A canção escolhida pelo público do festival da canção deste ano, que vai representar o país na* Eurovisão, é o “Grito” de Iolanda. É assim-assim: melhor do que os mais recentes mas não chega aos calcanhares de “Amar Pelos Dois“. Mas não sou crítico de música, portanto não vou falar mais sobre assuntos que não me dizem respeito. O que me interessa mais é uma história que li recentemente sobre o Festival de 1972, dois anos antes da canção mais influente da história das entradas portuguesas, “E Depois do Adeus“.

Naquela altura, Portugal estava entre a morte do seu ditador e a morte da sua ditadura, durante a época da liderança de Marcelo Caetano. Um artista chamado João Abel Manta publicou numa revista uma imagem satírica. Uma cançonetista de cabelos brilhantes estava de pé no centro da bandeira nacional, com o círculo dourado e o escudo formando, respectivamente, a cara e a boca dela. A imagem brincava com a ideia do patriotismo ser desvalorizado por associação com aquele espetáculo (ou pelo menos assim afirmou o advogado do artista!) mas foi interpretada** como um ataque à*** bandeira e ao valor do patriotismo, que se encontra sempre na lista “top 4” de virtudes e de valores de qualquer ditadura.
Foi processado mas acabou por ser absolvido.
*surprisingly a Eurovisão is feminine despite being “um festival”. Não faço as regras.
**I make quite a lot of erros de concordância but this sort of thing is really hard to spot because the noun it’s referring to is about 40 words back.
***”ataque a” , not “ataque em”. I live with the same of translating too literally from English.
Thanks to Cristina of Say It In Portuguese for raising the quality of the language in this post from “Nul points” to “Waterloo”


