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Pedro e Inês

Notes jotted down from part of the Portuguese Culture Unit I am studying.

Um Resumo Simplório da História de Pedro e Inês

Pedro I de Portugal (1320-1367), antes da sua ascendência ao trono, casou com Constança Manuel, mas foi abertamente infiel com a aia dela, a galega Inês de Castro. O pai de Pedro, o então rei Afonso IV, reprovou a relação, até após a morte de Constança quando Pedro e Inês viviam com se fossem casados. Em 1855 o rei mandou o assassínio de Inês, temendo a influência da família Castro. Este ato provocou uma rebelião contra o rei por Pedro, os Irmãos de Inês e vários aliados, mas não foi bem sucedido e os dois lados na guerra concluíram um paz desassossegado. Dois anos depois, com o morte do soberano, Pedro foi aclamado rei do país e pós em andamento a sua vingança contra os homens que executaram as ordens de Dom Afonso. Logo depois, afirmou que tinha casado com Inês antes da morte dela e declarou-a como rainha. Até se diz que o cadáver de Inês foi desterrado e coroado e que os nobres foram forçado, sob pena de morte a beijar a mão dela. Seja como for, os túmulos dos amantes ficam no Mosteiro de Alcobaça, lado a lado para que, no dia da ressurreição, acordado dos seus sonos, Pedro e Inês se vejam sem demora.

O Túmulo de Inês de Castro

As Trovas à Morte de Inês de Castro

Segundo o site Mitologia.pt , existe um poema secreta, atribuída ao então infante Pedro, mas a sua autoria é discutível. Porém, segundo o mesmo site, o comprovadamente mais antigo poema (tirando esse duvidoso) é “Trovas à Morte de Inês de Castro” de Garcia de Resende (1470-1536).

O poema é contado do ponto de vista de Inês, na hora da sua morte. Ela não culpa o rei mas sim os cavaleiros que acabaram executados por Pedro. Este decisão é interessante. Às vezes, vemos obras de arte que evitam responsabilizar uma figura histórica porque a figura anda favorecida pelo povo ou pelas autoridades atuais. Será que o rei da sua época desfavoreceria qualquer pessoa que criticou o seu antecessor? Parece-me pouco provável uma vez que um século tinha passado entre o morte do Pedro e o nascimento do poeta, mas quem sabe?

Crónica

Mais um poeta que escreveu poesia sobre a lenda é João Miguel Fernando Jorge (1943-hoje). O professor do curso forneceu-me com fotos de 7 páginas do livro “Crónica“. O que mais me marcou foi a diferença entre as primeiras linhas de cada página (por exemplo “COMO ELREI DOM PEDRO DE PURTUGAL DISSE POR DONA ENES QUE FORA SUA MOLHER REÇEBIDA E DA MANEIRA QUE ELLO TEVE” e o resto do texto que é escrito em português moderno. A razão custou-me descortinar: A obra do Jorge é uma espécie de atualização ou de recontagem de uma obra mais antiga, especificamente a “Crónica de Don Pedro I°” de Fernão Lopes (1418-1459) o escrivão e cronista do reino de Portugal, daí a sua ortografia antiga.

Teorema

Passos em Volta de Herberto Helder

Teorema é um conto de Herberto Helder. Helder (1930-2015) foi um poeta madeirense, mas, ao que parece, também soube escrever prosa. E sendo ele madeirense, por acaso, não tive de ler o conto online porque a madeirense que tenho em casa tem um exemplar do seu livro “Os Passos em Volta” no estante. É brutal! Adorei! É contado na primeira pessoa por Pêro Coelho, um dos dois executados por Pedro por ter participado no assassínio de Inês de Castro. Fiquei muito orgulhoso logo na primeira página porque o narrador descreve uma janela “no estilo manuelino” e eu soube instantaneamente que era um anacronismo: o estilo manuelino foi desenvolvido na época de D, Manuel I, cem anos depois da morte de D. Pedro. Mas mais tarde o narrador ouve a buzina de um automóvel e eu entendi que o conto é surrealista. A estátua do Marques de Sá da Bandeira? Mais um anacronismo, não é? E o protagonista continua com a narração enquanto o soberano come o coração dele, cru e cheio de sangue, o que não é normal. Eh pá cinco páginas esmagadoras!

