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Agora e Na Hora da Nossa Morte – Susana Moreira Marques

 

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Diz-se que não se pode avaliar um livro pela capa, mas confesso que comprei este livro por esse motivo só. Os livros da editora Tinta da China são sempre bonitos. Este tem capa mole cor de lavanda com cantos arredondados. O assunto é igualmente bonito, apesar de ser menos alegre. O assunto é a morte. A escritora viajou com profissionais da saúde e de cuidados paliativos para visitar pessoas com pouco tempo de vida e familiares dos recém-falecidos, numa paisagem fora das grandes cidades, onde parece que um modo de vida está a morrer também. Ali, ela ouviu as histórias das pessoas, e escreveu os pensamentos delas sobre a morte, a vida e o que é importante no fim de contas.

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1986 A Série – Opinião

34983707_1693274110769703_6285563171725901824_n(1)Uma das contas portuguesas que eu sigo no Instagram é a do Nuno Markl. Durante o ano passado começou a deixar indicações dum novo projecto – uma série de comédia que estava a escrever sobre as eleições de 1986 entre o socialista Mário Soares e o conservador Diogo Freitas do Amaral. O Markl é conhecido (entre outras coisas) pela sua nostalgia dos anos oitenta e o seu amor pela cultura daquela época. Fiz 17 anos em 1986 e por isso fiquei muito entusiasmado para ver o resultado. Não temos canais portugueses aqui em casa – ou seja, se existem, não faço ideia de como encontrá-los, porque há demasiados botões no comando. Mas não me importo porque o site da RTP está disponível para os coitados dos cidadãos do Brexitland, o site deixá-nos ver os programas culturais dos nossos amigos e vizinhos.

Cá para mim, como estrangeiro, o estilo da série parece uma mistura de dois estilos: o da série americana de hoje, e o duma comédia daquela época. Há 13 episódios, cada um entre 40 e 45 minutos. A cinematografia é bastante moderna mas às vezes os actores utilizaram duplos olhares e expressões faciais muito exageradas, como os actores de comédias tradicionais. A trama trata-se dum grupo de adolescentes. O primeiro é o Tiago, fã dos Smiths (a minha banda preferida!), e filho dum comunista que deve “engolir o sapo de Soares”. Ele apaixona-se por uma “betinha”, cujo pai é apoiante do “sacana de facho”. Os dois e os amigos deles enfrentam-se os desafios da vida escolar.

29094830_206249366629505_2264383208869068800_nHavia muitos aspectos engraçados, tal como o sarcasmo da rapariga gótica e a raiva exagerada do pai do Tiago. Também gostei da nostalgia da cultura compartilhada pelos dois países – música, filmes, computadores, roupas e livros. Às vezes tornou-se ligeiramente auto-indulgente, mas gostei apesar disso.

Claro não sou especialista em televisão portuguesa, e custa-me muito entender os sotaques e os ritmos da fala dos actores, portanto é provável que a minha opinião não conte para nada, mas se quiseres saber o que é que pensei, lá está!

Spoiler: Soares venceu. Então não precisas de ver

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Acho Que Posso Ajudar (David Machado)

notebook_image_903781Gostei imenso* deste livrinho que faz parte da coleção “DN Contos Digitais”. É o segundo conto da coleção que já li (o primeiro foi “A Terrível Criatura Sanguinária” de Nuno Markl). É um conto infantil e muito divertido. Contém todos os elementos que constituem uma boa história infantil: há monstros, há bruxas, há mágico que torna tudo possível dentro do mundo pequeno da história, e há um slogan repetitivo: “acho que posso ajudar” que se diz ao início de cada novo episódio no crescimento e espalhamento de caos delicioso! Afinal, o herói da história consegue restabelecer a ordem no mundo, que é uma parte essencial num bom conto infantil porque sem este ingrediente, os filhos nunca ficam calmos o suficiente para adormecer!

