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Pedro e Inês

Notes jotted down from part of the Portuguese Culture Unit I am studying.

Um Resumo Simplório da História de Pedro e Inês

Pedro I de Portugal (1320-1367), antes da sua ascendência ao trono, casou com Constança Manuel, mas foi abertamente infiel com a aia dela, a galega Inês de Castro. O pai de Pedro, o então rei Afonso IV, reprovou a relação, até após a morte de Constança quando Pedro e Inês viviam com se fossem casados. Em 1855 o rei mandou o assassínio de Inês, temendo a influência da família Castro. Este ato provocou uma rebelião contra o rei por Pedro, os Irmãos de Inês e vários aliados, mas não foi bem sucedido e os dois lados na guerra concluíram um paz desassossegado. Dois anos depois, com o morte do soberano, Pedro foi aclamado rei do país e pós em andamento a sua vingança contra os homens que executaram as ordens de Dom Afonso. Logo depois, afirmou que tinha casado com Inês antes da morte dela e declarou-a como rainha. Até se diz que o cadáver de Inês foi desterrado e coroado e que os nobres foram forçado, sob pena de morte a beijar a mão dela. Seja como for, os túmulos dos amantes ficam no Mosteiro de Alcobaça, lado a lado para que, no dia da ressurreição, acordado dos seus sonos, Pedro e Inês se vejam sem demora.

O Túmulo de Inês de Castro

As Trovas à Morte de Inês de Castro

Segundo o site Mitologia.pt , existe um poema secreta, atribuída ao então infante Pedro, mas a sua autoria é discutível. Porém, segundo o mesmo site, o comprovadamente mais antigo poema (tirando esse duvidoso) é “Trovas à Morte de Inês de Castro” de Garcia de Resende (1470-1536).

O poema é contado do ponto de vista de Inês, na hora da sua morte. Ela não culpa o rei mas sim os cavaleiros que acabaram executados por Pedro. Este decisão é interessante. Às vezes, vemos obras de arte que evitam responsabilizar uma figura histórica porque a figura anda favorecida pelo povo ou pelas autoridades atuais. Será que o rei da sua época desfavoreceria qualquer pessoa que criticou o seu antecessor? Parece-me pouco provável uma vez que um século tinha passado entre o morte do Pedro e o nascimento do poeta, mas quem sabe?

Crónica

Mais um poeta que escreveu poesia sobre a lenda é João Miguel Fernando Jorge (1943-hoje). O professor do curso forneceu-me com fotos de 7 páginas do livro “Crónica“. O que mais me marcou foi a diferença entre as primeiras linhas de cada página (por exemplo “COMO ELREI DOM PEDRO DE PURTUGAL DISSE POR DONA ENES QUE FORA SUA MOLHER REÇEBIDA E DA MANEIRA QUE ELLO TEVE” e o resto do texto que é escrito em português moderno. A razão custou-me descortinar: A obra do Jorge é uma espécie de atualização ou de recontagem de uma obra mais antiga, especificamente a “Crónica de Don Pedro I°” de Fernão Lopes (1418-1459) o escrivão e cronista do reino de Portugal, daí a sua ortografia antiga.

Teorema

Passos em Volta de Herberto Helder

Teorema é um conto de Herberto Helder. Helder (1930-2015) foi um poeta madeirense, mas, ao que parece, também soube escrever prosa. E sendo ele madeirense, por acaso, não tive de ler o conto online porque a madeirense que tenho em casa tem um exemplar do seu livro “Os Passos em Volta” no estante. É brutal! Adorei! É contado na primeira pessoa por Pêro Coelho, um dos dois executados por Pedro por ter participado no assassínio de Inês de Castro. Fiquei muito orgulhoso logo na primeira página porque o narrador descreve uma janela “no estilo manuelino” e eu soube instantaneamente que era um anacronismo: o estilo manuelino foi desenvolvido na época de D, Manuel I, cem anos depois da morte de D. Pedro. Mas mais tarde o narrador ouve a buzina de um automóvel e eu entendi que o conto é surrealista. A estátua do Marques de Sá da Bandeira? Mais um anacronismo, não é? E o protagonista continua com a narração enquanto o soberano come o coração dele, cru e cheio de sangue, o que não é normal. Eh pá cinco páginas esmagadoras!

