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A Padeira de Aljubarrota Está de Volta

Sorry, I’ve no idea what anyone reading these updates is making of them: they’re all just formless, unedited brain-dumps of the texts I’ve been reading on the Literature and Culture course unit. I´ve got so used to using this blog as a way of processing and recording things that I´ve lost the ability to just write stuff down in a book.

As I write this, I have just finished sending my first ever essay to the Universidade Aberta. I

Já conheces a Padeira de Aljubarrota, não conheces? Já falei sobre a sua lenda aqui mas faz dezenas de referencias a história por exemplo isto.

Inês de Castro, a senhora mais bela (segundo as lendas escritos por homens) da história de Portugal agora cede lugar a Brites de Almeida que foi (segundo os mesmos homens) a mais feia e a mais sobrededada*. A segunda parte do curso tem a padeira como assunto, portanto dirijo-me para o campo de batalha onde os espanhóis derrotados afastam-se do exercito e correm em direção a um inimigo ainda mais assustador…

Me showing off in other people’s comment section on Instagram. The timeline is off obviously – Brites de Almeida had been in the ground for centuries when the peninsular war happened, but I like the idea that all portuguese bakers follow her example.

Os Livros Populares Portuguezes (Folhas Volantes ou Litteratura de Cordel) – Teófilio Braga

Este texto descreve a origem da tradição de “literatura de cordel” em Portugal e situa um panfleto – “Auto Novo e Curioso da Padeira de Aljubarrota” neste tradição.

Literatura de cordel surgiu de tradições mais antigas, satíricas ou religiosas, que foram dramatizados nas cidades, mas o formato dos livrinhos era que deu o nome ao género. Foram impressos em folhas soltas, penduradas em cordéis e vendidas por cegas. Existiam até no século XVI mas algumas leituras foram vítimas dos índices expurgatórios**

Houve um renascimento da literatura popular no século XVIII, fomentando uma ligação entre as várias tradições orais e a imprensa. O “Auto Novo e Curioso da Padeira de Aljubarrota” (ou “Forneira” – depende da edição) saiu em 1743 mas encontra-se nos catálogos populares no Porto em meados do século XIX. Segundo o historiador, o autor, Diogo da Costa foi pseudónimo de um professor de gramática, André da Luz

“Auto Novo e Curioso da Padeira de Aljubarrota” Diogo da Costa

Segundo a leitura anterior, “é uma relação alambicada e conceituosa” e concordo que a história é tortuosa mas não o achei assim tão sentencioso. Um pouco, sim, mas a narrativa continua em frente come cena após cena de ação. É picaresco e às vezes sangrento. Além dos espanhóis, ela degola um turco (e os filhos dele), fere de morte um homem que quer casar com ela, e mata um bando de ladrões. Estou a esquecer alguém? Sei lá.

O que mais me marcou é que o conto não tem nada de patriotismo no retrato da padeira. No primeiro parágrafo, o autor descreve a terra dela como “a famosa, e sempre leal Cidade de Faro” e salienta as origens humildes de Brites de Almeida. Estes dois elementos podem ser atributos de uma heroína popular, mas as ações dela surgem da amizade aos portugueses, ódio aos criminosos e donos de escravos, proteção da sua propriedade (o forno) mas amor da pátria, nem por isso!

“A Padeira de Aljubarrota: Entre Ontem e Hoje” (Capítulo 4) Cristina Pimenta

Espero que não errei em escrever o título. De acordo com o arquivo, é simplesmente “A Padeira de Aljubarrota” mas fiz uma pesquisa e acho que este é o único livro que ela escreveu.

O livro mostra a evolução ao longo dos anos, desta figura mítica, ela foi adaptado pelos autores de cada época para fortalecer o espírito nacional:

  • Restauração (1640) A evocação da padeira em contextos religiosos e historiográficos deu legitimidade á nova dinastia de Avis.
  • Século XVIII Em tempos de calma, a história foi tratado mais levemente e foram acrescentados mais pormenores à lenda (foi durante este século que foi escrito o antes mencionado “Auto Novo…”).
  • Século XIX Numa era de romantismo e liberalismo a história foi apropriado como símbolo da regeneração nacional após a derrota do Miguelismo*** Também surge como personagem no livro “A Abóbada” de Alexandre Herculano or causa do seu valor simbólico.
  • Século XX Como é óbvio, uma figura tão trabalhadora, valente e simples representa um oportunidade ao Estado Novo que colocou a padeira em selos dedicados á independência da república. Também apareceram versões Salazaristas da lenda, editado pelo Secretariado da Propaganda Nacional. Além dos já existente virtudes, o regime acrescentaram moralidade e defesa da pátria.
Once you know who she is you realise she’s pretty much everywhere in Portuguese humour.