* É muito interessante que toda a gente brasileira trocou “imenso” para “imensamente” porque tenho certeza que os portugueses dizem “gosto imenso” mas concordo que, neste caso a versão brasileira faz mais sentido porque “imensamente” é um adverbio e “imenso” é um adjectivo.


Thanks very much to Caroline, Lio and Ney who all offered corrections on this one.

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Opinião – Ruínas (Hugo Lourenço)

30086640_1629230217173729_341835609570017280_n(1)Ouvi falar deste livro através dum canal de Booktube. Conta a história de dois homens – o Daniel e o Ricardo e um terceiro, o narrador. Ou seja, trata-se da vida do narrador e a sua relação com estes dois indivíduos. Os dois têm fundos e vidas muito diferentes, e acho que o narrador está à procura das causas da diferença. Pergunta-se, se fizesse algumas coisas diferentes, se as vidas dos amigos teriam sido melhores. A acção desenrola-se no Portugal de hoje, e os três sentem os efeitos do clima económica e social.

Percorrendo a história há uma série de conversas entre as personagens nas quais, falam de diversos assuntos – suicídio, o mercado editorial, Marilyn Monroe. Achei-os fascinantes, como se Haruki Murakami decidisse escrever um diálogo socrático. (Não me peçam para justificar a comparação com Murakami porque não sou capaz). Às vezes, além de ser o meu preferido parte do livro tornou-se uma fraqueza também porque durante os últimos capítulos o narrador imaginou uma conversa com um amigo desaparecido, e explicou os seus sentimentos e arrependimentos sobre a situação. Depois, proferiu um discurso que descreve várias cenas de literatura e cinema e utilizou-as para acrescentar mais pormenores.

Sinto que recebi demasiada informação: explicou demais e não mostrou o suficiente. Cá para mim, como leitor, prefiro tirar uma mensagem ou um significado do enredo, mas fiquei com a impressão que as ideias cresceram até ao ponto em que se tornaram mais importantes do que a história.

Mas sobretudo, aproveitei o tempo na companhia destes personagens e das suas conversas, e estou contente por ter lido um livro que não é aborrecido e não é difícil demais para um estrangeiro!

 


Thanks Fernanda for corrections in the main body of the review

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Defeitos dos Romances Ingleses – Cyril Connolly

This is an attempt at translation. The original is so spongey though, and I couldn’t even bring myself to ask someone to correct it for me, so I am blowing the #uncorrectedportugueseklaxon

Defeitos dos Romances Ingleses – Cyril Connolly (De “O Parquinho Condenado”)

Existem três, gigante, quase irremediável:

1. A Magreza de Matéria

IMG_20180128_53624A vida inglesa é, no maior parte, sem aventura e sem variedade. Noventa por cento dos autores ingleses vêm da classe média; as experiências de qual ambos sexos podem levar inspiração limitam-se ao três ou quatro – uma juventude quieta, uma educação numa escola privada, uma universidade, alguns anos em Londres ou as províncias para ganhar uma profissão uma esposa, uma casa e umas crianças: matéria para um livro, talvez, que as editoras, e a precisa de se manter si mesmo, esticam até ao três ou quatro. Um sistema rigoroso de classe lança uma manta por cima de qualquer tentativa para aumentar estes limites. Um inglês típico da classe média simplesmente não consegue compreender bóxeres, gângsteres. tascas, negros, e até se puder, achá-lo-ia completamente sem a força e sem o cor do equivalente americano

2. A Pobreza de Estilo

Existem apenas dois métodos de escrever um romance em inglês, um por usar o estilo bastante inteligente e ligeiramente acadêmico da classe média, um estilo que depende, para a sua força, da combinação do adjectivo com o nome – ou do dois adjectivos com o nome:

“Com o seu olho esperto e profissional, Mr Cardan achou que pôde detectar, na expressão do seu hospedeiro, certas sintomas mal perceptíveis de incipiente embriaguez.”

