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Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei

Alice Vieira

Mais uma vez, virei a última página de um livro e pensei “Quem me dera ter desenhado uma árvore genealógica daquelas personagens” porque confesso que perdi o fio à meada muitas vezes e por isso não gostei da leitura tanto quanto os portugueses que lhe deram 4 ou cinco estrelas no Goodreads.

Alice Vieira escreve muito bem, e geralmente os livros dela são muito acessíveis. Talvez fosse por causa disso que não comecei com a devida cautela! Geralmente com tantos protagonistas eu pego num lápis e faço um diagrama das ligações entre eles*.

Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei” conta a história de várias mulheres que moram numa aldeia provinciana, que têm os seus próprios sonhos mas que vivem num ambiente opressivo. Existem alguns homens, mas assumem um papel menor. Também há um cheiro a bruxaria mas fiquei tão confuso que nem sequer tenho certeza de se magia existe no mundo do livro ou se era apenas uma expressão da imaginação delas. Eu sei, sou idiota.

Enfim, não faz mal. Talvez volte a lê-lo um dia.

*I originally made this feminine: tantas … elas, because the true protagonists of this are all wammens, but I suppose since it’s talking about books in general, and most books will have da mens in it, I ought to make it masculine again

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Idiocracy

This starts in a fun way but gets a bit depressing. I’d just read as far as the film recommendation and then stop if I were you- Sorry.

Ando a estudar o “Português em Foco” apesar dos problemas, porque o livro é repleto de exercícios interessantes. Hoje, conversámos na aula sobre tendências demográficas em Inglaterra e em Portugal. A conversa fez-me lembrar a abertura do filme “Idiocracy” que foi muito citado durante as primeiras semanas da presidência do ex-presidente e ex-homem-não-culpado, Donald Trump. O filme é engraçadíssimo, e recomendo para quem ainda não viu.

O texto lido pelo narrador não explica bem o processo de evolução. Por exemplo, diz que “os mais fortes, os mais inteligentes, e os mais rápidos reproduzem-se mais do que os outros” mas isso é uma falácia: os mais adaptados ao seu ambiente sobrevivem e reproduzem-se, portanto o “ponto de viragem” do qual o narrador fala não é, na verdade, um ponto de viragem mas sim a continuação das mesmas tendências.

Se os mais inteligentes ficarem extintos, não será porque são inteligentes mas porque foram as primeiras pessoas a aceitarem certos “memes”. Memes? Tipo as imagens que o meu primo me envia todos os dias? Não! A palavra “Meme” foi inventada pelo biólogo Richard Dawkins. Representa uma unidade cultural, semelhante ao “gene” como unidade biológica. Os memes que tendem a aumentar a capacidade reprodutiva dos seres humanos nos quais se encontram sobrevivem. Portanto “Deus quer que nós sejamos donos desta terra e enchê-la de crianças” é um meme poderoso, enquanto “Nós estamos a matar o planeta porque somos tantos e consumimos tanto”, mesmo que seja correcto, é um meme que resulta em poucos netos. Igualmente, várias ideias liberais (principalmente no âmbito dos direitos reprodutivos e da igualdade de género) que fazem parte indispensável de uma sociedade democrática tendem a reduzir a fecundidade dos seus aderentes. Por mais que fiquemos conscientes da nossa liberdade e das nossas responsabilidades, mais confiança perdemos no nosso modo de vida e menos filhos temos para propagar estes valores na próxima geração.

As consequências deste facto são profundamente deprimentes, mas felizmente alimentam o enredo de um filme excelente!

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Sobretudos de Madeira

Simon Farnaby
Say what you like, this was Simon Farbnaby’s finest hour!

This little exercise is an answer to a question about euphemisms for death in english. None of the translations of english expressions really exist in portuguese. I think I’ll be doing one about actual portuguese expressions around death in a couple of days though. There are loads to choose from!

Sim, existem certos eufemismos ingleses para abrandar o choque de falar sobre a morte de alguém. Além de termos o nosso equivalente da palavra “falecido” (“deceased”), é muito comum falar de um familiar como “no longer with us” (já não está connosco) ou ter “passed away” (foi-se embora). Isto acontece principalmente quando falamos com pessoas que perderam recentemente alguém. Acho que usamos este abrandamento para não magoar alguém por lhe lembrar abruptamente a sua perda. Também temos as nossas expressões coloquiais, muitas das quais são parecidas com as vossas. Por exemplo, nós também vamos desta para melhor (os religiosos dizem “com Jesus”). Não batemos botas nenhumas, mas pontapeamos baldes*? Sim senhora! E também compramos quintas**, mordemos o pó***, rebentamos os nossos… hum… (folheio o dicionário) tamancos****, vestimos sobretudos de madeira***** e empurramos os malmequeres para cima******. Até certo ponto, esta capacidade de rir com a morte é encorajadora. Desrespeitando o ceifador por falar nele assim, ficamos cada vez mais capazes de pensarmos no inevitável fim das nossas próprias vidas sem ficarmos deprimidos.