Pedro Lembrando Inês

Já li dois livros de Nuno Júdice (1949-2024), mas não sabia que ele também escreveu um poema do ponto de vista de Pedro, nos anos após a morte da sua amante

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Cante Alentejano

Quando escrevi sobre a mudança da marca diacrítica no site do Jazz Café, não tive qualquer plano para lançar uma série, mas olhem, vai continuando a semana dos chapéus. Hoje volto ao tópico do Cante Alentejano.

Desde 2014, este género musical é considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Esta honra é compartilhada com mais um género musical português, o fado. Consiste em dois cantores e um coro. O primeiro cantor é o ponto, e o segundo o alto. Mas cuidado, ambas estas palavras tem mais do que um significado. Eu sei menos que nada sobre a teoria da musica portanto fiz uma pesquisa e as definições relevantes do dicionário Priberam são o número 40 de Ponto: “Solista que inicia uma moda* no cante alentejano” e o numero 30 de Alto: “Solista de voz aguda que se segue ao ponto e que antecede a entrada do coro no cante alentejano.”

Portugal, August 2022: Tribute to cante Alentejano, monument in Monsaraz by Lago do Alqueva, Alentejo, Portugal

Se virem este vídeo, verem os dois solistas em ação: O ponto, de barba, na primeira fila, canta a primeira estrofe. Depois, o alto, quase escondido na segunda fila, entoa o primeiro verso da segunda estrofe antes do coro (incluindo ambos os solistas) cantarem o resto em uníssono. Este coro é o mesmo que colaborou com Zambujo no vídeo de ontem, O Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento. Neste contexto, um rancho é um grupo folclórico mas a palavra tem mais significados entre os quais “Grupo de pessoas, especialmente em marcha ou em jornada” também descreve o conteúdo deste vídeo!

I think the title of this video is wrong. I believe the song is called “A Moda do Chapéu

Quando ouço o cante alentejano, lembro-me sempre do Male Voice Choir (Coro da voz masculina) tradicional do País de Gales. Ambos têm raízes na cultura céltica, ambos nascem entre gente rural em aldeias marginais, longe do capital e ambos são cantados, tradicionalmente, por homens vestidos de roupa domingueira**. No caso do coro galês, isto aconteceu (tanto quanto sei) por preferência, mas em Portugal, a roupa tradicional foi reforçado pela influência conservador do Estado Novo que queria fomentar o património para os seus próprios motivos, mas basta do Estado Novo, já falei a mais daqueles gajos. Arruínam sempre tudo que eles tocam, e não quero associar o cante com o homem que caiu da cadeira.

Dw i’n hoffi y cerddoriaeth ma ond mae cerddoriaeth portugaleg ym well (I hope I didn’t screw that up too badly – I’m only about 6 months into the duolingo course)

Apesar das semelhanças superficiais, existem diferenças marcantes. Os galeses harmonizam mais. Não têm os dois solistas e não cantam de chapéu num supermercado. Segundo a Wikipédia, as origens do cante incluem elementos da tradição grega e dos colonizadores árabe.

A página da Wiki fala no seu último paragrafo, da estagnação do cante desde a segunda guerra mundial quando a mecanização da agricultura causou um declínio da tradição de cantar na lavoura. Como resultado o género sobrevive em grupos tradicionais como uma curiosidade ou uma atração turística. Não sou especialista, claro, mas parece-me que a forma não tem tenta flexibilidade como o fado, nem hipótese de se dinamizar por hibridação com outros estilos como aconteceu com o fado nas últimas décadas. E não importa assim tanto. Não precisamos de cante alentejano com um rapper a fazer beats entre as estrofes. Às vezes, podemos deixar a tradição em paz, perfeito no seu próprio nicho.

* AI meu deus, não quero sobrecarregar o texto de definições mas nota bem que “moda” também tem um sentido diferente neste contexto. É uma cantiga!