Pedro Lembrando Inês

Já li dois livros de Nuno Júdice (1949-2024), mas não sabia que ele também escreveu um poema do ponto de vista de Pedro, nos anos após a morte da sua amante

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7 Senhoras

7 Senhoras” de Margarida Madeira é mais uma banda desenhada mas tem um ritmo mais lento do que o do Astérix. Retrata as vidas de sete mulheres que a autora conhecia na juventude. Temos, por exemplo, uma bisavó, uma professora e uma senhora que faz parte da vizinhança, mas cujo nome a autora nem sequer sabe. Não há enredo nenhum, apenas uma vista microscópica destas vidas únicas, algumas ternas, outras absurdas, mas cada uma desperta a atenção da menina que um dia tornaria artista e autora. É uma homenagem às vidas escondidas que nos influenciam ao longo do caminho, cada uma à sua própria maneira.

Look at this mess! I hadn’t even started it and already I’d done this. This is why we can’t have nice things.
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Asterix Na Lusitânia – Opinião

Adoro esta série de bandas desenhadas e estou muito feliz que os nossos heróis, Astérix e Obélix chegam finalmente na província romana de Lusitânia. A sua missão é libertar Malmevês, um empresário de garum (uma espécie de molho de mariscos) e o pai da Saudade, (uma mulher pela qual o Obélix está caidinho, embora não admita!). O Malmevês está preso numa cadeia romana porque é suspeito de um atentado contra o imperador, mas os gauleses espertos sabem descortinar o verdadeiro assassino, disfarçando-se como Tugas para entrar sem ser capturado.

Ainda bem que não havia partidos políticos da extrema-direita porque às vezes os visitantes ajudam muito.

Como sempre, os habitantes da terra onde a história tem lugar têm as características dos atuais habitantes do país moderno: comem bacalhau, construem calçadas mosaicas e cantam poemas tão melancólicas que quem os ouve desata logo em lágrimas.

Apesar da morte dos criadores, Goscinny e Uderzo, a série retém o espírito dos livros originais: humor, otimismo, alegria e inteligência.

Astérix na Lusitânia: Wook

Pois é, mas como se pronúncia o nome do tipo?
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As Personagens do Livro Viagens Na Minha Terra

A Terra

Há uma mapa que estende da contracapa para a capa do livro. Na verdade, a viagem é curta. É possível caminhar aquela distância dentro de um dia

Além do território em si, a história enxertado pelo autor em VNMT, como já disse ontem, tem cinco personagens, entre elas três que merecem inclusão no Dicionário de Personagens da Ficção Português*. Nestes resumos daqueles resumos (por assim dizer), irei omitir os pormenores da história e concentrar no caráter de cada um.

Carlos (aqui)

Carlos é o herói da conta. O autor concretiza nele as ideais da revolução: singeleza, honestidade, generosidade. Na sua cara, them uma “boca desdenhosa, não por soberba mas por consciência de ‘uma superioridade inquestionável'” o que reflete, acho eu, a intenção por parte do autor que nós nos identificam com esta protagonista admirável. O conflito no seu peito entre a sua lealdade à Georgiana e o seu amor para Joaninha é motivo de ânsia, precisamente por causa das boas qualidades dele. O autor justifica-nos “rousseaunianamente” esta paixão.

A reação dele á aparência do frade mostra o sangue quente do homem, mas não «e fora do controlo, como dizemos quando deixa de atacar e em vez de cometer parricídio, junta-se ao exército liberal. Mais tarde, Carlos, após algum tempo em exílio onde “flirtara” com três irmãs britânicas a fio, “adquiriu facetas dândis”, mas ainda era capaz de tomar ação decisiva para romper os laços de amor. Também fala do amor da sua pátria, e a veemência do seu liberalismo, que dá origem ao desejo se tornar deputado. Como resultado, perde algo do seu espirito aventureiro e engorda nas vésperas da sua vida.

