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O Velho do Restelo

O livro que li no fim da semana passada fez referência ao “Velho do Restelo”. Achava que tinha ouvido falar desta pessoa. Tinha, sim! É uma personagem numa história chamada “Os Lusíadas” de um escritor, que talvez já conheçam, Luís Vaz de Camões. Antes da partida das caravelas, o velho lançou um discurso pessimista sobre a vaidade dos exploradores e sobre os perigos que os iriam enfrentar. Lembrou-me da personagem Laoconte numa história grega, chamada A Odisseia, escrito por, sei lá, Homero ou um grego qualquer. Ao contrário de Laoconte, o velho não fica devorado por serpentes. Laoconte teve razão: avisou os troianos sobre o cavalo de madeira. O velho, ao desabafar dos seus inquietações aos que assistiram à embarcação, não teve razão, segundo o Camões. Francisco Lobo Sousa, por outro lado, afirma que o velho “era o único sensato, no meio dessas pessoas que aplaudiam os sonhos de império que enfermavam quem partia”

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“A Visão Das Plantas” de Djamilia Pereira de Almeida

A Visão Das Plantas

A autora deste livrinho foi inspirada por um breve parágrafo num livro de Raul Brandão no qual ele fala duma pirata que, nos finais do século XIX, participava no tráfego de escravos. O homem tinha abatido dezenas de negros com cal em pó e depois reformou na costa onde cuidava o seu quintal. Ela tem um estilo muito leve. Retrata o protagonista da ponta de vista das plantas dele. Não julgam. Tanto lhe fazem se cuidado por um assassino . É uma obra hipnotizante, e ainda mais poderoso por causa da moderação da autora.

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Delfinios Estrangeiros

#uncorrectedportugueseklaxon

Comecei um novo livro: “A Visão Das Plantas” de Djamilia Almeida Pereira. A imagem na capa é uma foto de um homem barbudo, de pé num jardim, rodeado por plantas com flores azuis na vertical de dois metros de altura (o que nos chamamos de “spikes” de flores mas não encontrei uma palavra equivalente em português). Fiquei curioso sobre estas flores deslumbrantes portanto fiz uma pergunta no subreddit u/whatisthisplant. É importante fornecer informações como onde cresce a planta para facilitar a identificação. “Acho que foi tirado em Portugal” disse eu, “porque o livro é português”. A resposta chegou depressa: São delfinios. Mas alguém informou-me que a foto é famosa e o fotógrafo, Joel Sternfeld, tirou-a na Alaska em 1984. Ups. A clima da Alaska não é assim tão diferente da de Portugal, pois não…? 😬

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Capitães da Areia de Jorge Amado – Opinião

I hope its clear from the review, but in case it isn’t, this is a great book to read, but don’t spend time studying the grammar because it’s a million miles from anything you’ll want to write in a PT-PT exam. See this post for the most glaring example but it’s not the only thing by any means.

Capitães da Areia

Raramente leio livros brasileiros porque português brasileiro é tão diferente. Ainda por cima, o português neste livro é longe do padrão de português brasileiro: há montes de calão, expressões regionais e gramática específica à região onde a história tem lugar. Mas apeteceu-me ler porque ouvi tantas coisas boas sobre este autor e esta obra sobretudo. O livro conta a história dum grupo de jovens e meninos abandonados que moram num trapiche(1). Recordei-me dos “Lost Boys” de JM Barrie (o líder ate se chama Pedro, a versão português de Peter) ou as carteiristas do Fagin no Oliver Twist de Dickens. Mas o tom do romance é mais escuro.

São criminosos, temidos pela gente da cidade, mas ao mesmo tempo, são crianças que sentem saudades da segurança e da felicidade de um lar e uma família. São sempre à procura de uma “mãezinha” e querem ir brincar no carrossel. Sem hipótese de viver como crianças, tornaram-se homens, mas não só homens: criminosos. Roubam viúvas, exploram pessoas simpáticas, lutam com navalhas e punhais. A personagem principal, com quem o autor pretende nos simpatizemos, até viola uma rapariga, o que é contado de maneira gráfica, e fica surpreendido quando depois ela o pragueja.

Ao longo dos meses, as personagens andam pelos seus percursos – há tragédia e redenção, mas o pano de fundo contra o qual o enredo se desenrola é a violência e caos na sociedade brasileira nos anos trinta do século XX, e o autor retrata esta sociedade muito nitidamente. É um livro virtuosístico.

(1) Entendi esta palavra como “armazém” mas ao que parece, tem um outro significado em PT-BR: um cais. Acho que armazém faz mais sentido neste contexto porque não consigo imaginar dezenas de pessoas a dormir num cais! Mas vou ver o filme em breve e espero entender melhor depois.

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Jovens Guineenses e a Língua Portuguesa

Li recentemente um artigo que tinha estado na minha pasta de marcadores há quase um ano, sobre um grupo de jovens guineenses que pede um debate nacional sobre o uso da língua portuguesa. Segundo a manchete, estes jovens exigem “respeito pela língua e pela história de Portugal”.

