se explicassem as suas motivações ao narrador no último capítulo, o leitor veria nitidamente quão absurdo era o que acabaram de ler.
(Mas tem 4.2 estrelas no Goodreads. Talvez seja eu a única pessoa que tem esta opinião negativa 🤷🏼)
*Not a mistake. Levi is female even though it’s more typically a boys name.
Thanks as ever to Cristina for splatting my errors.
And also thanks to the publisher, Companhia das Letras, for leaving a couple of typos in the text for us to find. I always love finding these because it makes me feel like an expert. Here’s one.

In the unlikely evebt that you still want to read the thing after reading my hatchet job, you can score a copy from Wook.