O artigo conclui com o seguinte parágrafo imelhorável

É bem um “herói” romântico, Carlos. De íntimo ferido no confronto da sua pureza primitiva com a poluição do grande mal e da sociedade dispersora, ganha configuração ficcional pela representação de um mundo subjetivo intenso, fragmentado, complexo, posto em relevo pela contraposição a várias personagens e pela articulação com um tempo histórico em devir, também exemplificativo do descambar fatal dos ideais.

Joaninha (aqui)

O escritor do retrato dedica um parágrafo inteiro á aparência física da Joaninha. Não é bela mas tem “Um vulto airoso” e blabla, voz doce, olhos como esmeraldas, voz puro, árvores e espiritualidade e tal. Mas além disso tudo, ela “afasta-se, pois, dos estereótipos românticos da mulher-anjo ou da mulher-sílfide” e vive no vale que nunca abandonou, rodeado de rouxinóis e outras criaturas. É corajosa e ama sem reserva o seu primo.

Enlouquece quando ouve de como Carlos “caíra em fragmentação interior e “morte” moral no ceticismo, tornando-se incapaz de amar a inocente que poderia revocá-lo do abismo”

Explicando o lugar da mulher dos rouxinóis nesta história, Ofélia Paiva Monteiro diz o seguinte:

Joaninha, sem deixar de ter alguma consistência física e psicológica, “vale” sobretudo como poética representação da inteireza natural, irrecuperável para os que perderam, como Carlos, a unidade e a transparência nativas.

Frei Dínis (aqui)

O frade é uma figura “seca, alta e um tanto curvada” da aparência, e “austero” com “crenças rígidas” e “lógica inflexível”. A sua natureza não é completamente sem simpatia mas afinal o frade representa o clericalismo do regime antigo mas também é o pai do herói romântico que tem de se submeter á raiva do filho, naquela cena miserável quando a verdade é descortinada. A consciência por parte de Frei Dinis do seu pecado imperdoável assombra a sua aparência física e as vezes até o faz tremer.

*Annoyingly, the first time I clicked on this it failed to load because there’s a problem with its security certificate, so I had to go into the security settings and tell it to ignore problems on this specific site. Doesn’t seem to happen in Edge, only Chrome.

**I had to squint at this for a bit. It’s an adverb meaning “in the manner of Jean-Jacques Rousseau”. There you go, try dropping that into your next conversation!

Termos usados nos textos que podem ser úteis no contexto académico

Oitecentista: que viveu no século XIX – os millennials daquela época

Metadiegética: Palavra não encontrada no Priberam, mas segundo este fio redditético, existem mais palavras na mesma família: um narrador extradiegético é o narrador do livro que o leitor tem nas mãos. Um narrador intradiegético é um narrador de uma historia dentro do livro que conta as aventuras de um terceiro (o redditor dá o exemplo da Sherazade nos “Mil e Um Noites”) e um narrador metadiegético é um narrador da hístoria contado pelo próprio narrador intradiegético, como por exemplo Simbad, o navegador e o protagonista d’O Marujo. Todos escrevem na terceira pessoa mas existem em níveis diferentes na contagem das histórias dentro da história principal! Uau! Nunca antes ouvi falar deste concepto!

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Livros da Piça

In which, in honour of the new pope, I make a rare mention of Fátima, and try not to get murdered by JD Vance.