* Not a real word, obvs. I am trying to say she is “over-fingered” because she supposedly had six on each hand

**I should probably do a blog on Censura in Portugal at some point – it’s listed here though if you’re interested.

***I should probably know what this is but I don’t

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Brevíssimas Notas Sobre Os “Estudos”

Super-speedy notes on (some of) the academic papers on the theme of Pedro and Inês. Not really attempting to summarise the whole work, just peg out the aspects of each that intersects with the theme of the course.

Drama de Inês de Castro (c. 1901-04)
Drama de Inês de Castro (c. 1901-04) Por Columbano Bordalo Pinheiro

“Ruy Belo: a Alegria em Preparação” João Miguel Bray Gomes Silva

“A Margem de Alegria” de Belo “Tematiza o amor mítica de Pedro e Inês” no qual Inês representa “o eterno feminino”. Assim, o autor da Tese retrata “o esquema do mito Inesiano” e sublinha as ligações com a poesia de Belo e com o seu próprio argumento. Inês atingiu uma forma de vida após a morte, simbolizada pela sua coroação póstuma e concretizada pelos túmulos de Alcobaça. Pedro faz a sua parte neste imortalização, facilitando a acsensão e construindo os túmulos legendados “até ao fim do mundo” ou seja o dia de julgamento. Assim, a poesia (no lugar de Pedro) consegue superar a separação numa eterna união além da morte. Ainda por cima, a morte representa a separação entre o amador e a amada, e no processo de redenção “transforma-se o amador na cousa (sic) amada”.

“A Identidade Nacional Na Literatura Portuguesa” Ana Cristina Correia Gil

“[…] duas conclusões fundamentais: os autores nacionais, até ao século xvi, contribuíram para a formação e consolidação da consciência pátria – é a fase da fundação. A segunda ilação é a de que a partir deste mesmo século, fruto da agudização dos sintomas de crise em Portugal, se desenvolve na literatura nacional um veio de crítica à conjuntura do país, que culmina, no século xix, num amplo movimento
de questionação sobre o modo de ser português, protagonizado pelo Romantismo e pela Geração de 70 – é a fase da problematização.” Ana Cristina Correia Gil.

A autora começa a sua história com Fernão Lopes (sobre o qual falei num blogue há uns dias) e dá como exemplo a sua “Crónica de Dom Pedro I”, tendo como ponto de partida os arquétipos na literatura português (Pedro e Inês mas também Dom Sebastião, O encoberto (o quê???), As Ilhas Afortunadas, O Quinto Império, entre outros) como símbolos da identidade nacional.

“O Paradoxo Da Ficção Histórica Do Povo Lusitano” Sirlene Cristófano

A Investigadora pretende descrever a influência do mito de Inês na literatura portuguesa a partir do século XIX e a elevação da História ao estatuto de uma ciência. Começando daí, a ficção – ficção histórica – adquiriu um novo cargo, o de elaborar o lado de história mais humano, além das narrativas técnicas dos historiadores. Não passam de ser ficção mas por outro lado, tive como tema uma história verdadeira. Os exemplos dados são o “Teorema” de Herberto Helder (já referido) e o “Inês de Portugal”, um romance fino escrito por João Aguiar. Ambos os exemplos foram escritos em meados do século XX.

A ficção de Helder destaca a auto-imagem de Pêro Coelho como ator na história do país no contexto do mito inesquecível de Pedro e Inês, mas o de Aguiar salienta o papel de Inês como uma pessoa identificável, apaixonada mas ligada à cobiça da sua família.

