A minha esposa partilhou este vídeo e mais 8 (!) da mesma pessoa. Tem uma voz muito “asmr” e escolhe poemas incríveis. É um jovem que ama poesia e que valoriza a literacia em geral. Já publicou um livro das suas próprias obras. Os seus vídeos até têm legendas! Recomendo como boa opção para quem quiser descobrir a poesia portuguesa.
Tag: literatura
A Padeira de Aljubarrota Está de Volta
Sorry, I’ve no idea what anyone reading these updates is making of them: they’re all just formless, unedited brain-dumps of the texts I’ve been reading on the Literature and Culture course unit. I´ve got so used to using this blog as a way of processing and recording things that I´ve lost the ability to just write stuff down in a book.
As I write this, I have just finished sending my first ever essay to the Universidade Aberta. I
Já conheces a Padeira de Aljubarrota, não conheces? Já falei sobre a sua lenda aqui mas faz dezenas de referencias a história por exemplo isto.
Inês de Castro, a senhora mais bela (segundo as lendas escritos por homens) da história de Portugal agora cede lugar a Brites de Almeida que foi (segundo os mesmos homens) a mais feia e a mais sobrededada*. A segunda parte do curso tem a padeira como assunto, portanto dirijo-me para o campo de batalha onde os espanhóis derrotados afastam-se do exercito e correm em direção a um inimigo ainda mais assustador…

Os Livros Populares Portuguezes (Folhas Volantes ou Litteratura de Cordel) – Teófilio Braga
Este texto descreve a origem da tradição de “literatura de cordel” em Portugal e situa um panfleto – “Auto Novo e Curioso da Padeira de Aljubarrota” neste tradição.
Literatura de cordel surgiu de tradições mais antigas, satíricas ou religiosas, que foram dramatizados nas cidades, mas o formato dos livrinhos era que deu o nome ao género. Foram impressos em folhas soltas, penduradas em cordéis e vendidas por cegas. Existiam até no século XVI mas algumas leituras foram vítimas dos índices expurgatórios**
Houve um renascimento da literatura popular no século XVIII, fomentando uma ligação entre as várias tradições orais e a imprensa. O “Auto Novo e Curioso da Padeira de Aljubarrota” (ou “Forneira” – depende da edição) saiu em 1743 mas encontra-se nos catálogos populares no Porto em meados do século XIX. Segundo o historiador, o autor, Diogo da Costa foi pseudónimo de um professor de gramática, André da Luz
“Auto Novo e Curioso da Padeira de Aljubarrota” Diogo da Costa
Segundo a leitura anterior, “é uma relação alambicada e conceituosa” e concordo que a história é tortuosa mas não o achei assim tão sentencioso. Um pouco, sim, mas a narrativa continua em frente come cena após cena de ação. É picaresco e às vezes sangrento. Além dos espanhóis, ela degola um turco (e os filhos dele), fere de morte um homem que quer casar com ela, e mata um bando de ladrões. Estou a esquecer alguém? Sei lá.
O que mais me marcou é que o conto não tem nada de patriotismo no retrato da padeira. No primeiro parágrafo, o autor descreve a terra dela como “a famosa, e sempre leal Cidade de Faro” e salienta as origens humildes de Brites de Almeida. Estes dois elementos podem ser atributos de uma heroína popular, mas as ações dela surgem da amizade aos portugueses, ódio aos criminosos e donos de escravos, proteção da sua propriedade (o forno) mas amor da pátria, nem por isso!
“A Padeira de Aljubarrota: Entre Ontem e Hoje” (Capítulo 4) Cristina Pimenta
Espero que não errei em escrever o título. De acordo com o arquivo, é simplesmente “A Padeira de Aljubarrota” mas fiz uma pesquisa e acho que este é o único livro que ela escreveu.
O livro mostra a evolução ao longo dos anos, desta figura mítica, ela foi adaptado pelos autores de cada época para fortalecer o espírito nacional:
- Restauração (1640) A evocação da padeira em contextos religiosos e historiográficos deu legitimidade á nova dinastia de Avis.
- Século XVIII Em tempos de calma, a história foi tratado mais levemente e foram acrescentados mais pormenores à lenda (foi durante este século que foi escrito o antes mencionado “Auto Novo…”).
- Século XIX Numa era de romantismo e liberalismo a história foi apropriado como símbolo da regeneração nacional após a derrota do Miguelismo*** Também surge como personagem no livro “A Abóbada” de Alexandre Herculano or causa do seu valor simbólico.
- Século XX Como é óbvio, uma figura tão trabalhadora, valente e simples representa um oportunidade ao Estado Novo que colocou a padeira em selos dedicados á independência da república. Também apareceram versões Salazaristas da lenda, editado pelo Secretariado da Propaganda Nacional. Além dos já existente virtudes, o regime acrescentaram moralidade e defesa da pátria.

* Not a real word, obvs. I am trying to say she is “over-fingered” because she supposedly had six on each hand
**I should probably do a blog on Censura in Portugal at some point – it’s listed here though if you’re interested.
***I should probably know what this is but I don’t
Brevíssimas Notas Sobre Os “Estudos”
Super-speedy notes on (some of) the academic papers on the theme of Pedro and Inês. Not really attempting to summarise the whole work, just peg out the aspects of each that intersects with the theme of the course.

“Ruy Belo: a Alegria em Preparação” João Miguel Bray Gomes Silva
“A Margem de Alegria” de Belo “Tematiza o amor mítica de Pedro e Inês” no qual Inês representa “o eterno feminino”. Assim, o autor da Tese retrata “o esquema do mito Inesiano” e sublinha as ligações com a poesia de Belo e com o seu próprio argumento. Inês atingiu uma forma de vida após a morte, simbolizada pela sua coroação póstuma e concretizada pelos túmulos de Alcobaça. Pedro faz a sua parte neste imortalização, facilitando a acsensão e construindo os túmulos legendados “até ao fim do mundo” ou seja o dia de julgamento. Assim, a poesia (no lugar de Pedro) consegue superar a separação numa eterna união além da morte. Ainda por cima, a morte representa a separação entre o amador e a amada, e no processo de redenção “transforma-se o amador na cousa (sic) amada”.
“A Identidade Nacional Na Literatura Portuguesa” Ana Cristina Correia Gil
“[…] duas conclusões fundamentais: os autores nacionais, até ao século xvi, contribuíram para a formação e consolidação da consciência pátria – é a fase da fundação. A segunda ilação é a de que a partir deste mesmo século, fruto da agudização dos sintomas de crise em Portugal, se desenvolve na literatura nacional um veio de crítica à conjuntura do país, que culmina, no século xix, num amplo movimento
de questionação sobre o modo de ser português, protagonizado pelo Romantismo e pela Geração de 70 – é a fase da problematização.” Ana Cristina Correia Gil.
A autora começa a sua história com Fernão Lopes (sobre o qual falei num blogue há uns dias) e dá como exemplo a sua “Crónica de Dom Pedro I”, tendo como ponto de partida os arquétipos na literatura português (Pedro e Inês mas também Dom Sebastião, O encoberto (o quê???), As Ilhas Afortunadas, O Quinto Império, entre outros) como símbolos da identidade nacional.
“O Paradoxo Da Ficção Histórica Do Povo Lusitano” Sirlene Cristófano
A Investigadora pretende descrever a influência do mito de Inês na literatura portuguesa a partir do século XIX e a elevação da História ao estatuto de uma ciência. Começando daí, a ficção – ficção histórica – adquiriu um novo cargo, o de elaborar o lado de história mais humano, além das narrativas técnicas dos historiadores. Não passam de ser ficção mas por outro lado, tive como tema uma história verdadeira. Os exemplos dados são o “Teorema” de Herberto Helder (já referido) e o “Inês de Portugal”, um romance fino escrito por João Aguiar. Ambos os exemplos foram escritos em meados do século XX.
A ficção de Helder destaca a auto-imagem de Pêro Coelho como ator na história do país no contexto do mito inesquecível de Pedro e Inês, mas o de Aguiar salienta o papel de Inês como uma pessoa identificável, apaixonada mas ligada à cobiça da sua família.
“Mitos, Traumas e Utopias” Roberto Nunes Bittencourt
O autor toma como aporte teórico as obras de António de Macedo, Dalila Pereira da Costa, Gilbert Durand, Lima de Freitas, Sergio Franclim and Eduardo Lourenço. Em suma, a literatura portuguesa volta repetidamente a certas figuras que “sendo históricas, transcendem a própria historicidade”. Assumem “diferentes roupagens de acordo com condicionamentos históricopolítico-culturais” num processo de “definição da própria identidade nacional”. No caso de Inês e Pedro, o mito é um de “paixão que
erremete (sic*) contra a lei da morte” (segundo Lima de Freitas)
“Martírio e Sacrifício Voluntário na Tragédia Humanista e no Mito Inesiano” N. N. Castro Soares
Antonio Ferreira (1528-1569) Na sua tragédia “Castro” apresenta Inês como “vida cortada em flor”. A figura de Inês é mais complexa do que outras representações. Há um conflito entra a pureza dos motivos dela e a culpa perante Deus. Durante a cena na qual Inês morre, o romance introduz elementos de voluntariedade, como se fosse um mártir, cuja inevitável morte é aceite “por glória sua”. A cena é construída à maneira de Euripides para a apresentar como heroína sacrificial exemplar.
Camões também a trata como vítima sacrificial.
Eugénio de Castro** (1869-1944) no seu poema Constança foca na dor da esposa de Pedro. Inês é um “pessegueiro em flor” e uma mulher fatal “involuntária” mas a beleza dela ultrapassa a da Constança e ela emerge como inocente e “a imagem emblemática do amor”
“Inês de Castro na Literatura Portuguesa” Leonor Machado da Sousa
Evolução da representação do mito
Trouas*** de Garcia de Resende e a Visão de Dona Inês de Anrique da Mota: Inês como vítima inocente num ambiente bucólico.
Camões dá projeção universal ao mito delineado por Mota e Resende com os seus Lusíadas.
Nos Séculos XVIII e XIX, diversos poetas na lusofonia continuam a desenvolver o mito da sua beleza e a morte dala como símbolo de sofrimento eterno. Sousa Viterbo, em A Fonte dos Amores diz que a história é “o episódio mais sentido da paixão humana”
Nos séculos XVII e XVIII os dramaturgos escrevem de uma Inês inocente, bela e pura que é vítima da política. Durante século XIX, o romantismo reforça a ideia a “bela do colo de garça” e a tragédia do amor impossível, mas ao final daquele século vendo as limitações da personagem, os escritores começam a retirar o protagonismo a Inês, fazendo Pedro a personagem central do drama. Inês persiste como pura e bela mas os tormentos do infante é visto como fonte fecundo de narrativas como “A Morta” (1890) de Henrique Lopes de Mendonça e “Pedro o Cruel” (1915) de Marcelino Mesquita.
Na segunda metade do século XX, a partir a estreia de “A Outra Morte de Inês” (1968), de Fernando Luso Soares, o holofote volta para Inês, agora com mais agência pessoal. Torna-se um símbolo da liberdade individual contra o poder
Na prosa, Inês é sujeito de romances históricas e de historiografia, que muitas vezes acrescentam temas míticos aos factos verídicos. Ainda existem romances sobre os filhos de Inês.
“A Tragédia de Inês de Castro: Uma leitura semiótica de ‘Teorema’ de Herberto Helder” Teresinha de Jesus Baldez e Silva
Usando o modelo desenvolvido por Algirdo Julien Greimas, o autor analisa os este conto, demonstrando como o autor “desmistifica e remistifica” o mito. Pêro Coelho é elevado a ser protagonista num ritual mítico. A narrativa realista é subvertida deliberadamente, com efeito de realçar o caráter simbólico do mito. Inês não aparece porque já está morta ao arranque da história mas emerge como uma figura mítica, luminosa e eterna.
“Inês de Castro na Fénix Renascida – variações barrocas de um mito histórico-literário” Micaela Ramon
Fénix Renascida ou Obras Poéticas dos Melhores Engenhos Portugueses é um cancioneiro seiscentista português, publicado sob a direção de Matias Pereira da Silva em cinco volumes, de 1716 a 1728 (Wikipédia)
O autor começa por resumir diversas leituras já descrito. O “Fénix Renascida é um coletânea de poesia barroca. Destaca-se 3 poemas
- Glosa de Barbosa Bacelar à estância 120 de Camões.
- Romance de Jerónimo Baía (“Abrindo-se a sepultura de D. Inês de Castro”).
- Sentimentos de D. Pedro e Dona Inês de Castro, atribuído a Manoel de Azevedo Pereira
Os Poetas Barrocos desprezam os aspetos factuais e históricos, focando nos aspectos lendários e sentimentais como por exemplo
- Pedro o protagonista
- O amor eterno de Inês
- A fragilidade da existência
Usa-se metáforas, hipérbole e outras figuras típicas do movimento barroco.
Em suma, a lenda é um exemplo universal da efemeridade da vida e da vaidade humana e do pathos do amor trágico.
* “Erremete”? What’s going on here? I couldn’t find the word in Priberam. The same quote with the same spelling appears in another article by the same author here. But further digging found a quote from the same source but by a different author, and it’s written as “arremete” there. Arremeter is a legit verb meaning “Atacar com ímpeto”, which seems to fit in the context of the sentence, so I think it’s safe to say it’s a gralha in Bittencourt’s notes that he’s copied into two separate papers. Probably. Best avoid the hubris of correcting portuguese academics when I could have totally the wrong end of the stick, but that’s how it looks to me anyway!
**Hm, wonder if his surname had anything to do with his choice of subjects
***Trovas, presumably but it appears multiple times and is italicised so must be an older orthography rather than a typo. I referred to Resende and the Trovas in a recent post
3 Conceitos
O professor Carlos Reis alista os seguintes conceitos como relevantes no ensino da literatura. Encontramo-los em funcionamento na forma que olhamos para o texto (está a falar sobre os Maias)
Intermedialidade
A intermedialidade é a possibilidade de descobrirmos interações entre discursos em mediáticos autónomos: livros, filmes, bandas desenhadas podem dialogar entre eles.
Transnarratividade
A transnarratividade é a disseminação da narratividade em práticas para além das narrativas formalmente constituídas como tais.
Transmedialidade
A transmedialidade trata-se de uma passagem de uma narrative de uma forma para outra. Por exemplo, uma adaptação de um livro no cinema.
O professor esclareceu com exemplos nos quais Eça de Queirós descreve um cena com linguagem muito “visual”. Podemos pensar nisso como uma cena num filme. Também podemos imaginar uma cena na qual uma pessoa senta-se perto dum quadro de alguém muito parecido como se fosse um “casting”. Hm. A minha primeira reação é de cautela. Nós aqui no século XXI andamos muito acostumados a very filmes, ver televisão, ver filmes de curto metragem e ler bandas desenhadas. Depois voltamos aos livros que (no caso d’Os Maias) foram adaptados várias vezes e interpretamos as descrições visuais dos autores do passado com os nossos preconceitos, como se fossem guionistas de Hollywood. Existem, sem dúvida, exemplos disto: todos nós limos livros cujos autores aparecem desejosos de vender os seus romances a um estúdio cinemático qualquer, e que descrevem eventos do ponto de vista de um camera e até sugerem músicas que caberiam na cena. Mas os exemplos dados pareceram longe disso. Hm… sei lá. Estou aqui para aprender e é óbvio que o professor sabe mais do que eu sobre o ensino da literatura(!) portanto negar os seus exemplos, fazendo orelhas moucas seria um erro. Claro que preciso de pensar mais nisto, digerir, e entender como se aplica ao livro que estou a ler.
A Vida de Estudante
Um dos meus objetivos durante este ano é estudar um curso da Universidade Aberta. Já tentei candidatar-me há algum tempo mas não suportei o site dela. Voltei a carga durante a semana passada e por acaso as candidaturas estavam abertas até ao dia 17 de Junho. Ora bem, hoje é o dia 17, e… inscrevi-me num curso chamado “Formação Modular Certificada em Literatura e Cultura Portuguesas”. Sinceramente, preferia a FMC em Literatura e Cultura Portuguesa, o que é igual mas tem “História Cultural e Artística Portuguesa” em vez de “Temas de Literatura Portuguesa” como a terceira unidade do curso. Infelizmente, este curso é ausente do formulário de candidatura e depois de tanto tempo não aguentei mais. Escolhi a segunda opção.
Ah ah, aqui vou eu mais uma vez, a aprender coisas novas (se for capaz!). Mal tenho noção de como funciona o curso mas uma longa viagem começa com um único passo e neste caso o passo em questão consiste em 35 euros e uma hora frustrante de preencher o formulário.
Homeworkposting
This exercise from PeF seems interesting enough to be a blog post. The questions relate to a short biographical piece about Mia Couto.
- Caracterize a família de Mia Couto.
É uma família de emigrantes que mudou de país para Moçambique nos anos cinquenta do século passado. O seu pai era escritor (jornalista e poeta) cujos avós enriqueceram no setor automotivo mas sabe menos sobre a sua mãe porque ela era órfã que foi criada por um padre que dizia que era o tio dela.
- Por que motivo os pais de Mia Couto foram para África?
Foram para África em meados do século XX porque queriam mais espaço e um novo começo, e o pai achava que teria mais hipótese de sucesso na sua carreira jornalística no estrangeiro.
- De acordo com o autor, qual era o ambiente racial que se vivia na cidade da Beira durante a infância do autor? Dê exemplos retirados do texto.
DIz que a Beira é uma cidade “atravessada” (ou seja, havia muitas pessoas de diversas raças) e uma vez que o seu pai mudou de bairro muitas vezes, cada vez num sítio com poucas famílias brancas, o jovem Mia brincava e andava na rua com jovens negros.
- “O meu pai tinha muito esta coisa que eu era o filho que lhe ia continuar a veia”. Justifique esta frase do autor.
O pai já era escritor e os seus irmãos também escreviam mas na mesma, o pai achava que Mia seria quem continuaria a tradição de trabalhar como escritor profissional.
- