Posted in Portuguese

O Amor Infinito Que Te Tenho

Livro do Paulo Monteiro

Hum… O livro tem 60 páginas e contém 10 contos. Obviamente, estamos na presença dum autor que usa um estilo bem lacónico. As histórias são esquisitas, escuras, perturbantes – mais parecidas com os contos de Franz Kafka do que um BD tradicional. Na verdade, apenas dois contos têm a marca duma BD: balões de texto. Os outros são, propriamente, pequenas peças de ficção, alguns pouco maiores do que um tweet, ilustrados com desenhos escuros ou arrepiantes. Fico contente por ter lido mas não tenho a certeza se apreciei. Vou colocá-lo numa prateleira longe da minha cama para não ter pesadelos.

Posted in Portuguese

Esteja em Alerta*

sunblockrobo02afA DGS (Direcção Geral da Saúde) emitiu um aviso ontem por causa duma previsão de temperaturas elevadas e ventos fortes nas terras altas e à beira do Atlântico. O conselho que dão é transportar uma garrafa de água a todo tempo para não ficar desidratado, ficar em casa (se for possível) durante as horas mais quentes do dia com as cortinas corridas, ou, ainda melhor, as persianas ou portadas fechadas para excluir os raios do sol, e vestir roupas leves e frescas

Fora de casa, o DGS recomenda que as pessoas usem protector solar com índice de proteção bem alto e óculos de sol.

Além disso, avisa que toda a gente evite refeições quentes ou “muito condimentadas”, embora esta última dica não faça sentido nenhum: os países bem conhecidos pelas suas cozinhas nacionais bem condimentadas são os países tropicais: Índia, México, e as ilhas Caraíbas, por exemplo, todos os quais têm climas muito mais quentes do que Portugal. Um caril com arroz nunca fez mal a ninguém!

Pois claro, cada pessoa é diferente. Os mais vulneráveis devem tomar ainda mais cuidado com a saúde do que a maioria.


Thanks to Thais, Carla for successive waves of help on this

*=I originally posted this on italki as “seja alerta – o seu país precisa de mais lertas” which is a literal translation of a crap joke “be alert – your country needs lerts”. It doesn’t really work though because being alert is an “estar” situation and being a lert is a “ser” situation.

Posted in English, Portuguese

Unexpected Prepositions

Just straight doing my homework online now: this is about grammar and unexpected prepositions in sentences. For example

  • “O cheiro a gasolina” (literally “the smell at petrol”)
  • “Eu conheço apenas dois abrunheiros ao alcance dum homem de meia idade numa bicla” (“I know of only two blackthorn trees to the reach of a middle aged man on a bicycle”… which is a phrase most of us use every day)
  • “As mulheres que fizeram parte da luta para os direitos das mulheres votarem” (the women to took part of the struggle for women’s suffrage”)
  • “Viciado no Facebook” (“addicted in Facebook”)

I was hoping there’d be a way of thinking about prepositions, or the meaning of prepositions that would make it easier to select one if I came across a situation, in the wild, that seemed to need one. Currently what I do is translate in my head from an english phrase I want to say and choose the portuguese preposition that matches. So with the last one, for example, I would have said “Viciado ao Facebook”.

Unfortunately there doesn’t seem to be an easy answer to this – you just have to learn the whole phrase – viciado em… and use it as much as possible to make that way of talking stick. Presumably, after a while, it gets easier…

Incidentally, sometimes different prepositions can be used in different contexts. For example, O Cheiro a gasolina” is the smell of gasoline in the abstract, whereas if you are being more specific it would be “o cheiro de gasolina” and if you were talking about an actual puddle of it you’d use “da”. In Hugo Lourenço’s book Ruínas he writes of his memory of car journeys with his family: “E poucos segundos depois o cheiro a gasolina infiltrava-se as narinas e eu inspirava-o com prazer. Sempre gostei do cheiro da gasolina, hoje não é diferente”. I think in the first instance he’s talking about a gasoliney smell and in the other he’s talking about times when he has smelled actual gasoline.

Petrol. I mean Petrol.

I don’t think it’s very clear-cut though. For example, I’ve seen two versions of a well-known quote from Apocalypse Now, which gives me an excuse to photoshop it twice:

primary__20_20_20_20_20apoc-thumb-400x211-30117

So I think that’s “I love a Napalmy smell in the morning” on the left and “I love smelling whatever Napalm happens to have been dropped on the village in the morning” on the right.

Anyroadup, I’m meant to do three examples of each so here goes. I’ll count the photoshop as one.

O cheiro a…

  • O cheiro a lavanda lembra-me da minha avó.
  • Lembro-me do verão de 1976: o calor, os dias compridos e o cheiro a relva cortada no ar.

O cheiro de…

  • Abri o guarda-roupa e o meu nariz foi assaltado pelo cheiro de lavanda.
  • Nunca mais voltarei para o restaurante: a comida foi mal cozinhada e o cheiro de suor do empregado era nojento!

Ao alcance

  • O preço destes moveis está ao alcance de alguém, de qualquer nível de rendimento.
  • Amarrei o cão a uma árvore e deixei uma tigela de água ao alcance da corda.
  • O golo dos espanhóis encontrou-se ao alcance do pé de Ronaldo mais uma vez

Fazer parte de

  • Quando era jovem, fiz parte duma peça de teatro.
  • O governo de Trump não faz parte da aliança das nações do oeste tal como na época do presidente Obama, ou os seus antecedentes.
  • Quero fazer parte duma corrida de dez quilómetros no final do verão.

Viciado em

  • Durante a minha adolescência, fiquei viciado em cafeína.
  • O sistema económicas do mundo está viciado em óleo cru.
  • A minha filha está viciada em shippar personagens de mangá

Update – a couple of days later

O cheiro a…

  • Durante os anos, a escola ficou permeada pelo cheiro a couve.

O cheiro de…

  • O cheiro de couve informou-me que o jantar estava quase pronto.

Ao alcance

  • Se trabalharmos juntos, um aumento de desempenho de 50 por cento está ao nosso alcance.

Fazer parte de

  • Se quiseres fazer parte da peça de teatro, é preciso ensaiar muito connosco

Viciado em

  • Durante os anos oitenta, a minha avó ficou viciada na série “Dallas”
Posted in English

The Shipping Forecast

I think this might be my favourite example of weird english slang being absorbed into portuguese. So far I have only come across brazilian examples, but like the US and UK, these things have a way of making their way across the atlantic. For those of you who don’t have kids of a certain age, “shipping” is when you speculate/imagine/fantasise about two people, real or imaginary, who are, or should be in a relationSHIP. From what I can tell, tween girls seem to do it a lot with males: fictional characters, pop stars, or whoever. I’m not sure why their being gay should be so exciting, but who can understand anything when it comes to tweenagers? Often there’s a ship name like Rydon (Brendon Urie and Ryan Ross) or Klance (Keith and Lance from the series Voltron). It’s always kinda been around in celebrity gossip (Brangelina, for example) but seems to be a huge deal in fandoms, with people arguing over matches between diverse and unlikely characters.

I just love that it’s become a proper portuguese verb, although I’m a little sad to see it’s not on conjuga-me.net yet. Most new additions to the language from english end up being AR verbs because they’re more regular than ER or IR.

The video below contains (a) brazilian accent and (b) coraçõezinhos

Posted in English

Possessive Pronouns and Round Skirts

So I’m trying to sort out some basic grammar that I probably should have worked out a long time ago. To do this, I’ve been working with a different teacher who lives in the UK, simply because I don’t have the skills to be able to even ask the question in Portuguese and I needed someone who would understand me asking in english

Today: What’s the difference between these ways of exressing possession.

  • A sua propriedade
  • Propriedade sua
  • A propriedade dele

It always seems a bit random and I’ve never quite been able to spot a pattern. The third one is the obvious odd one out because it’s the only one that makes it clear that it’s the property of “him”, whereas the others could all be him, her, them, or, if you’re being formal, the person you’re speaking to, so in a way that helps – you could use when you wanted to be very specific about who it belongs to. In practice, I’m told, it’s also used in less formal, spoken situations.