“Mitos, Traumas e Utopias” Roberto Nunes Bittencourt

O autor toma como aporte teórico as obras de António de Macedo, Dalila Pereira da Costa, Gilbert Durand, Lima de Freitas, Sergio Franclim and Eduardo Lourenço. Em suma, a literatura portuguesa volta repetidamente a certas figuras que “sendo históricas, transcendem a própria historicidade”. Assumem “diferentes roupagens de acordo com condicionamentos históricopolítico-culturais” num processo de “definição da própria identidade nacional”. No caso de Inês e Pedro, o mito é um de “paixão que
erremete (sic*) contra a lei da morte” (segundo Lima de Freitas)

“Martírio e Sacrifício Voluntário na Tragédia Humanista e no Mito Inesiano” N. N. Castro Soares

Antonio Ferreira (1528-1569) Na sua tragédia “Castro” apresenta Inês como “vida cortada em flor”. A figura de Inês é mais complexa do que outras representações. Há um conflito entra a pureza dos motivos dela e a culpa perante Deus. Durante a cena na qual Inês morre, o romance introduz elementos de voluntariedade, como se fosse um mártir, cuja inevitável morte é aceite “por glória sua”. A cena é construída à maneira de Euripides para a apresentar como heroína sacrificial exemplar.

Camões também a trata como vítima sacrificial.

Eugénio de Castro** (1869-1944) no seu poema Constança foca na dor da esposa de Pedro. Inês é um “pessegueiro em flor” e uma mulher fatal “involuntária” mas a beleza dela ultrapassa a da Constança e ela emerge como inocente e “a imagem emblemática do amor”

“Inês de Castro na Literatura Portuguesa” Leonor Machado da Sousa

Evolução da representação do mito

Trouas*** de Garcia de Resende e a Visão de Dona Inês de Anrique da Mota: Inês como vítima inocente num ambiente bucólico.

Camões dá projeção universal ao mito delineado por Mota e Resende com os seus Lusíadas.

Nos Séculos XVIII e XIX, diversos poetas na lusofonia continuam a desenvolver o mito da sua beleza e a morte dala como símbolo de sofrimento eterno. Sousa Viterbo, em A Fonte dos Amores diz que a história é “o episódio mais sentido da paixão humana”

Nos séculos XVII e XVIII os dramaturgos escrevem de uma Inês inocente, bela e pura que é vítima da política. Durante século XIX, o romantismo reforça a ideia a “bela do colo de garça” e a tragédia do amor impossível, mas ao final daquele século vendo as limitações da personagem, os escritores começam a retirar o protagonismo a Inês, fazendo Pedro a personagem central do drama. Inês persiste como pura e bela mas os tormentos do infante é visto como fonte fecundo de narrativas como “A Morta” (1890) de Henrique Lopes de Mendonça e “Pedro o Cruel” (1915) de Marcelino Mesquita.

Na segunda metade do século XX, a partir a estreia de “A Outra Morte de Inês” (1968), de Fernando Luso Soares, o holofote volta para Inês, agora com mais agência pessoal. Torna-se um símbolo da liberdade individual contra o poder

Na prosa, Inês é sujeito de romances históricas e de historiografia, que muitas vezes acrescentam temas míticos aos factos verídicos. Ainda existem romances sobre os filhos de Inês.

“A Tragédia de Inês de Castro: Uma leitura semiótica de ‘Teorema’ de Herberto Helder” Teresinha de Jesus Baldez e Silva

Usando o modelo desenvolvido por Algirdo Julien Greimas, o autor analisa os este conto, demonstrando como o autor “desmistifica e remistifica” o mito. Pêro Coelho é elevado a ser protagonista num ritual mítico. A narrativa realista é subvertida deliberadamente, com efeito de realçar o caráter simbólico do mito. Inês não aparece porque já está morta ao arranque da história mas emerge como uma figura mítica, luminosa e eterna.

“Inês de Castro na Fénix Renascida – variações barrocas de um mito histórico-literário” Micaela Ramon

Fénix Renascida ou Obras Poéticas dos Melhores Engenhos Portugueses é um cancioneiro seiscentista português, publicado sob a direção de Matias Pereira da Silva em cinco volumes, de 1716 a 1728 (Wikipédia)

O autor começa por resumir diversas leituras já descrito. O “Fénix Renascida é um coletânea de poesia barroca. Destaca-se 3 poemas

  • Glosa de Barbosa Bacelar à estância 120 de Camões.
  • Romance de Jerónimo Baía (“Abrindo-se a sepultura de D. Inês de Castro”).
  • Sentimentos de D. Pedro e Dona Inês de Castro, atribuído a Manoel de Azevedo Pereira

Os Poetas Barrocos desprezam os aspetos factuais e históricos, focando nos aspectos lendários e sentimentais como por exemplo

  • Pedro o protagonista
  • O amor eterno de Inês
  • A fragilidade da existência

Usa-se metáforas, hipérbole e outras figuras típicas do movimento barroco.