Guiné-Bissau é um país pequeno onde se fala português por causa de ter sido conquistado pelo Império português. Porém, é rodeado por outros países cujas línguas e culturas foram moldadas por colonizadores ingleses e franceses. Portanto, o que é em causa é a divisão entre o povo, que fala português, e as empresas internacionais que fazem concursos pela região toda, abrangendo muitos países. Há quem tenham de assinar papéis os conteúdos de quais não entendem, ou que não conseguem emprego porque não podem falar a língua do Senegal ou da Gâmbia. Ficam marginalizados e desfavorecidos no seu próprio país.

Mas a situação é ainda mais complexo porque no corpo do artigo também há uma citação de um jovem que estudou no estrangeiro, que fala melhor francês do que português e sentiu-se alvo discriminação também por causa disto! Há quem sugira que o país até está em perigo de deixar de ter português como língua materna e passar para o inglês ou o francês.

Para acrescentar mais complicações, português é a língua oficial do país, mas é falado por apenas 9 por cento do país como língua materna. Mais 50 por cento falam como língua segunda. Este número sobe para 90 por cento se contarmos kriol (uma língua crioula baseada em português) mas existe um leque de línguas indígenas. Podemos imaginar as línguas europeias (e crioulas) como “línguas francas” que servem para facilitar comunicação entre pessoas de diversas etnias que também têm os seus próprios idiomas, mas infelizmente, há mais do que uma língua franca, por causa da divisão do continente por potências rivais. É complicado e não acho que existam soluções fáceis.

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They’ve Got Bife? I’ve Got Beef!

#uncorrectedportugueseklaxon

Jantei ontem no Pico Bar & Grill, o que é um restaurante madeirense num bairro chamado Little Portugal, centrado no estação Vauxhall, perto do Rio Tamisa. Eu e a família estávamos a celebrar o aniversário do meu sobrinho, que fez 30 anos. O restaurante é ótimo, com comida caseirinha. Começamos com os melhores pastéis de bacalhau que já experimentei, e depois um leque de opções: espetada, espadarte, “bitoque de bife” e mais. Este último é um título curioso, porque tanto que ato sei “bife” é um assim-chamado “falso amigo”. Significa uma fatia de carne e não é o que nos chamamos de “beef” mas serve-se lá bitoque de bife, de frango ou de porco. Os meus sogros(1) não o acharam estranho, portanto suponho que entendi algo mal… Ai, isto de aprender línguas é um bicho se sete cabeças… Mas não faz mal. Havia vinho verde na mesa e terminámos com poncha, que retribuiu as mágoas todas.

(1) Quero dizer “sogros”? Se não me engano, está palavra pode significar “a família do cônjuge”, mas não havia sogro nem sogra, apenas duas cunhadas, o namorado uma delas e dois filhos da mesma. Posso descrever este grupo como “os meus sogros”?

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Um Dia de Leitura

A minha filha sugeriu ontem que passemos um dia inteiro a ler. Não tenho a certeza de que, quando acordar, ela ainda quererá seguir este plano. Tendo em conta como os adolescentes mudam de opinião, é possível que não tenha vontade, mas não perco a esperança. Está ansiosa por terminar vários livros do género “jovem adulto”, porque não os quer ler na universidade, mas está tão ansiosa que começa novos livros sem terminar os anteriores. Ainda ontem, sacou um novo livro e começou a queixar-se que a autora é parva. Tanto quanto sei, já anda a ler 4 livros. Talvez mais – não estou a par de todos. Não faz mal. Espero que queira continuar com um destes livros hoje, ou até um novo, mas se acordar disposta a escrever ou ver um filme ou outra coisa qualquer, não importa assim tanto.

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Mais Uma História Rebuscada.

#uncorrectedportugueseklaxon

Depois do nosso dia de leitura, fomos para o quiz. A caminho do pub, a minha filha falou dum filme chamado Emma (a versão com Anne Taylor Joy) que tinha sido recomendado pela amiga dela. “É fixe. Deves ver!”

Chegamos ao pub e sentámo-nos. Em breve, o anfitrião chegou à nossa mesa. “Lamento” disse ele “não há outras equipas nenhumas”. Estávamos os únicos concorrentes! A minha filha ficou desiludida porque ela está tão entusiasmada por concursos de conhecimentos gerais.

Regressámos para casa e ela, sendo muito esperta e um pouco desgostada, começou a pesquisar o anfitrião através do site da agência que gere muitos quizzes em Londres. Segundo o Instagram dele, é um ator que estrelou em vários filmes quase desconhecidos e anúncios televisivos.

E o único filme famoso no qual fez parte? Protagoniza um empregado anónimo no Emma!

Ela deixou um comentário sarcástico (“Eu quando não há Quiz”) sob uma foto dele a protagonizar um homem de coração partido. Ele respondeu logo “Mas… Como é que tu sabias?”. Ela resistiu a tentação de continuar a conversa.