As for the first and second, the answer seems to be simpler than I thought though: it just depends whether you have a definite article in there. If it’s a specific thing: this is his property, it’s “a sua propriedade”, whereas the second quote, which comes from my review of the film Comboio de Sal e Açúcar is about the subject’s attitude: he treated the passengers as his property.

There are some examples given here on Ciberdúvidas:

  • O livro é de um amigo meu [indefinite article: it belongs to a friend of mine]
  • O livro é do meu amigo [definite article: it belongs to my friend]

Now, here’s the shock though: I had been thinking of these words – seu, meu, minha, etc as possessive pronouns, but they’re not, they’re determinantes – more like adjectives, really: In “o meu amigo”, “amigo” is the noun and “meu” just determines whose friend he is. Meu can also be a possessive pronoun but only when it stands in for the noun.

“O Donald, as suas mãos são pequenas; as minhas são grandes”. In this sentence, “suas” is another determinant but “minhas” is a possessive pronoun because I’m using it instead of saying the whole noun again “as minhas maãos”. In english it’s doing the job of “mine” instead of just “my”. There are some other examples, explained in portuguese on Ciberdúvidas.

OK, simple, I can understand a couple of simple rules like that. I guess, though, it’s like most rules in english: you obey them only insofar as you can do so without writing something ugly. So I cam across a counter-example within about ten minutes of this conversation happening in the song “Saia Rodada” by Carminho. I’ve pasted the lyrics below and highlighted forms that match in green and the one that doesn’t in red.

Vesti a saia rodada
P’r’ apimentar a chegada
Do meu amor
No mural postei as bodas
Rezei nas capelas todas
Pelo meu amor
Vem lá de longe da cidade e tem
Os olhos rasos de saudade em mim
E eu mando-lhe beijos e recados em retratos meus
Pensa em casar no fim do verão que vem
Antes pudesse o verão não mais ter fim
Que eu estou tão nervosa com esta coisa do casar
Meu Deus
Vesti a saia rodada
P’r’ apimentar a chegada
Do meu amor
No mural postei as bodas
Rezei nas capelas todas
Pelo meu amor
Por tantas vezes pensei eu também
Sair daqui atrás dos braços seus
De cabeça ao vento e a duvidar o que faz ele por lá
São os ciúmes que a saudade tem
E se aos ciúmes eu já disse adeus
Hoje mato inteiras as saudades que o rapaz me dá

(source)

I think all that’s happening here is that she’s stretched the normal rules to make the rhyme with “adeus” work in the next triplet. I’ve added it to my list of questions for next time.

Anyway, as a side note, I wondered what a “saia rodada” was anyway. A round skirt? I googled it and saw a load of pictures of… well… skirts. So I asked online and was told it would all make sense if I searched for videos of “saia rodada danca” but it didn’t work because there’s an insupportable brasilian rock band called saia rodada and this is the first video I got.

But then a portuguese guy mentioned that it was “folclorico” so I added that into my search and had more luck. Apparently it’s a long, swishy skirt that is used in a lot of dances because of the way it moves. Here are some people demonstrating. Tag yourself, I’m the guy in the grey trousers.

WHew! It’s been a long time since I wrote this much about grammar and general musings. Well, come for the determinantes possessivos, stay for the grupo folclórico.

Posted in Portuguese

1986 A Série – Opinião

34983707_1693274110769703_6285563171725901824_n(1)Uma das contas portuguesas que eu sigo no Instagram é a do Nuno Markl. Durante o ano passado começou a deixar indicações dum novo projecto – uma série de comédia que estava a escrever sobre as eleições de 1986 entre o socialista Mário Soares e o conservador Diogo Freitas do Amaral. O Markl é conhecido (entre outras coisas) pela sua nostalgia dos anos oitenta e o seu amor pela cultura daquela época. Fiz 17 anos em 1986 e por isso fiquei muito entusiasmado para ver o resultado. Não temos canais portugueses aqui em casa – ou seja, se existem, não faço ideia de como encontrá-los, porque há demasiados botões no comando. Mas não me importo porque o site da RTP está disponível para os coitados dos cidadãos do Brexitland, o site deixá-nos ver os programas culturais dos nossos amigos e vizinhos.