Este estilo é o instrumento típico da ficção inglesa e tem um grande preciso de sintonizar-se. O outro tenta evitar a atitude de Oxford, conscientemente intelectual, por método de simplicidade extrema. E.M. Forster, David Garnett, Dorothy Edwards escrevem nesta maneira, mas noutras mãos, torna-se facilmente caprichosa e timida. Romances ingleses parecem estar completamente encadeado a estas duas formas literárias. Não há qualquer lingua franca que corresponde com o robusto estilo coloquial dos Estados Unidos, que não é o calão dos criminosos e contrabandistas tanto quanto o discurso vigoroso e ativo das jornalistas e escritores de publicidades que escrevem tantos dos melhores romances americanos. Nós, contudo, não temos romances nenhuns em ingles falado tal como o “Sweeney Agonistes” de T.S. Eliot.

3. A Falta de Poder

Isso custa-me muito a definir mas quero dizer uma falta de poder intelectual e de domínio da situação, qualquer maturidade (tal como se encontra em todos os romancistas grandes, ainda que sejam tão diferentes como o Tolstoy e o Henry James), e de poder de narrativo, de impacto, concisão e sentido dramático. Este é a falta mais grave dos autores ingleses – quase nunca se encontra um vestígio desse nos escritores mais novos, embora fiquemos boquiabertos por causa dele nos contos mais compridos do Maugham, por exemplo. Acho que um razao pela ausencia é que os autores ingleses nunca estabelecem uma relação com o leitor que chama respeito. Os escritores americanos, Hemingway, Hammett, Faulkner, Fitzgerald, O’Hara, por exemplo, escrevem instintivamente para homens dos seus próprios idades, homens que desfrutam as mesmas coisas. “Olha, andes devagarinho, nao percas isto!” parecem dizer, “Isto vai te interessa – talvez tenhas visitado o mesmo sítio, ou talvez também a mesma coisa te aconteceu”. É uma intimidade que, no pior caso, assume em breve um estilo como se o autor fosse um cão, mas da forma geral, sublinha tudo que que é natural, fácil e sem repressão no autor numa maneira que é apenas possível por método de conversar com um contemporâneo. Romances ingleses parecem sempre ser escrito para os superiores ou inferiores, pessoas mais novas ou mais idosas, ou do gênero oposto. Quanto os livros sobre quais já dei uma opinião neste ano, apenas o “Mr Norris Muda de Comboio” de Christopher Isherwood e o “Burmese Days” de George Orwell têm aquela sensação decente e inspiradora de igualdade. Suponho que é a culpa da clima. Há alguma coisa nela que emascula e arranja todos os escritores ingleses, substituindo a timidez e cuidado em vez de liberdade e curiosidade, portanto toda a planura, chatice e fraqueza do romance – portanto, também sobretudo, a estagnação. Pois, ficção inglesa fica estagnante, um grande pântano, espalhado com tufos infrequentes e poças de água morna. De vez em quando, um crítico avista um luz e anda à procura disso. Distrai-o durante um tempo, e até parece que arde mais brilhante, então tremeluz com um cheiro de gás, e apaga-se.

E cada livro que critica é um prego no caixão do crítico. Assim como a abelha rainha e o trabalhador, é a qualidade da alimentação que concretiza se for um crítico bom ou mau. Pode ter todos os talentos imagináveis, mas se se tiver só livros ruins sobre quais escrever seria condenado. Pode tentar afastar do destino, mas a sua falha seria inevitável. Há três tipos de crítico: (1) os cínicos que sabem que estão vencidos, que produzem textos consistentemente medíocres e são completamente confiável tendo largado dos seus sentido crítico para um espécie de amável avaliação ou desapontamento educado; (2) os que anda a lutar, que são maiormente insatisfatório, já que se viram e se rodopiam, que estão em perigo de loucura, e param de estar pontual com o seu trabalho por razões psicológicos; (3) e os que faltam qualquer conhecimento do problema que andam a trabalhar alegrementes durante trinta ou quarenta anos e ficam amargamente magoadas quando percebem que têm sido enganado pelas editoras e têm-se tornado ridículos nos olhos do povo. As dificuldades do crítico aumentam-se porque existem apenas quatro ou cinco cargos semanais que carregam um bocadinho de dignidade, cujo ocupantes só precisam de escreverem sobre um livro, ou até nenhum, sabendo que serão incluído nas suas obras coletados, porque são os herdeiros do cargo de Arnold, Hazlitt ou Sainte-Beuve. Os consolações restantes do crítico do romance são que se ler dois livros por dia e escreve para a menos três jornais, é capaz de ganhar quatrocentos libras por ano, e que, de qualquer maneira, será publicado regularmente e, porque toda a gente, cedo ou tarde, escreve um romance, será tratado com consideração.

