Posted in Portuguese

A Semana Política – A Geração Mais Qualificada de Sempre

Escrevi há pouco sobre o movimento Próxima Geração, cujo objetivo é revitalizar a democracia portuguesa, desenvolvendo as capacidades e as consciências dos jovens-adultos. A sua porta-voz, Adriana Cardoso, falou dos desafios específicos aos trabalhadores mais novos que são “A geração mais preparada, a geração mais qualificada de sempre” mas que têm poucas oportunidades para utilizar a sua formação devido ao tecido empresarial ser 99.9% composto de PMEs (Pequenas e Médias Empresas) sem quadros adequados aos talentos e às ambições dos empregados. Portanto, os jovens mais trabalhadores e mais ambiciosos têm um dilema: ou ficar no seu próprio país e ganhar pouco ou ir embora, levando a sua formação com eles.

Acho que a sua descrição do problema é correta até certo ponto: segundo um artigo no jornal Expresso, a frequência de ensino superior aumentou durante a década passada e as taxas de abandono escolar descem todos os anos (embora as estatísticas sejam questionáveis: mais estudantes nas escolas em 2020 e 2021 durante os piores meses da pandemia? Improvável!). O texto aponta uma deficiência na formação profissional e de competência geral relacionado com a transição ao mercado de trabalho. Jovens portugueses têm níveis muito acima da média de aprendizagem de línguas estrangeiras mas paradoxalmente isso é provavelmente um dos fatores que possibilita a transição a outros países!

Claro que estas dificuldades afetam os jovens de todos os países, e a situação piora devido aos efeitos da tecnologia e da globalização do mercado laboral, mas é provável que seja mais acentuado em Portugal por razões históricas.

E daí vemos um desafio para os partidos políticos: como podem falar aos cidadãos mais novos? Há um ditado em inglês: um conservador é um socialista que passou a pagar impostos. Noutras palavras, um cidadão que trabalha e que vê um futuro na sociedade virá a confiar naquela sociedade e a apoiar as suas instituições. E se milhões de jovens nunca chegam a atingir um nível de segurança fiscal? Se não conseguem comprar uma casa ou arranjar emprego digno da sua inteligência? Que espécie de futuro terá o país?

Qualquer partido que queira ganhar poder (e assumo que todos querem porque se não, porque é que estão a desperdiçar tanto tempo em campanhas políticas?) precisa de explicar como as suas políticas possibilitarão uma vida melhor para a próxima geração.

Posted in Portuguese

A Semana Política – Rui Tavares

O exercício de hoje é transcrever um discurso de Rui Tavares, um dos porta-vozes* e um dos fundadores de um partido pequeno chamado Livre. Livre é o partido do qual Joacine Katar Moreira (mencionada neste blogue) era membro antes de se demitir. Tanto quanto sei, ela passou a deputada não inscrita e ainda é membro da câmara, mas não conheço os pormenores de como ou de porquê. Hum… enganei-me, li na Wikipédia que ela perdeu a sua cadeira em 2022.

Eu disse num blogue de uns dias atrás que penso nele como um “pai centrista” (em inglês, “centrist dad”) porque fala contra o extremismo e a favor de as instituições, mas na verdade, o deputado não é nenhum centrista. O seu partido é pouco convencional mas é indiscutivelmente situado à esquerda do espectro político, só que fica nem perto do PCP nem dos outros partidos… hum… esquerdoidos**. Por falar nisso, antes de saber quem era, li um livro de Rui Tavares que fala sobre a divisão entre as duas alas políticas. Muitas pessoas gostam dele, mas, como observou o streamer Tji Pereira, “toda a gente gosta de Rui Tavares mas ninguém vota no Livre”

Enfim, escrevi a minha transcrição e depois liguei as legendas para verificar tudo. Infelizmente, acho que o texto das legendas foi gerado por um IA! Sublinhei os meus erros a laranja e as palavras que (na minha opinião infalível) não batem certo nas legendas e que (também na minha opinião) eu ouvi corretamente, em cor-de-rosa***. Finalmente cinzento significa que não há legendas.

Eu achei curioso que no debate de hoje foi o proponente que falou várias vezes em fascismo e fascistas porque normalmente é uma palavra que se usa pouco nesta câmara porque há uma espécie de receio em utilizá-la. Há muita facilidade a utilizar extrema-esquerda, comunistas, isso mesmo para quem não é do Partido Comunista Português

Senhor deputado, oiça, até agora conseguiu ouvir, conseguirá mais um minutinho. E curiosamente, sobre a tema essencial da história das democracias no nosso espaço geográfico, na Europa ocidental, foi como é que**** os regimes democráticos caíram. E caíram nos nossos países perante os fascismos.

Acerca disso, nunca falamos. Pois eu digo-vos… Não não, esquecequeria, queria o senhor deputado que esquecêssemos, mas não esquecemos porque esse é o tema fundamental. E sabe como é que caíram? Caíram quando as democracias não souberem cuidar de si, não souberam aplicar a lei, não souberam fazer leis que fossem compreen…

Eu compreendo o nervosismo, compreende-se tão bem o nervosismo, de um partido que nunca esclareceu de onde veio o dinheiro da primeira campanha, que foi legalizado com assinaturas falsas no Tribunal Constitucional, que vinha [???] de declarações… Compreendo muito bem que ainda ontem surgiu uma notícia que nos dias que as… Que o conselho consultivo que houve é de financiadores do próprio partido. Não vem falar disso? Saiu na Sábado*****, de ontem, compreendo tão bem o nervosismo. É que vocês ficam nervosos quando se fala daquilo que importa, que é a democracia defender-se…a democracia saber defender-se. Porque reparem numa coisa. Para a democracia (…senhor deputado tem de concluir… ) Concluirei muito rapidamente. Porque para a democracia se defender e ter futuro, ela precisa saber fazer funcionar as instituições. Para a democracia… Para a democracia se perder, é muito simples: perante precisamente partidos como os vossos, basta não fazer nada e eu espero que não seja aí que nós caimos.

*I had to check it wasn’t “portas-voz”!

**I’d almost forgotten this word. It doesn’t actually fit here but I’m leaving it in because I love knowing about terrible internet slang because it makes me feel like an anthropologist or something. “Esquerdista” might make more sense, or “extremista” or a range of other things, I suppose, depending on your point of view.

***I originally wrote “cor de laranja” but was glad to change it because every time I see cor de laranja and cor-de-rosa in the same sentence it reminds me how infuriating it is that one has hyphens and the other doesn’t but eu não faço as regras.

****Worth pointing out that some of the sentences he’s saying don’t seem to be grammatically correct: if you try and parse them out, you know what he’s driving at but the beginnings and endings of the sentences don’t always quite match up as far as I can see. This is an example.

*****I thought this was him mis-speaking but it’s the magazine (revista = feminine) called Sábado and it comes out during the week, not at the weekend, which is why he says it came out in yesterday’s Saturday!

Thanks as ever to Cristina of Say it in Portuguese for helping me sort this lot out.