**Not a word I had come across. It means “relative to Sunday”. So roupa domingueira is your Sunday best! Not that anyone has Sunday best now, it was a dying concept even when I was young but I recognise it as something people had in books and comics written by the generation before!

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Dance, Dance

So I keep seeing people on Instagram doing this dance and I wondered why…

It didn’t help that I didn’t… hey, I’m writing in English. Why? …que nem sequer sabia o título da música. Perguntei ao Shazam. É isto:

O branco é Lucenzo, um português, e o negro um porto-riquenho que se chama Don Omar, ou simplesmente “El Rey”. Os dois cantam numa mistura de idiomas num iate, rodeados por uma meia dúzia de modelos aborrecidas. O vídeo, lançado em 2010, é um dos mais vistos no YouTube porque foi um grande sucesso em muitos países da América e Europa. Basicamente em todo o mundo exceto o Reino Unido.

Kuduro é uma palavra angolana e segundo o Google, pode ser uma combinação das palavras “Cu duro”. Danza, igualmente não é Português nem espanhol: acho que é crioulo.

Mas onde nasceu a dança*? Não faz parte do vídeo original. Quem inventou?

Sinceramente não faço ideia. Tentei três vezes fazer a pergunta no reddit mas cada uma foi apagado instantaneamente. Sei lá porquê. Mas tenho a certeza de que a dança é portuguesa. Outros países têm outros passos. Veja-se por exemplo este vídeo de três portuguesas e três espanholas a dançar lado a lado.

Ah ah, sou um crítico cultural, trazendo as notícias de há 15 anos. Espero não me ter enganado. Estou a ler nas entrelinhas por causa da conspiração do reddit para esconder a história deste fenómeno cultural!

*Re-reading this, I hope it’s obvious I’m talking about the dance in the video, not kuduro itself, which is also the name of a dance but is not the dance she’s doing… ai, it’s a bit complicated, sorry.

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You and Non-U

One of the first things we learn in Portuguese classes is the difference between the various ways of addressing another person; that there are different second-person pronouns for strangers vs friends: Você, Tu, or you can just flip it to third person with something like “O Senhor”. But we tend to get the impression that it’s just a linguistic rule with no further importance, as if it were a puzzle to be solved or a code to be cracked.

But there are cultural differences that underlie these kinds of distinctions: language has a social meaning as well as a semantic one. English doesn’t really have the same hard-wired social distinction*: if we want to be snobbish or arrogant or condescending we have to resort to using tones of voice.

You can catch glimpses of this social distance in literature and films: people taking offence at being treated with too much or too little formality (as in the picture above, taken from Gente Remota) or asking permission to use different pronouns (which happens near the end of Os Gatos Não Têm Vertigens). And it makes me wonder to what extent this creates a barrier between people, or makes them think of themselves differently, as a result of this very clear social distance marker being applied to them by someone else.

There’s a new blog on Say It In Portuguese that aims to shed light on the cultural dimension of these kinds of interaction. Its Part 1 in a two part series, and I’m looking forward to the second part. If you’re looking to deepen your understanding of Portuguese culture, head on over and have a look.

Nancy Mitford. What? Why is there a picture of her here? Well, read the footnote, dummy!

*This was probably less true in the recent past. The title of this blog post alludes to a distinction made by Nancy Mitford in the 1950s between U and Non-U English. The satire boom of the sixties and seventies punctured that pomposity. But even then, it was much more common when I was young m to hear people addressing each other as Mr So-and-So as a mark of respect or formality. That’s getting increasingly rare. We’re all tus.

Posted in English, Portuguese

Cantiga da Burra

Ouvi uma versão desta canção recentemente no canal de David Antunes + the Midnight Band, que é sempre uma fonte de maravilhas e o desempenho neste caso é mesmo esmagador, uma vez que é tocado quase exclusivamente em instrumentos infantis (o vídeo está debaixo da tabela de letras nesta página) O original saiu em 2012 e foi lançado por Sebastião Antunes e Quadrilha. O Sebastião não é um familiar do David apesar de os dois partilharem um sobrenome, mas o David tocou várias vezes a canção ao vivo nos seus próprios espetáculos e o Sebastião até apareceu no canal do David também.

