Então que está a vir nos meus cursos, agora que terminamos as unidades do “Viagens na Minha Terra” e a Padeira de Aljubarrota?
No curso “Temas de Literatura Portuguesa 2025” a próxima leitura será o “Trio em Lá Menor” de Machado de Assis. Entretanto, no curso “Literatura e Cultura Portuguesas – Época Moderna 2025”, o próximo tema é “D. João II – O Princípe Perfeito?”
Existe uma estátua do D. João II no parque das nações, de 7 metros de altura, mas é tão abstrato que há quem duvide que a obra não tem nada a ver com o rei. O docente do curso afirma que o escultor provavelmente queria referenciar o emblema* do rei. O emblema de um pelicano a bicar o seu próprio peito para alimentar os filhos. É algo que fazem. Quem sabia? Mas a imagem não é de origem monarquista; foi originalmente uma imagem católica, simbolizadora do sacrifício de Jesus e de como, durante a missa, o padre dá aos fiéis um peça de pão que simboliza o carne do senhor, e um copo de vinha que representa o sangue dele.
Eu como ateu – mas ateu protestante! – nunca imaginei o messias como uma ave gulosa, mas talvez tenha perdido alguns pormenores durante a minha leitura da Bíblia quando tinha vinte e tal anos. Mas segundo a Wikipédia, a ave aparece nos brasões universitárias neste país, em na maçonaria e em vários outros lugares, e segundo o docente, também foi adotado como logótipo de um banco. Aprendi tantos factos novos num só vídeo de 5 minutos!
*Oooh! Emblema! That’s a word I haven’t used before!
Passei algum tempo durante o fim-de-semana no jardim da minha mãe, a arrancar ervas daninhas e a ouvir o audiolivro clássico brasileiro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” mas achei-o difícil por causa do sotaque e porque os primeiros capítulos contêm montes de referências literárias e históricas. Enfim, decidi ouvir a versão inglês em paralelo. Alguns capítulos em português e depois os mesmos capítulos em inglês, para remendar os buracos no meu entendimento.
Infelizmente, a versão inglês é a versão grátis do Spotify e é horrível. Acho que foi gerado por “inteligência” artificial com reconhecimento ótico de caracteres. A voz soa humana mas vai lendo erros no texto, tipo “AU” em vez de “All” e assim por diante . De vez em quando, ouvimos um número de uma página, lido em voz alto ou um título numa outra língua qualquer. Acho que seria mais fácil ouvir a versão brasileira sem batota!
O erro que mais me irrita é quando a voz artificial traduz um verbo com o pronome indefinido “se” (veja este blogue como referência dos usos de se em situações impessoais). Seria praticamente impossível descrever precisamente de que modo é que a “inteligência” artificial falha, mas basta dizer que é uma desgraça. Estou a pensar em comprar a versão do Audible, traduzida pela estimada Margaret Jull Costa e lida por um ser humano qualquer. Custa sete libras mas tem de ser melhor.
Por acaso, tenho um trabalho de casa que foca na posição dos adjetivos (antes ou depois do substantivo) e o livro contém este ótimo exemplo:
Tanto quanto sei, o significado é “I’m not an author who has died but a dead man who has become an author”. Daí, (como se explica logo a seguir) a sua campa é o berço do seu estado atual
O livro está muito na moda nos dias que correm por causa de um vlog americano (veja vídeo infra) mas tem estado na minha TBR há meses e estou super-entusiasmado por me gabar de o ter lido em português. Toma, monoglotas*!
*I originally wrote Chupa (Suck!) instead of Toma. Chupa sounds incredibly rude in English, but appears not to be quite as rude in portuguese. Or rather it definitely can be rude in certain contexts, and it’s always fairly uncouth, but when people say “Chupa, Dinamarca” or whatever, after a football game they are just gloating, not making an obscene suggestion, at least according to Priberam.
interjeição
5. [Informal] Indica satisfação, geralmente em relação a uma derrota ou um revés de alguém. = TOMA
But I asked around and I think the feeling was that it was a bit too spicy and I should de-escalate the situation by using Toma instead. In both cases, they’re interjections. Toma doesn’t really change even if you’re taking to a whole group of people “Coloquei ananás nesta pizza. Toma, italianos!” but with Chupa it seems to be more of an open question whether you say “Chupa italianos” or “Chupem italianos” (ie, conjugate it as a plural imperative because you’re addressing multiple Italians). In the kinds of situations you are saying these types of things, the niceties of grammar are often among the first casualties.
Li este livro com os meus olhos e os meus ouvidos. Tentei lê-lo há alguns meses mas não consegui. Desta vez, experimentei uma versão traduzida em inglês e, de vez em quando, fez uma pausa e escutei um audiolivro lido por um brasileiro. De forma geral, evito sotaques brasileiros porque estou a estudar português europeu mas claro está que esta história é um clássico da literatura brasileira e é melhor ouvir no seu sotaque nativo, acho eu.
A pergunta incontornável é esta: será que a mulher do narrador, Capitu, traiu Bentinho ou não? Cá para mim, acredito que não. Há uma altura, muito cedo no enredo, em que eu reparei numa inconsistência no discurso dela que pode ser uma mentira, mas além disso, não parece provável. A ideia da infidelidade dela era uma preocupação dele logo no início, e acho que precisou pouco para se tornar obsessão.
Depois da “descoberta” da traição, a personalidade do Bentinho mudou, e tornou-se ainda mais “casmurro”. Recusou escrever o nome da sua mãe no túmulo dele, e justificou esta decisão duma maneira inchada. Não queria ter nada a ver com Capitu. Quando ela faleceu, Bentinho mal a mencionou, e até a morte do seu filho deu em alívio em vez de tristeza. Isso, sobretudo, chateou-me porque, mesmo que eu não tenha razão sobre a traição, o rapaz é uma criança que não merece nada de mal. No final, o narrador pareceu-me menos simpático do que anteriormente. Porém, adorei a “maquinaria” da história, o estilo e a maluquice deste homem insólito que estragou a sua própria vida por causa da teimosia.