CW: Orgãos sexuais masculinos

Entre os diversos podcasts na aplicação do meu telemóvel, existe um chamado “Livros da Piça”. Como é óbvio, é um podcast sobre livros, e os anfitriões são Sergio Duarte e Bruno Henriques, dois humoristas ou satiristas ou sei lá o quê, que também produzem o podcast “Jovem Conservador de Direita”. Só ouvi poucos episódios porque alguns deles durem mais do que duas ou até três horas, mas o último é um bom exemplo da espécie de livro sobre qual gostam de discursar: “As Aparições de Fátima e o Fenómeno OVNI” de Fina d’Armada e Joaquim Fernandes. Para quem não entenda este título, Fátima é uma cidade em Portugal onde a Nossa Senhora apareceu em 1917 e falou com três putos de lá por motivos que são opacos para nós seres humanos. É um dos lugares mais sagrados no mundo católico, tipo Lourdes em França, Mejugorje na Bosnia ou Craggy Island na Irlanda. E um OVNI? Então perdeste este texto? Por favor, presta mais atenção ao meu blogue.

Segundo o autor do livro, os milagres testemunhados pelos Pastorinhos de Fátima não foram exemplos do poder de Deus, claro que não, que noção rebuscada. Não, foram evidência de alienígenas. Como disse um dos humoristas, isto é um raro exemplo de uma teoria de conspiração com extraterrestres que chega a ser mais credível do que a alternativa. Mas ainda assim, é bastante estúpida.

De vez em vez, publicam um episódio sob a rúbrica “Livros do Caralho”, no qual os dois conversam sobre um livro de que gostam, como interlúdios no seu fluxo interminável de leituras execráveis. A diferença entre Livros do Caralho ou da Piça interessou-me muito. Obviamente, Caralho e Piça significam a mesma coisa: O orgão sexual masculino. Então, porque é que um Livro da Piça é péssimo mas um Livro do Caralho é ótimo? Pela mesma razão que “It’s shit” significa o oposto de “it’s the shit”, ou “absolute bollocks” não é igual a “the dog’s bollocks”. O calão de qualquer idioma é infindavelmente flexível e quase impossível de explicar.

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O Dia 25 de Abril

Olá!

Já esqueceste deste blogue? Eu também? Sei lá porque. A vida não é assim tão atarefada hoje em dia. Ou seja na verdade, ando com um bico-de-obra, mas passei por tempos piores. Consigo escrever mais, mas falto-me a motivação.

Mas hoje o meu insta está cheio de fotos de manifestações contra o fascismo e celebrações da democracia portuguesa que, com 51 anos, é mais nova do que eu.

Para comemorar este aniversário da liberdade, tentei ler o livro “Quanta Liberdade” de Rui Garcia e Gabriel Lagarto mas não me chamou a atenção. Provavelmente escolhi mal: encontrei o livro numa loja de segunda mão em Setúbal mas ele nem sequer existe no Goodreads, o que significa que poucos portugueses já leram! Tratam-se de um conjunto de textos e de desenhos rabiscados, montados num formato remanescente de uma pasta, usando a tipografia daquela época e com os carimbos e o lápis azul do Estado Novo. Tem bom aspecto mas infelizmente, achei os conteúdos fracos e incoerente.

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Uma Opinião Que Não É Uma Opinião

Costumo de escrever opiniões nos livros portugueses que leio. Ouvi este Audiolivro enquanto embrulhava as prendas de natal sob influência do Baileys, portanto a minha memória está embaciada e a minha opinião não é confiável… Peço desculpa. Talvez no próximo Dezembro eu volte a ouvir, sem álcool. Os contos individuais são disponíveis na loja Kobo mas provavelmente não te apetece lê-lo em Janeiro!

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Sal – João Andrade e Luís Buchinho