Em suma, a lenda é um exemplo universal da efemeridade da vida e da vaidade humana e do pathos do amor trágico.

* “Erremete”? What’s going on here? I couldn’t find the word in Priberam. The same quote with the same spelling appears in another article by the same author here. But further digging found a quote from the same source but by a different author, and it’s written as “arremete” there. Arremeter is a legit verb meaning “Atacar com ímpeto”, which seems to fit in the context of the sentence, so I think it’s safe to say it’s a gralha in Bittencourt’s notes that he’s copied into two separate papers. Probably. Best avoid the hubris of correcting portuguese academics when I could have totally the wrong end of the stick, but that’s how it looks to me anyway!

**Hm, wonder if his surname had anything to do with his choice of subjects

***Trovas, presumably but it appears multiple times and is italicised so must be an older orthography rather than a typo. I referred to Resende and the Trovas in a recent post

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Malhão Malhão

Deparei-me novamente com este vídeo no insta. Tinha visto antes mas acho que a cena ganhou mais relevância face à xenofobia de André Ventura. Convém lembrarmo-nos de que os nossos compatriotas vivem em outros países mesmo que os estrangeiros vivem nos nossos países. Neste vídeo, portugueses celebram a sua cultura num palco no Luxemburgo.

A música é Malhão Malhão. Foi cantado por muitas pessoas ao longo dos anos, mas o melhor vídeo que já encontrei no YouTube é este de Linda de Suza

O Malhão é uma espécie de dança oriunda do Minho, e existem muitas canções que usam o ritmo para a gente dançar, como por exemplo Malhão de Portugal ou Malhão das Pulgas

The dance in full, complete with Amália Rodrigues’s voice and the full saia rodada action!

Então porquê “Malhão Malhão”? Não tenho certeza, mas é óbvio que as letras se referem a uma pessoa. Segundo a Wikipedia (versão inglês) a pessoa em questão é um “winnower”* ou seja uma pessoa que separa os cereais das suas testas. Pode ser, pode ser, mas segundo o Priberam, Malhão, quando é aumentivo de malho não significa nada mais do que o utensílio**. Mas também pode significar “pessoa hábil e experiente”. Tendo lido as letras, acho que a pessoa a quem o narrador está a falar não é experiente, é uma jovem, uma rapariga que o narrador quer namorar. Ainda por cima, nas letras que encontrei Online, Malhão tem letra maiscula. Até pode ser uma alcunha! Noutras palavras, Malhão Malhão é um malhão (música para dançar) sobre um malhão (pessoa hábil/pessoa que trabalha na agricultura e/ou pessoa chamada “Malhão”).

Ai Jesus, tanta incerteza!

As letras são repetitivas mas basicamente é isto:

Ó Malhão, Malhão que vida é a tua?
Comer e beber, ai trrim-tim-tim
Passear na rua

Oh, Malhão, Malhão, what is your life like
Eating and drinking, trim-tim-tim
Strolling in the street

Ó Malhão, Malhão quem te deu as botas?
Foi o caixeirinho, ai trrim-tim-tim
O das pernas tortas

Oh Malhão, Malhão who gave you your boots?
It was the boxmaker, trim-tim-tim
The one with the crippled legs

Ó Malhão, Malhão quem te deu as meias?
Foi o caixeirinho, ai trrim-tim-tim
O das pernas feias

Oh Malhão, Malhão, who gave you your socks?
It was the boxmaker***, trim-tim-tim
The one with the ugly legs

Ó Malhão, Malhão ai Margaridinha!
Eras do teu pai, ai trrim-tim-tim
Mas agora és minha

Oh Malhão, Malhão, oh little Margarida
You were your father’s, trim-tim-tim
But now you’re mine.

*winnowing, in case you don’t know, is an agricultural term, meaning separate out the wheat from the chaff proper to grinding it into flour.

** specifically: Utensílio para malhar cereais, composto de dois paus ligados por uma correia, sendo um curto e grosso (pírtigo), e outro um cabo comprido e delgado (mango).

