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O Cultivo de Flores de Plástico

A primeira vez que disse “O meu autor português favorito é…” conclui a frase com “Afonso Cruz”. Gostei imenso do seu “Os Livros que Devoraram o Meu Pai” e “Para Onde Vão os Guarda-Chuvas” foi o meu primeiro calhamaço português. Mas hoje em dia acho os seus livros um pouco irritantes. Este é quase uma paródia do “À Espera de Godot” e dei comigo a bater com os dedos na mesa de impaciência.

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Atirar Para o Torto – Margarida Vale do Gato

Já me queixei deste livro noutros lugares mas isso não significa que o livro não seja ótimo, só que tenho mais olhos que barriga e escolhi um livro demasiado difícil. Li-o todo mas deu água pela barba. O meu dicionário está completamente gasto. Como resultado não gostei do livro assim tanto, mas aprendi algumas coisas.

Enfim, não recomendo este livro aos meus camaradas nesta viagem linguística mas se és português, o livro tem 3.3 estrelas no Goodreads e os leitores que o classificaram por lá terão opiniões mais úteis do que a minha!

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Primeiro Eu Tive Que Morrer – Lorena Portela

Hum… Já li montes de livros brasileiros neste verão, não é? Li este como Audiolivro no app Kobo no meu telemóvel enquanto tratava dos arbustos no jardim da minha mãe.

O livro conta a história de uma mulher que trabalha numa empresa cuja cultura é machista e “tóxica” (palavra de jovens, mas parece-me apropriada neste âmbito) e quer afastar-se de tudo e descansar. Durante esta viagem de autodescoberta, encontra novas amigas que a ajudam a entender a si própria. As mulheres partilham os seus traumas*, contam as suas histórias e dão conselhos umas às outras. Segundo o prefácio, a autora imaginou os seus leitores principalmente como mulheres, e é provável que as leitoras acharão mais fácil identificar-se com as experiências da protagonista. Para falar como homem, gostei da história mas não me marcou de mesma maneira como esta brasileira descreve no seu vídeo, o que não é surpreendente!

E falando como estudante de PT-PT, o sotaque da narradora é estranho, e a gramática também, claro, mas apesar disso achei a gravação muito fácil de entender. Não perdi o fio à meada tanto quanto como no último audiolivro brasileiro que li – O “Memórias Póstumas de Brás Cubas”

*New masculine-word-ending-in-A unlocked!

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Herança de Sangue – Penina Baltrusch

Conheci esta autora no FLILP há três meses. Achei-a muito simpática e é evidente que a sua obra tem muitas fãs no seu próprio país (aqui está uma brasileira a falar sobre o mesmo livro, por exemplo).

O romance é um thriller, que se passa em Inglaterra, e conta a história de uma funcionária de um call centre inglês chamada Ella, que descobre que foi adotada e que é a herdeira de um milionário. Em breve, apaixona-se por um rico e os dois casam-se, mas nem tudo é como parece. Em breve, a sua amiga está morta, ela mesma quase morre num acidente de trânsito e durante a sua lua de mel, ela cai montanha abaixo. Então é evidente que há alguém que quer se livrar da nossa heroína. Mas quem?

A escritora escreve bem: o diálogo parece-me natural e a ação não pára*. Infelizmente, achei o enredo um pouco rebuscado. Os planos do antagonista não têm pés nem cabeça, e há vários outros aspectos pouco credíveis. Basicamente, a experiência de ler este livro não é nada má, mas deixou-me insatisfeito. Talvez um conhecedor deste género, que esteja mais acustomado à suspensão de descrença possa gostar mais.

*Strictly speaking should be “para” following the Acordo Ortográfico but it’s the least popular change in the AO for obvious reasons, and even people who usually take care to follow the new rules tend to rebel on this one. I feel like I’ve written about this before but I can’t find it now, so here’s a Ciberdúvidas article for anyone who isn’t familiar.

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Memórias Póstumas de Brás Cubas

Mais um romance exigente. Ouvi-o como audiolivro que me deu água pela barba, e não só água mas leite e sumo de laranja também. Não estou acostumado a ouvir sotaques brasileiros durante tanto tempo.

Brás Cubas conta a história da sua própria vida após o fim da mesma. Refere-se várias vezes ao Candide de Voltaire, e realmente este livro é do mesmo género. O ritmo é mais lento: enquanto o Candide corre de cena para cena, este anda em saltinhos, de um assunto para um outro, com pensamentos aleatórios, uns profundos, outros engraçados.

O livro foi traduzido por Margaret Jull Costa (tradutora das obras mais recentes de Saramago) e também ouvi a versão inglês para reforçar a minha noção do desenrolar da história, e ainda bem, porque não compreendi muito bem o que o narrador brasileiro disse.

Eu sei que este livro está muito na moda atualmente por causa do elogio de uma influenciadora americana, e não tenho a mesma opinião, mas vale a pena, sem dúvida.

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O Clube de Leitura

Penance Eliza Clark

A minha filha, a autora, sugeriu que nós (mãe, pai e filha) lêssemos um livro juntos e depois discutíssemos as nossas opiniões uns com os outros. Escolheu o Penance (“Penitência”) de Eliza Clark para dar o pontapé de saída.

Fiquei impressionado pelo domínio da autora do seu enredo: a história é contada por um escritor de crime verdadeiro* que está a escrever um “livro dentro do livro” sobre um grupo de estudantes numa escola em Yorkshire. São raparigas com dezassete** ou dezoito anos cujos dramas, traumas e doenças mentais acabam em tragédia e três delas matam uma outra. Cada capítulo consiste numa série de entrevistas com familiares e amigos das raparigas. A história delas é, em si, incrível e Eliza Clark retrata cada um com uma personalidade realista e “dinâmicas de grupo” acreditáveis, mas o papel do escritor também está em causa. Quanto podemos confiar numa outra pessoa com os seus próprios motivos?