Sal - João Andrade e Luís Buchinho

Esta banda desenhada conta a história de uma rapariga madeirense, de uma família em crise, que foi levada para uma casa de acolhimento. Os quadrinhos são bem desenhados. É super fácil entender quem está a falar e o que é que está a acontecer. Em sumo, a execução da história é bem realizada. Quanto à história, tenho algumas dúvidas sobre como funciona o sistema de apoio de crianças. Tendo trabalhado neste ambiente no passado, parece-me pouco provável que um trabalhador de proteção de crianças tenha o direito de simplesmente encostar o carro na rua de um menino e dizer “entra no carro” como acontece neste livro. Ainda por cima, o comportamento dos empregados na casa de acolhimento é pouco profissional… Eu sei que cada país tem as suas normas mas… Uau, fiquei surpreendido com as palavras que usaram, e a falta de respeito para a privacidade das crianças. Não é abuso, nada disso, mas também não é muito simpático. Mas talvez este especto faça parte da história. Infelizmente não sei como os autores vão desenvolver este fio da história porque este livro é apenas o volume 1 de uma série, o que não é evidente pela capa, mas ainda assim, é, mesmo. Então, vai haver mais no futuro, mas esta parte tem uma conclusão satisfatória da primeira fase da nova vida dela, portanto não me deixou frustrado por não completar a história.

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A Couple of Interesting Things Happening in London, One of of Which Might Not Be Happening, Who the Heck Knows?

Just by pure chance I heard about another two Lusophonic Occurrences here in London this week.

One is the Utopia Film Festival, which started yesterday and goes on till the twelfth. The films look quite serious and not exactly entertaining but if I can shake the lurgy, I might go and see one towards the end of its run.

And the other is a weird one. It’s a brand new international Portuguese literary festival in London, on Saturday the 7th. But hang on, haven’t we already had a brand new international Portuguese literary festival in London, FLILP, in June this year? I mean, I’m grateful for all these international Portuguese literary festivals you’re bringing to my town, but there must be other towns and other countries that need brand new international Portuguese literary festivals!

Anyway, it’s called Letras Lusas Em Londres and it was organised by Alcino Francisco, who I actually met and spoke to at FLILP in June, where he was one of the guests, and bought a copy of his book.

It’s surprisingly hard to find details of the festival though. I can see a few people on Insta refer to it, and even an interview with Alcino himself, but I can’t find an official account for the event on Insta. Alcino Francisco’s own Instagram account is dormant. If I Google the name of the festival, there’s a Facebook page right at the top of the ranking, but when I click on the link I land on some random video clip, so I think the page was deleted. This news article describes it, but there are two links to the organisers’ websites and both of them are deadlinks.* I can see there’s a reasonably full list of guests on this page, but nothing like this glossy publicity materials FLiLP put out in the run-up to their launch. It’s all weirdly hush-hush really. I dug around all over the place. I found another blogger who had done a couple of posts about it, so he must be better informed than I am, but, again, I’m not seeing anything linking to some central place on the Web where the organisers have set out a programme, or what to expect or… Well, anything really. The woman who put together FLiLP seems much better organised, as well as… Ahem… More original.

An old friend of the family has suggested we go together but even if I wasn’t full of cold germs, I don’t think I’d want to trek over there because I’m not even sure it’s actually happening. That’s how bad the lack of information is.

*By the way, it also contains the phrase “@s leitor@s” which almost made me want to take Solanium’s example and learn Spanish instead.

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A Viúva – José Saramago

Pela segunda vez neste mês, encontro-me sentado à mesa a escrever uma opinião sobre um livro mas com mais vontade de escrever sobre as circunstâncias da leitura em vez do seu teor.

Deixem-me explicar: este é um Audiolivro mas li-o na aplicação da Bertrand e a app da Bertrand é um verdadeiro monte de merda. De vez em quando, fecha-se inesperadamente e quando se reabre, a app esqueceu-se de onde ia. Isto aconteceu centenas de vezes.

Como resultado, li grande parte do livro mais do que uma vez, provavelmente saltei uns parágrafos e perdi (a) o fio à meada e (b) a minha vontade de viver.

Nada disto é culpa de Saramago, mas ainda assim, responsabilizo-o por ter escrito um livro que acabou por me causar tanta dor. Passou a ser o meu inimigo.

O livro não é típico da obra dele. Escreveu-o em 1947, e foi publicado sob o título d’A Terra do Pecado. O estilo idiossincrático de Saramago não se tinha ainda desenvolvido. O enredo, as frases e a voz autorial, todos fizeram-me lembrar dos poucos romances do século XIX que já li. Um Eça de Queirós ou um Camilo Castelo Branco.