*Kick the bucket

**Buy the farm

***Bite the dust

****Pop your clogs

*****Wooden overcoat

******Push up the daisies

Thanks as always to Cristina for correcting this lot.

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Luísa Cortesão

Há um texto no Português em Foco sobre a “grafitter” (artista de grafíti*) Luísa Cortesão. Segundo o texto, ela foi médica, especialista em endocronologia, mas reformou-se aos 59 anos por motivo de doença. Durante a sua reforma, a neta dela sugeriu-lhe que se inscrevesse num curso de arte urbana, principalmente sobre grafíti e o uso de latas de spray e de estênceis.

Bruxa

Em breve, tornou-se famosa com um estilo característico e uma assinatura em forma de bruxa a voar numa vassoura. Andava a grafitar as paredes da cidade e até deu aulas aos artistas mais novos. Fui procurar o texto original (que foi publicado na revista Visão) mas acabei por descobrir que a artista tinha morrido em 2016 com 65 anos.

*I don’t really know where this came from. Grafiteiro seems more common and I don’t think this word is even used in English. Weird.

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Random Witterings

Há uns dias partilhei o texto sobre os principais partidos de Portugal (que aliteração maravilhosa!) porque achava que os estudantes podiam gostar antes das “forthcoming elections” (eleições que vêm) mas os donos do grupo deixaram-no no limbo até ontem, e agora toda a gente acha que nem sequer sei quando as legislativas tiveram lugar.

Noutras notícias, falei com uma ex-professora que me disse que ela tinha votado no Chega. Eu pedi uma explicação porque queria saber. Recebi 53 respostas a fio. Não estou a exagerar: 53, maioritamente com gráficos de barra ou vídeos de estrangeiros de pé na rua. Geralmente, gosto de falar com pessoas com as quais descordo, porque é desafiante, mas nesta situação, faltou-me a paciência para responder a tantas informações.

Thanks once again to Cristina for pointing out the errors in the original version of this page 

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Coisa Que Não Edifica Nem Destrói – Ricardo Araújo Pereira

Ricardo Araújo Pereira - Coisa que não Edifica Nem Destrói

Neste livro, o humorista Ricardo Araújo Pereira fala da sua vocação: o humor. Não admirará ninguém que o livro é engraçado e que dá motivos de reflexão nos tempos de hoje, como grande parte da obra dele. Fala sobre as raízes de humor e os métodos que os mestres usam para o produzir. Também fala sobre a tendência das pessoas, tanto nesta época quanto no passado, para ficarem zangadas e não aceitarem as piadas feitas sobre elas próprias. O exemplo mais recente é o de Chris Rock, mas há muitos ditadores e ainda mais terroristas que querem matar quem não obedece às regras aleatórias que eles querem impor à gente.

O autor dá muitos exemplos e citações selecionadas da história incluindo Roland the Farter e Ronnie Corbett (da Inglaterra), Mark Twain e Bill Hicks (dos EUA) e Dario Fo e Rabelais (de outros países europeus) para demonstrar a natureza universal do humor.

Depois de comprar o livro, percebi que existe um podcast com o mesmo título que contém não só os textos do livro mas também mais capítulos e entrevistas com comediantes e escritores. E não custa nada… Ora bem, não faz mal, tenho um livro bonito e uns conteúdos extras. É um bónus.

Thanks as always to the ever-patient Cristina of Say it in Portuguese for eviscerating my linguistic infelicities before they could be unleashed upon an unsuspecting world.

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Longe do Mar

Longe do Mar de Paulo Moura

O livro é uma descrição de uma viagem ao longo da Estrada Nacional 2, com paragens em vários lugares para conhecer os habitantes. Faz parte da série “Retratos” editada pela Fundação Francisco Manuel Dos Santos, como grande parte dos livros que compõem o catálogo português da livraria online Audible. Já dei opiniões em pelo menos 3 na mesma série. Ouvi-o à velocidade de 1.35x para ver se conseguia seguir o enredo. Foi desafiante mas consegui durante algum tempo, mas no fim, cansei-me, desisti e recomecei com o ritmo normal.