A música teve muito sucesso e (tanto quanto sei) muita gente gosta dela. A versão original é invulgar por incluir uma gaita de foles. O meu pai sabia tocar a gaita de foles escocesa e por isso estou predisposto a gostar a canção apesar de me sentir por outro lado dum abismo cultural de cem milhas de largura.

PortuguêsInglês
Deram-me uma burra
Que era mansa que era brava
Toda bem parecida
Mas a burra não andava
A burra não andava
Nem prá frente nem pra trás
Muito lhe ralhava
Mas eu não era capaz
Eu não era capaz
De fazer a burra andar
Passava do meio dia
E eu a desesperar
E eu a desesperar
Ai que desespero o meu
Falei-lhe no burrico*
E a burra até correu
They gave me a donkey
That was tame and that was wild
Everything seemed fine
But the donkey wouldn’t move
The donkey wouldn’t move
Neither forward nor backward
I yelled at it a lot
But I couldn’t
I couldn’t
Make the donkey move
It was after midday
And I was in despair
And I was in despair
Oh, I was in such despair
I told her about the (male) donkey
And it even started running

*This seems to be disputed. When I first wrote this I copied the lyrics from A Música Portuguesa and it says “falhei-lhe”. It seems like that version appears on quite a lot of pages dotted around the web, but I am reliably informed that the non-h version is the right one, so there you go!

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Como É Linda

Carolina Deslandes is definitely growing on me. Her lyrics seem really well-crafted. Her voice doesn’t have the earth-shattering power of Sara Correia (the last portuguese singer I went to see), but she’s a different kind of singer and her voice works for the kind of music she’s making. I really like this one.

When I found the lyrics I saw they had transcribed it with “luta” in place of “puta”. You can find videos of her singing it that way on Rádio Comercial, but this video is bleeped out and I’m pretty sure they wouldn’t have bleeped luta, so I’m changing it back to what I think must be the original. Como é Linda a Puta de Vida is the name of a book by Miguel Esteves Cardoso, and I don’t know if she pinched the line from him or if it has older roots.

PortuguêsInglês
Esfolar os joelhos
A achar que sabia voar
Ignorar os conselhos
Que no fim nos iam salvar
Skinning your knees
And finding you don’t know how to fly
Ignoring the advice
That would save us in the end
Ser abandonada
Não ter onde arrumar o amor
Não querer saber de nada
E saber-te ao pormenor
Being abandoned
Not having a place to put love
Not wanting to know anything
And knowing yourself in detail
Como é linda e caótica
A puta da vida, amor
Vê lá bem a nossa sorte
Vê lá bem o nosso azar
Como é linda e caótica
A puta da vida, amor
Viver a fintar a morte
Hoje saímos pra dançar
It’s so beautiful and chaotic
The bitch of life, my love.
Just look at our good luck
Just look at our bad luck
It’s so beautiful and chaotic
The bitch of life, my love.
Living to trick death
Today we’re going out dancing
Partir o coração
Dar razão a quem nos avisou
Uma desilusão
Uma ferida que nunca sarou
Breaking your heart
Proving the people who warned us right
A disappointment
A wound that never healed
Ser traído, chorar
Desatar os nós da garganta
Querer esquecer e lembrar
Quando a saudade é tanta, tanta
Being betrayed, crying
Untying the knots in our throat*
Wanting to forget and remember
When there’s so, so much longing**
Como é linda e caótica
A puta da vida amor
Vê lá bem a nossa sorte
Vê lá bem o nosso azar
Como é linda e caótica
A puta da vida amor
Viver a fintar a morte
Hoje saímos pra dançar
It’s so beautiful and chaotic
The bitch of life, my love.
Just look at our good luck
Just look at our bad luck
It’s so beautiful and chaotic
The bitch of life, my love.
Living to trick death
Today we’re going out dancing

* Um nó da garganta is what english speakers would call “a lump in the throat”, so she’s talking about grief, panic or some other strong emotion

`**Should I even be translating “saudade” at this point?

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Chanfana

A única vez na minha vida que comi carne de cabra foi em Coimbra, num restaurante perto do centro comercial. O prato é chamado chanfana, e é uma receita tradicional à base de carneiro ou de cabra.