“malho”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/malho.

***Caixeirinho has multiple meanings too. It could also be an old word for someone who works on a shop (at the “caixa”)

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Pão Por Deus

This one is inspired by yesterday’s post in which I was initially suspicious of the loja online because it mentions Halloween, in English. Hallowe’en (“dia das bruxas”) is an old celtic tradition but its best-known manifestation, with pumpkins and vampires and slutty nurses is all American cultural hegemony. I’ve been seeing posts talking about Portuguese traditions and I thought it might be fun to talk about this one…

O vídeo (infra) foi feito por mais uma loja online, Madeirense Puro, que tem, como foco, outros portugueses. Já escrevi sobre o livro dele e acho que existe uma sequela mas ainda não tenho. No vídeo, os empregados fingem estar numa manifestação contra o Halloween (“abaixo as aboboras!”) e a favor do Pão Por Deus. Segundo a página da Wikipédia, Pão Por Deus é uma tradição religiosa que tem laços ao festival que domina esta estação do ano mas tem lugar no próximo dia, o dia de todos os santos e portanto coloca a ênfase no lado santo da estação em vez do lado do caos e terror!

A tradição tem raízes na noção de alimentar os defuntos e de pedir esmola em tempos de fome. Especificamente, a tradição de ir de porta em porta a pedir pão “por deus” é associada com a época do terramoto, que também aconteceu no dia de todos os santos. Hum… se não me engano, este facto piorou a situação ainda mais porque as velas acesas nas igrejas causaram incêndios, acima dos danos do terramoto em si. Mas seja como for, continua como tradição até aos dias de hoje. Contudo, como podem ver neste segundo vídeo (narrado em português brasileiro – desculpa!) a sombra dos estados unidos cai através a tradição. Vemos crianças a usar cornos do diabo, chapéus de bruxa e até fantasias de abóboras. Porém, têm também sacos decorados, e a procissão decorre durante as aulas em vez da noite, com os pais.

O Podcast preferido de todos os novatos na aprendizagem de português é o Practice Portuguese, e o Rui fez um vídeo com uma amiga sobre as tradições regionais do Pão Por Deus e o dia das bruxas. Falam também dos bolos tradicionais (receita aqui). Como sempre, falam nitidamente e num sotaque deste lado do Atlántico, que é sempre bem vindo.

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Hatters Gonna Hat

Este texto está a apodrecer na pasta de rascunhos desde Outubro de 2024 mas aqui estamos na semana gloriosa do chapéu e estou a sacudir o pó dos seus parágrafos e a prepará-lo para a publicação.

Fiquei curioso sobre a identidade deste homem, o Chapeleiro António Joaquim Carneiro.

A vida dele é assunto da maior banda desenhada de sempre. Ou seja, é ilustrada numa série de imagens pintadas em azulejos no museu do azulejo em Lisboa, onde fui após a maratona de Lisboa no ano passado. A história é menos interessante do que imaginei. O tipo não foi um herói nacional mas sim um chapeleiro (uau, à sério??) cuja habilidade e esforço resultaram em lucros impressionantes. Na época na qual o modista viveu (o século XVIII), sucesso ofereceu oportunidade de se juntar à burguesia, e ele mudei de casa da sua aldeia para a cidade onde encomendou o conjunto de azulejos para imortalizar a sua vida. E quem nega a eficácia desta estratégia? Quem teria ouvido do chapeleiro António Joaquim Carneiro em 2025 se não tivesse mandado alguém criar estas obras da arte?

Não existe mais informações, tanto quanto sei, sobre a vida do homem, além delas contidas nas imagens, mas há uma pagina que descreve minuciosamente a forma deste formato: “Painel rectangular. Medalhão oval no centro limitado por grinalda rematada por filactera com as extremidades enroladas.” O que se segue é uma descrição da imagem em si, mas os pormenores do enquadramento fascinaram-me. Não vou gastar energia em memorizar as palavras porque nunca mais as usarei, mas é fixe, não achas?

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Cante Alentejano

Quando escrevi sobre a mudança da marca diacrítica no site do Jazz Café, não tive qualquer plano para lançar uma série, mas olhem, vai continuando a semana dos chapéus. Hoje volto ao tópico do Cante Alentejano.