O autor encontrou várias personagens ao longo da sua rota e conta a história de cada uma: pastores, ferreiros, uma menina que “amou de mais” (ou melhor, amou o homem errado), entre outros. Como obra de literatura de viagem, acho que o livro não é suficientemente desenvolvido. Encontramos as pessoas mas não recebemos (ou pelo menos eu não recebi) uma imagem mental do carácter da terra percorrido pelo autor. É uma sequência de entrevistas mas não é uma narrativa coerente e deixou-me um pouco insatisfeito.

Thanks as ever to Cristina of Say it in Portuguese for correcting this (twice!)

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É Ou Não É?

Uau, vi este vídeo no insta e chamou-me a atenção. Não sabia quem era aquele homem com um ar tão desconfortável; até achava que fosse um político que ela culpava por isto tudo, mas não é, é um académico chamado Ricardo Ferreira Reis. A senhora falou bem. O seu nome é Adriana Cardoso e ela é fundadora da empresa Próxima Geração. Há homens da minha idade nos comentários do vídeo a queixar-se dos jovens “materialistas”, mas não é justo. Todos nós temos de crer num futuro estável, e estou feliz por ver que ela quer um país com mais oportunidades no qual construir este futuro. É melhor do que desesperar, não é? Então calai-vos*, homens da minha idade! Não sou especialista em política portuguesa (claro!) mas não vejo nada de errado neste vídeo curto.

Se este discurso representa a opinião dos jovens, as legislativas do próximo Março vão ser um terramoto.

*You won’t often find me using that verb conjugation, I can tell you! That might be the first time in 1600-odd posts!

Edited and detypoed post-publication by Cristina of Say it in Portuguese

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Little Big Man

Há muito tempo que não falo do Marco Neves, o linguista bem conhecido, autor, anfitrião de podcasts, bloguista, sábio e fornecedor de conteúdos do exame C1. Neste blog, fala da expressão “Beijinhos grandes” que os portugueses usam para se despedir dos amigos. Como em inglês, existem picuinhas que gostam de interpretar de forma muito literal expressões e conjunções de palavras e fazem deles um “ódio de estimação”. Neste caso, “beijinho” é um diminutivo**. Portanto a frase significa “grandes pequenos beijos”, que não faz o mínimo sentido, pois não?

Temos esta espécie de polémica no mundo anglófono, e eu sou fã da interação entre descritivistas como o John McWhorter*** e pessoas mais escrupulosas como o (falecido) escritor Kingsley Amis. O Neves tem mais em comum com o McWhorter: tem uma predileção por desmentir os desabafos dos pedantes.

Beijinhos Grandes
So many artists’ work plundered and this is the best AI art can come up with in response to the prompt “big little kisses”. Horrifying!

O seu primeiro argumento trata da relatividade do tamanho. Por exemplo, uma criança brinca com dezenas de carrinhos, mas não são iguais. Há carrinhos maiores e menores.

Além disso, a palavra “beijinho” assumiu um novo significado, ligeiramente diferente: um beijinho não é simplesmente um beijo pequeno mas sim um tipo de beijo – geralmente no face ou no ar.

Nos últimos parágrafos, o linguista desvenda a raiz da questão: o diminutivo português transmite um sentido de carinho.

O seu ensaio é muito curto e vale mesmo a pena.

*Cumprimentar is the word he uses but more realistically, despedir-se is the more appropriate verb.

**Hum, pensando nisto, porque é que esta palavra termina com -o? Beijinho é uma (palavra) diminutiva não é?

***He’s very good generally, and his Great Courses Series is absolutely mind-blowing. I can’t recommend it enough. However, I would cheerfully crucify the man for this absolute travesty. Sorry, but I have my limits.

Thanks as always to Cristina of Say It In Portuguese for the help with proofreading

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Cabo Verde

Não te preocupes, este blogue não tem nada a ver com sopa. Não assassinei mais uma receita tradicional. Trata do país, Cabo Verde!

O país de nascimento da minha esposa está a passar uma semana extraordinária! Ontem, a sua seleção (também conhecida como os Tubarões Azuis) venceu a da Gana num campeonato futebolístico, mas ainda melhor, há 4 dias o país foi certificado livre de paludismo (também conhecido por o Mosquito Azul. Não, estou a brincar: paludismo é também conhecido por malária!) segundo estas notícias do OMS.

Parabéns, Cabo Verde!