Chanfana

Se a carne for velha, não importa, porque será assada até se tornar tenra e por isso esta receita é vista como boa opção para carne dura de animais mais maduros. Tradicionalmente, a carne é assada numa caçoila de barro preto com vinho tinto, alho, pimenta e folhas de louro.

A receita é muito antiga mas existem diversas histórias sobre a origem. Como resultado, há duas regiões que disputam a coroa da terra da chanfana. O concelho de Miranda do Corvo é conhecido por ser a Capital de Chanfana. Entretanto, Vila Nova de Poiares é a Capital Universal da Chanfana e tem uma marca registada para demonstrar a sua supremacia no mundo da carne assada.

Quando estudas português durante anos e finalmente chegas na secção C-H-A-N-F no dicionário.

É muito importante não confundir “chanfana” com “chanfrado” porque ninguém quer pedir um prato de carne assada e receber um guru de auto-ajuda, mesmo se for bem passado com umas boas mãos cheias de alho.

I actually made chanfana the day after writing this. It was so bad it almost caused a diplomatic incident between Portugal and Britain. Halved the ingredients but didn’t reduce the cooking time enough and it was very, very dry.

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Diabo na Cruz – Vida de Estrada

OK, well this is one of the bands I listened to the other day and liked enough to want to dive into their lyrics. It’s not an easy one because a lot of it is lists of things and events, like the lists in “Its the End of the World as we Know It” by REM or “We Didn’t Start the Fire” by Billy Joel and I am pretty sure I am missing some of the references. I’ll put links on the ones I recognise because it’s probably easier than writing 30,000 words of footnotes. Speaking of feet, there’s a really excellent live video out there and teh lead singer has a cast on his ankle, so well done him for not calling in sick that day!

