Estou em Preston a tratar das* coisas na casa dos meus pais: cortando as flores secas das hortênsias do ano passado, esfregando as paredes da cozinha, antes de as pintar, e organizando a tralha deles.
No sábado, acordei cedo para participar numa corrida, a famosa “park run” que decorre em muitas cidades do mundo todos os sábados. A de Preston tem lugar num parque perto do rio Ribble, que tem uma inclinação muito íngreme, o que torna o percurso muito desafiante, mas não faz mal, o objectivo é divertir-se e eu diverti-me muito.




Depois, quis alugar uma bicicleta para fazer mais um desafio, o Guild Wheel (hum… A Roda da Ordem**) um caminho de 34 quilómetros que rodeia a cidade. Infelizmente, a loja onde se alugam as bicicletas encerrou definitivemente. Ainda assim, não me apetecia abandonar o plano portanto decidi comprar uma bicicleta de segunda mão! Encontrei uma loja com várias, escolhi uma, um pouco enferrujada mas baratinha e com pneus bem inflados, e em breve arranquei!
O dia estava bonito, e aproveitei as vistas e a experiência de circumnavegar um território tão familiar mas ao mesmo tempo desconhecido. Fiquei com uma impressão mais positiva da cidade onde passei a minha juventude. Recentemente, tenho visto a cidade como quase moribunda. Porquê? Costumo de entrar pela estação de comboios e passar pelo centro comercial, que é um fantasma do Preston** dos anos oitenta (e um fantasma do fantasma do Preston da revolução industrial, quando era uma das cidades mais avançadas do mundo e foi visitada por Charles Dickens e Karl Marx por causa do desenvolvimento da sua indústria e das greves e as manifestações da classe operária). O centro comercial é deprimente com muitas lojas vazias e pessoas sem abrigo na rua. Mas durante esta estadia, eu vi outras zonas da cidade, perto da universidade e, durante o passeio de bicieta, também vi os arredores e percorri os caminhos que interligam os bairros que nasceram desde a minha saída, onde havia casas novas rodeadas de verdura, com pessoas a dar voltinhas sorrindo e desfrutando o sol. Supermercados novos, ruas novas, uma reserva ambiental em funcionamento com centenas de visitantes…
Então, apesar dos edifícios abandonados na rua principal da cidade, Preston ainda está viva, ainda que a sua vivência esteja espalhada por uma área mais alargada.
E agora tenho uma bicicleta a mais. Será que a queres comprar?
*I went for desenrascar but it seems not to be the best way to say what I really was going for: straightening things out, disentangling things, as a general catch-all for all the activities listed, but that’s not really how it’s used. I’ve noticed often I have a weird way of expressing things in my own language and it sounds even weirder when retracted through a literal translation.
**I started off with “Corporação” but it’s not an easy thing to translate. A guild would normally be an ordem if you’re talking about the guild of stonemasons. Sindicato (union) probably isn’t far off either. Preston Guild is just a weird Preston thing, but historically it was more like a craftsman’s guild so ok, it’ll do.
***one of the few situations where you use the definite article in front of the name of a town! (rules here)