Falámos anteontem e todos gostámos (4/5 estrelas). Todos nós percebemos aspetos do livro que os outros perderam (por exemplo eu fui a única pessoa que não percebi que o nome do escritor no livro, Alec. Z. Carelli, é quase um anagrama do nome de Eliza Clarke (não é exato, mas sim perto!) e eu percebi uns pormenores partilhados entre as raparigas e outros adolescentes que cometeram crimes verdadeiros nas notícias***.

O livro de Setembro irá ser o Piranesi de Susanna Clarke. Mesmo sobrenome, outra grafia. Em Outubro sou eu que vou escolher um livro de autor chamado Klark.    

Penance de Eliza Clark (Audible, Amazon e que pena, não existe nenhuma versão portuguesa mas aqui está a página do Wook).

*I don’t think True Crime as a genre is very well-known in portuguese. I can see people using it (here for example) but the big kahuna of the genre, In Cold Blood by Truman Capote, is listed under “Jornalismo Literário / Romance de Não Ficção” on Wikipedia, so watch your step with this one.

**Just found out the brazilians even spell seventeen differently and now I want to smash everything.

***Might just be a coincidence but for example, one is “pretending to have a dealer”, which is a detail that appears in descriptions of the murderers of Brianna Ghey last year, and that seems to specific to be a coincidence. The two murders are very simple: apparent simple motives which were latched onto in the public imagination, but lurking just underneath are huge reserves of sadism, unhealthy online activity and general headfuckedness.

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E O Céu Mudou de Cor – Israel Campos

Neste romance angolano, vemos o mundo do ponto de vista de um jovem que mora num país opressivo, que é ficcional mas é uma versão (se não me engano) da Angola atual. Embora o narrador seja o protagonista, o personagem mais interessante (para mim) é o seu primo, Mateus. Idealista e lutador, este jovem enfrenta a corrupção quotidiana e recusa aceitar os comportamentos e as cunhas que estão a enfraquecer o seu país. Na perseguição deste objetivo, o Mateus, o narrador e um amigo deles, encontram o Sr. Zé que quer levar a cabo uma mudança social. O narrador é mais novo do que o Mateus e não entende perfeitamente o que está a acontecer ao seu redor.

Com humor e emoção, o autor lança uma crítica contra vários aspectos do sistema social. Claro que não conheço o seu país suficientemente para julgar quão exato seja esta crítica, e é muito provável que tenha perdido algumas coisas, mas foi interessante vislumbrar o mundo pelos olhos do seu protagonista.

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Neon – Rita Alfaiate

Recebi esta BD como presente de uma amiga e comecei a ler quase de imediato.

Conta a história de uma rapariga que vive com o seu cão robô numa cidade quase vazia. A única outra pessoa que ela encontra no seu dia-a-dia é uma empregada do supermercado onde ela faz as compras. A autora faz com que a cidade inteira exista só para ela.

Há pouco diálogo mas a arte é incrível, e adoro como ela usa variações no estilo artístico para sinalizar as emoções da protagonista ou o “tom” da cena. Por exemplo, à volta da página 70, temos uma série de imagens embaciadas em preto e branco, uma que parece um desenho de um livro infantil, e uma muito realista, que espelha os sentimentos de pânico, isolamento e revelação quando ela vai à procura do cão e acaba por encontrar o cinema ao ar livre.

Adorei este álbum e irei procurar mais livros desta autora durante a minha próxima estadia em Portugal.

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The Walking Dead

Acabo de ler o décimo nono episódio da banda desenhada The Walking Dead. O primeiro foi um dos primeiros livros portugueses que li por completo, e achei-o um método genial para aprender português idiomático. Ainda recomendo que novos leitores experimentem BDs antes de enfrentar um romance.

Infelizmente, a editora Devir deixou de publicar a série após o volume 14 e depois nós leitores tivemos de mudar para a versão brasileira. Confesso que acho um chatice ler tanto calão brasileiro e tenho saudades do meu mundo perdido: Os EUA pós-apocalipticos à portuguesa!

Mas não desesperes! Há uma luz na escuridão! Segundo o site bandasdesenhadas.com, a editora voltará a publicar novos livros. Esperam completar o conjunto em 2025. Fico muito feliz e antecipo ler os próximos volumes em breve.

The Walking Dead 19
Even if you don’t know any portuguese, you can pretty much guess what they’re saying here and none of it is about flowers or kittens.

Entretanto, o Rick carioca não deixa de ser interessante. Este episódio conta a história da aliança entre as três colónias*: Hilltop, O Reino e… A outra cujo nome me escapa… Juntam-se para entrar em guerra contra o grupo de Negan. Ouvi dizer que o Negan se torna um aliado do Rick na série mas é quase inacreditável porque na BD é praticamente o diabo! De qualquer maneira, a ação neste livro é incrível, com poucas páginas perdidas em coisas de telenovela. Acho que é o melhor da série até agora.

Li este livro no app Kobo no meu telemóvel mas não recomendo, porque fiquei com dores na vista. Antes, experimenta o Wook e começa no início!

*I originally wrote “povoação” which I think would normally be used for population, as in “the population of the UK is increasing by 1% per year due to net immigration” but can also sometimes mean a village or settlement (the actual word I was trying to translate) according to Priberam, but it seems povoado is a more natural word, but apparently in the TV series they are referred to as colónias – eg here (but it’s Brazilian so uses a circunflexo)