🇵🇹🇬🇧
Siga em fila vai
Nove emprego cinco sai
Quinto império do atalho
Bomba, escola, pão, talho
Form a line, go
Nine employed, five leave
Fifth empire by a shortcut
Bomb, school, bread, meat
Trívia e televisão
Aurora do quadrilião
No ar um cheiro a esturro
Bom pró esperto, mau pró burro
Trivia and television
Glow of the quadrillion
In the air a smell of burning
Good for the smart, bad for the stupid
Perto, tão perto do oásis no deserto
Longe, tão longe de ir lá hoje
Mora, demora
O que é bom nunca é pra agora
Quem me dera ir daqui pra fora
Close, so close to the oasis in the desert
Far, so far from getting there today
Lay, delay
What is good is never for now
I wish I could get out of here and away
Trânsito no Jamor
A ouvir notícias do terror
Troika, bolha imobiliária
É cara a vida e a pensão precária
Traffic on the Jamor
Hearing news of terrorism
The Troika, a property bubble
Life is expensive, and pensions at risk
Água, cabo, net
Luz, ginásio, yoga, creche
IUC, IMI, IRS
Paga paga, esquece esquece
Water, cable, internet,
Lighting, gym, yoga, creche,
IUC,IMI,IRS
Pay, pay, forget, forget
Fraco tão fraco o sol neste buraco
Boa, tão boa a vida boa
Mora, demora
O que é bom nunca é pra agora
Quem me dera ir daqui pra fora
Weak, it’s so weak, the sun in this hole
Good, so good, the good life
Lay Delay
What is good is never for now
I wish I could get out of here
Mergulhar mãos no volante e adiante
Pra qualquer lugar
Vidro aberto, rádio alto, no asfalto
Sem me apoquentar
Saborear o mar, as serras
Cobrir-me de pó e geada
Roer o osso desta terra
Na vida de estrada
Grab the steering wheel and go
To anywhere
Window open, radio loud, on the asphalt
Without fear
To enjoy the sea, the mountains
get covered in dust and frost
Chew the bones of this land
In life on the road
Sismo no Japão
Zara, nova coleção
Espionagem, guerra, muda o tema
Woody Allen no cinema
Earthquake in Japan
Zara, new collection
Espionage, war, change the subject
Woody Allen at the cinema
Zapping e jornal
Série e logo futebol
O vizinho num concurso
A fazer figura de urso
Channel-hopping and news
Series and then football
The neighbour in a competition
To act like an idiot
Chato, tão chato papar grupo barato
Oco, tão oco o circo louco
Mora, demora
O que é bom nunca é pra agora
Quem me dera ir daqui pra fora
Annoying, so annoying, support cheap group*
Hollow, so hollow, the crazy circus
Live, delay
What is good is never for now
I wish I could get out of here
Mergulhar mãos no volante e adiante
Pra qualquer lugar
Vidro aberto, rádio alto, no asfalto
Sem me apoquentar
Saborear o mar, as serras
Cobrir-me de pó e geada
Roer o osso desta terra
Na vida de estrada
Grab the steering wheel and go
To anywhere
Window open, radio loud, on the asphalt
Without fear
To enjoy the sea, the mountains
get covered in dust and frost
Chew the bones of this land
In life on the road
Onde não há prazos nem obrigações
Não há debates nem euromilhões
Onde o sol eleva e a frescura acata
Sem consulta ao homeopata
Onde a cura é sem vacina
E a cardina é sem pesar
Por lagoas e colinas
Vê-se a lágrima a secar
Dá o vento na cara
E nada nos pára
Nada nos pára
Where there are no deadlines or obligations
No debates, no euromillions
Where the sun lifts you and the coolness follows you
Without an appointment with the homeopath
Where the cure doesn’t take a vaccine**
And the grime doesn’t weigh you down
Through lakes and hills
Feel the wind in your face
And nothing will stop us
Nothing will stop us
Perto, tão perto do oásis no deserto
Longe, tão longe de ir lá hoje
Mora, demora
O que é bom nunca é pra agora
Quem me dera ir
Quem me dera ir daqui
Quem me dera ir daqui pra fora
Close, so close to the oasis in the desert
Far, so far from getting there today
Delay, delay
What is good is never for now
I wish I could get out
I wish I could get out of here
I wish I could get out of here and away
Mergulhar mãos no volante e adiante
Pra qualquer lugar
Vidro aberto, rádio alto, no asfalto
Sem me apoquentar
Saborear o mar, as serras
Cobrir-me de pó e geada
Roer o osso desta terra
Na vida de estrada
Grab the steering wheel and go
To anywhere
Window open, radio loud, on the asphalt
Without fear
To enjoy the sea, the mountains
get covered in dust and frost
Chew the bones of this land
In life on the road

*best guess is that he’s saying you should support independent artsists

**They broke up in 2019, in case you were wondering if this was some sort of covid reference

Posted in English, Portuguese

Fado Português

A tradução de hoje é “Fado Português”. Se Amália cantou alguma canção, acho que convém usar a versão dela como base duma tradução, mas não existe um vídeo dela a cantar esta, e olha, a versão de Sara Correia é ótima, então porquê é que estás a resmungar? Vi-o na app Lingoclip, que estou a usar diariamente. Para ser sincero, é frustrante. Prefiro usá-la no modo especialista porque é mais fácil digitar tuuuuudoooo do que andar de um lado para o outro entre as letras e as opções, mas é preciso ter dedos extraordinariamente rápidos! Mas um fado é mais fácil do que um rap, portanto, se gostares de experimentar, recomendo que comeces com algo deste género.