Cá para mim, como estrangeiro, o estilo da série parece uma mistura de dois estilos: o da série americana de hoje, e o duma comédia daquela época. Há 13 episódios, cada um entre 40 e 45 minutos. A cinematografia é bastante moderna mas às vezes os actores utilizaram duplos olhares e expressões faciais muito exageradas, como os actores de comédias tradicionais. A trama trata-se dum grupo de adolescentes. O primeiro é o Tiago, fã dos Smiths (a minha banda preferida!), e filho dum comunista que deve “engolir o sapo de Soares”. Ele apaixona-se por uma “betinha”, cujo pai é apoiante do “sacana de facho”. Os dois e os amigos deles enfrentam-se os desafios da vida escolar.

29094830_206249366629505_2264383208869068800_nHavia muitos aspectos engraçados, tal como o sarcasmo da rapariga gótica e a raiva exagerada do pai do Tiago. Também gostei da nostalgia da cultura compartilhada pelos dois países – música, filmes, computadores, roupas e livros. Às vezes tornou-se ligeiramente auto-indulgente, mas gostei apesar disso.

Claro não sou especialista em televisão portuguesa, e custa-me muito entender os sotaques e os ritmos da fala dos actores, portanto é provável que a minha opinião não conte para nada, mas se quiseres saber o que é que pensei, lá está!

Spoiler: Soares venceu. Então não precisas de ver

Posted in Portuguese

Opinião – Graças e Desgraças da Corte de El-rei Tadinho (Alice Vieira)

6fda4d73742fbed31b2b7ac080c46e23cde7c0c8Gostei muito deste livro infantil. O rei tenta manter a ordem no seu pequeno reino, com leis antigas que guiam a sociedade, mas a chegada dum dragão de cinco cabeças que se zanga por causa dum decreto que exige a sua morte provoca uma reacção em cadeia que dá em vários episódios com o seu conselheiro, a bruxa de estimação do país, uma fada, e no fim das contas, centenas de filhos.
Às vezes, o livro fez-me soltar umas gargalhadas. É tão engraçado. Amei!

Posted in English

T-shirt

Posted in Portuguese

Opinião: Comer Beber (Filipe Melo e Juan Cavia)

502x
*spoilers*
Comer Beber é uma banda desenhada que contém duas histórias. As duas foram escritas por a revista Granta, embora apenas a segunda tenha aparecido porque a primeira não foi editada até que o prazo tenha acabado.
Na primeira história, um dono de um restaurante polaco esconde uma garrafa de champanhe de um capitão alemão logo no inicio da guerra, e fica com ele quando o restaurante é destruído por uma bomba. Na segunda, um policia viaja desde o Texas até o Arizona para comprar uma fatia de tarte de maçã para atender o pedido de um prisioneiro que está condenado a morte.
As historias são curtas e mais reflexivas do que os outros livros escritos pelos mesmos autores que já li (“Os Vampiros” e a série de “Dog Mendonça e Pizzaboy“). Realmente alimentam a reflexão do leitor, de modo literal, se perdoarem o meu trocadilho!

Thanks Simone for the corrections. Simone is Brazilian (all the europeans must have given up on me!) so some of these corrections might not be 100%. She also wanted to change “Banda Desenhada” to “Quadrinho” but I was sure enough about that to stick to my guns!

Posted in Portuguese

Opinião: O Baile (Nuno Duarte e Joana Afonso)

27802721#uncorrectedportugueseklaxon

O Baile é uma banda desenhada portuguesa. Ouvi falar dele há algum tempo quando pedi uma amiga para sugestões de quais escritoras portuguesas vale a pena ler. Um dos dois autores do Baile é feminino. O enredo é uma história dum agente do PIDE nos anos sessenta. Chega numa aldeia à beira do mar para investigar uma desaparecia. O que encontra durante o percurso da investigação mostra que nada é como parece. O povo da aldeia está sob ataca cada lua cheia por um exercito de mortos-vivos que vêm das ondas e raptam quem possam. Toda a gente culpa uma mulher (há sempre uma mulher que traz todas as problemas, não há?) mas a verdade é muito diferente. É interessante e arrepiante mas podia ser mais comprido para deixar o enredo se desenvolver melhor.