Acabo de receber o “Almanaque do Egoísta Velho” de 1956. Quem envia estas coisas? “Livros pelos próximos cinco anos terão que ter um sabor ‘nacional’. Nao pode-se enganar. Assim como uma abóbora que ganha prémios, num festival de colheita, serão comprido, popular, sem gosto e cheia de sementes. Grandes anos para proibições e abdicações, a hera de apatia crescerá mais alta no tronco do talento, aumentando negligência de E.M. Forster, porque a sua excelência está inconveniente, de Norman Douglas, Max Beerbohm e os que vivem no estrangeiro sem política.” Eis um pedido aos emigrantes: “Voltem para lar! Não há felicidade fora da lista telefónica. Aproximamos o que os místicos chamam ‘O almoço de domingo da alma.’”

Dezembro 1935

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Comentário sobre “A Célula Adormecida” de Nuno Nepomuceno

Finalmente terminei de ler este livro gigantesco. Tem 577 páginas e prometi-me* que leria 20 páginas por dia para ler o livro inteiro dentro duma mês. Falhei. Fiz uma pausa no meio e não recomecei a sério até à semana passada.

O livro é um romance, tipo “Thriller”, mas é diferente duma típica história deste género. Os eventos desenrolam em Lisboa, excepto alguns capítulos que acontecem na Turquia. O enredo tem a ver com um grupo de terroristas do autoproclamado Estado Islâmico. No início do livro, no dia da eleição legislativa, fazem um atentado no centro de Lisboa, detonando uma bomba num autocarro. Depois, levantam a bandeira do Daesh no monumento da revolução de 25 de Abril. No mesmo dia, o vencedor das eleições, o novo primeiro-ministro, suicida-se. Um professor, que conhecia um dos terroristas mortos durante o ataque foi recrutado pelo SIS, para ajudar na caça dos outros antes da cimeira da NATO em Lisboa daí a um mês. Entretanto, uma jornalista começa a investigar o mistério do aparente suicídio, seguindo o pedido da viúva do político que fica convencida que ele fora assassinado.

Ambos têm problemas: o professor é assombrado por um passado escuro e a jornalista tem cancro. Os dois encontram-nos na Turquia e juntam-se para descobrirem a verdade.

O que é impressionante é que durante esta história de atrocidades terroristas, o escritor tentou com muito esforço evitar tratar todos os muçulmanos como terroristas (um problema comum em muitos thrillers). Explicou vários aspectos da sua fé, a cultura e a história do Islão, e a história recente da Síria e do Médio Oriente. Isto parece uma fraqueza no romance porque reduziu o suspense do enredo, mas acho que foi uma decisão do escritor. Hoje em dia há tantos mal-entendidos no mundo, e tanto ódio pela religião que nos forneceu com tantos grupos armados, que penso que é bom lembrar que a maioria das vítimas do terrorismo são muçulmanos, e aqueles muçulmanos de vários países receiam os efeitos da guerra nos seus próprios países ainda mais do que nós temos medo do terrorismo nos nossos países.

A Célula Adormecida: AmazonOfficial SiteBertrand

Thanks Raphael, Hugo, Sofia for the corrections

*=This means “I promised myself”. Someone suggested “Comprometi-me” (“I made a commitment”) which is a good option too. It wasn’t what I was trying to say but maybe “I promised myself” isn’t a phrase that’s used often in Portugal…?

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Instagram picture from some time ago when I was still just 90 pages in