PortuguêsInglês
O Fado nasceu um dia
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava
Na amurada dum veleiro
No peito dum marinheiro
Que, estando triste, cantava
Que, estando triste… cantava
Fado was born one day
When the wind was barely stirring
And the sky held back the sea
On the hull of a sailing ship
In the breast of a sailor
Who, being sad, was singing,
Who, being sad, was singing.
Ai, que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutas de oiro
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro
Oh so much beauty
My ground, my mountain, my valley
With leaves, flowers and golden fruit
See if you see the lands of Spain,
Sands of Portugal
Vision nearly blind from crying
Na boca dum marinheiro
Do frágil barco veleiro
Morrendo a canção magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar e mais nada
Que beija o ar… e mais nada
In the mouth of a sailor
Of the fragil sailing boat
The tortured song, dying
Tell of the torment of desires
From the lip burning with kisses
That kisses the air and nothing else
That kisses the air and nothing else
Mãe, adeus, adeus, Maria
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura:
Que ou te levo à sacristia
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura
Goodbye mother, goodbye Maria
Remember what you see and hear*
That here I make an oath
That I will either take you to the sacristy
Or it was God that served me
By giving me a grave in the sea
Ora eis que embora outro dia
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava
À proa doutro veleiro
Velava outro marinheiro
Que, estando triste, cantava
Que, estando triste, cantava
Well so it was that the next day
When the wind was hardly stirring
And the sky held back the sea
At the prow of another sailing ship
Sailed another sailor
Who, being sad, was singing,
Who, being sad, was singing.
Ai, que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutas de oiro
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro
Oh so much beauty
My ground, my mountain, my valley
With leaves, flowers and golden fruit
See if you see the lands of Spain,
Sands of Portugal
Vision nearly blind from crying

*Not very literal at all but I couldnºt make it make sense if I did it word for word.

Posted in Portuguese

Free Buarquing

Já publiquei uma tradução de outra canção de Chico Buarque, mas ouvi falar desta em relação às comemorações do aniversário da Revolução dos Cravos. Hum… não me sinto grande fã deste artista, mas cada vez que escuto com mais atenção uma música dele, adoro-a e aprendo muito. Acho que chegou a hora de ouvir os seus discos todos.

(Ah ah ah, discos, sim, escute os seus discos, avô, nós estamos a ouvir no Spotify)

“Tanto Mar” é uma música que ilustra certas coisas sobre a época e sobre a relação entre os dois países, Portugal e o Brasil. Existem duas versões na Internet, e eu pensei, “está bem, a segunda é uma gravação nova da mesma canção”. Mas não é! O cantor escreveu a primeira versão em 1975, um ano depois da revolução e dedicou-a ao povo português – ou melhor, à revolução em si. Naquela altura, o Brasil também estava em plena ditadura militar (um governo que permaneceu em vigor desde 1964 até 1985), portanto a revolução no país menor deu motivo para esperança no maior. As letras refletem aquela esperança mas por isso mesmo, foram censuradas pela ditadura brasileira.

A segunda versão foi lançada 3 anos depois, em 1978, mas desta vez com letra atualizada. Existe um sentimento agridoce perante a crise de 25 de Novembro, o enfraquecimento dos objetivos da revolução e a realidade que a passagem dos anos trouxe. Mas apesar de tudo, a esperança é ainda evidente.

Em baixo, traduzi as duas versões. Gosto da simplicidade da poesia. Um escritor menos talentoso teria tentado escrever algo maior, e teria enchido cada verso de sentimentalismo e cliché, mas esta letra é curta e limpa e não tem uma única palavra a mais.

Just a reminder, obviously, this is in PT-BR, so in case anyone is avoiding brazilian accents on their learning journey, allow me to sound the 📢#BRAZILIANPORTUGUESEKLAXON📢 as a warning.

PortuguêsInglês
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
I know you’re having a party, man
I’m glad
And while I’m away
Save a carnation for me
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente alguma flor
No teu jardim
I wanted to be at the party, man
With your people
And pick a flower in person
in your garden
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
I know there are miles* between us
So much sea, so much sea
And I know how much we’d have to
Navigate, navigate**
Lá faz primavera pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
It’s spring there, man
Here, I’m sick
Send, urgently, some
Fleeting scent of rosemary
PortuguêsInglês
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
It was a great party, man
It made me happy
I still hold stubbornly
An old carnation for myself
Já murcharam em tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Em algum canto de jardim
The (flowers) withered at your party man
But certainly
They left a seed
In some corner of the garden
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
I know there are miles* between us
So much sea, so much sea
And I know how much we’d have to
Navigate, navigate**
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Sing the spring, man
Here I am in need
Send me again
Some fleeting scent of rosemary

* =Léguas is more like leagues but it would sound confusing in english so I fudged it

**Maybe I should have fudged this one too: naveger is much more specifically about travelling in a ship, as opposed to english where it’s more like “finding your way”