Desde 2014, este género musical é considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Esta honra é compartilhada com mais um género musical português, o fado. Consiste em dois cantores e um coro. O primeiro cantor é o ponto, e o segundo o alto. Mas cuidado, ambas estas palavras tem mais do que um significado. Eu sei menos que nada sobre a teoria da musica portanto fiz uma pesquisa e as definições relevantes do dicionário Priberam são o número 40 de Ponto: “Solista que inicia uma moda* no cante alentejano” e o numero 30 de Alto: “Solista de voz aguda que se segue ao ponto e que antecede a entrada do coro no cante alentejano.”

Portugal, August 2022: Tribute to cante Alentejano, monument in Monsaraz by Lago do Alqueva, Alentejo, Portugal

Se virem este vídeo, verem os dois solistas em ação: O ponto, de barba, na primeira fila, canta a primeira estrofe. Depois, o alto, quase escondido na segunda fila, entoa o primeiro verso da segunda estrofe antes do coro (incluindo ambos os solistas) cantarem o resto em uníssono. Este coro é o mesmo que colaborou com Zambujo no vídeo de ontem, O Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento. Neste contexto, um rancho é um grupo folclórico mas a palavra tem mais significados entre os quais “Grupo de pessoas, especialmente em marcha ou em jornada” também descreve o conteúdo deste vídeo!

I think the title of this video is wrong. I believe the song is called “A Moda do Chapéu

Quando ouço o cante alentejano, lembro-me sempre do Male Voice Choir (Coro da voz masculina) tradicional do País de Gales. Ambos têm raízes na cultura céltica, ambos nascem entre gente rural em aldeias marginais, longe do capital e ambos são cantados, tradicionalmente, por homens vestidos de roupa domingueira**. No caso do coro galês, isto aconteceu (tanto quanto sei) por preferência, mas em Portugal, a roupa tradicional foi reforçado pela influência conservador do Estado Novo que queria fomentar o património para os seus próprios motivos, mas basta do Estado Novo, já falei a mais daqueles gajos. Arruínam sempre tudo que eles tocam, e não quero associar o cante com o homem que caiu da cadeira.

Dw i’n hoffi y cerddoriaeth ma ond mae cerddoriaeth portugaleg ym well (I hope I didn’t screw that up too badly – I’m only about 6 months into the duolingo course)

Apesar das semelhanças superficiais, existem diferenças marcantes. Os galeses harmonizam mais. Não têm os dois solistas e não cantam de chapéu num supermercado. Segundo a Wikipédia, as origens do cante incluem elementos da tradição grega e dos colonizadores árabe.

A página da Wiki fala no seu último paragrafo, da estagnação do cante desde a segunda guerra mundial quando a mecanização da agricultura causou um declínio da tradição de cantar na lavoura. Como resultado o género sobrevive em grupos tradicionais como uma curiosidade ou uma atração turística. Não sou especialista, claro, mas parece-me que a forma não tem tenta flexibilidade como o fado, nem hipótese de se dinamizar por hibridação com outros estilos como aconteceu com o fado nas últimas décadas. E não importa assim tanto. Não precisamos de cante alentejano com um rapper a fazer beats entre as estrofes. Às vezes, podemos deixar a tradição em paz, perfeito no seu próprio nicho.

* AI meu deus, não quero sobrecarregar o texto de definições mas nota bem que “moda” também tem um sentido diferente neste contexto. É uma cantiga!

**Not a word I had come across. It means “relative to Sunday”. So roupa domingueira is your Sunday best! Not that anyone has Sunday best now, it was a dying concept even when I was young but I recognise it as something people had in books and comics written by the generation before!

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Dance, Dance

So I keep seeing people on Instagram doing this dance and I wondered why…

It didn’t help that I didn’t… hey, I’m writing in English. Why? …que nem sequer sabia o título da música. Perguntei ao Shazam. É isto:

O branco é Lucenzo, um português, e o negro um porto-riquenho que se chama Don Omar, ou simplesmente “El Rey”. Os dois cantam numa mistura de idiomas num iate, rodeados por uma meia dúzia de modelos aborrecidas. O vídeo, lançado em 2010, é um dos mais vistos no YouTube porque foi um grande sucesso em muitos países da América e Europa. Basicamente em todo o mundo exceto o Reino Unido.

Kuduro é uma palavra angolana e segundo o Google, pode ser uma combinação das palavras “Cu duro”. Danza, igualmente não é Português nem espanhol: acho que é crioulo.

Mas onde nasceu a dança*? Não faz parte do vídeo original. Quem inventou?

Sinceramente não faço ideia. Tentei três vezes fazer a pergunta no reddit mas cada uma foi apagado instantaneamente. Sei lá porquê. Mas tenho a certeza de que a dança é portuguesa. Outros países têm outros passos. Veja-se por exemplo este vídeo de três portuguesas e três espanholas a dançar lado a lado.

Ah ah, sou um crítico cultural, trazendo as notícias de há 15 anos. Espero não me ter enganado. Estou a ler nas entrelinhas por causa da conspiração do reddit para esconder a história deste fenómeno cultural!

*Re-reading this, I hope it’s obvious I’m talking about the dance in the video, not kuduro itself, which is also the name of a dance but is not the dance she’s doing… ai, it’s a bit complicated, sorry.

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A Vida de Estudante

Um dos meus objetivos durante este ano é estudar um curso da Universidade Aberta. Já tentei candidatar-me há algum tempo mas não suportei o site dela. Voltei a carga durante a semana passada e por acaso as candidaturas estavam abertas até ao dia 17 de Junho. Ora bem, hoje é o dia 17, e… inscrevi-me num curso chamado “Formação Modular Certificada em Literatura e Cultura Portuguesas”. Sinceramente, preferia a FMC em Literatura e Cultura Portuguesa, o que é igual mas tem “História Cultural e Artística Portuguesa” em vez de “Temas de Literatura Portuguesa” como a terceira unidade do curso. Infelizmente, este curso é ausente do formulário de candidatura e depois de tanto tempo não aguentei mais. Escolhi a segunda opção.

Ah ah, aqui vou eu mais uma vez, a aprender coisas novas (se for capaz!). Mal tenho noção de como funciona o curso mas uma longa viagem começa com um único passo e neste caso o passo em questão consiste em 35 euros e uma hora frustrante de preencher o formulário.

Me and the boys getting ready for our first seminar
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Coming Soon #4: Capitão Fausto

Em quarto lugar, temos os Capitão Fausto, que vão tocar em Dalston em Maio. O cantor da banda é Tomás Wallenstein, que apareceu naquele vídeo dedicado a Sérgio Godinho. A banda toca música rock e o estilo dela mudou ao longo dos anos (este vídeo foi gravado há mais do que uma década) mas parece-me que os membros têm uma visão criativa que é original e que me chama a atenção apesar de não ser uma banda que adoro cem por cento (a voz do Wallenstein, por exemplo, não é exatamente esmagadora). Em vez de uma sala de concertos, este espetáculo decorre num pub. Acho irresistível a ideia de ver esta banda famosa num lugar tão íntimo.

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Manual SOS – Madeirense Puro

Comprei este livro educativo porque queria desvendar os segredos daquela criatura admirável, a Madeirense. E estepilha, não me desiludiu! Ua cão!

O texto dá muitos exemplos das expressões idiomáticas e do vocabulário do arquipélago, assim como da cultura, mas, para mim, as páginas mais úteis são as que explicam o sotaque e que realçam as diferenças entre o da Madeira e o da ilha de São Miguel nos Açores*. Já ouvi montes de madeirenses a falar e sei que existem semelhanças entre os dois sotaques mas não percebi especificamente como a voz madeirense diverge da voz micaelense. Em suma é isto: fala de boca bem aberta. Esta dica, combinada com as páginas sobre a substituição de vogais dá para entender porque os madeirenses falam assim.

As páginas do livro têm imensas cores, com ilustrações bonitas e, em algumas há códigos QR para ligar a uma gravação ou um recurso online para esclarecer algum tópico. O livro é muito divertido e elucida muitas dúvidas. Recomendo aos homens que têm uma esposa madeirense e como resultado “têm tude“. Se não entendes patavina quando ela fala precisas disto!

Ah mãe, ca cagança!

*Nunca antes me perguntei “porque é que se diz OS Açores enquanto são ilhas e ilha é feminina?” É porque existe uma regra de que lugares como O Porto e A Costa do Marfim, cujos nomes se referem a uma coisa específica tendam de adotar o género daquela coisa, e neste caso um açor é uma espécie de ave de rapine (o nosso “goshawk”)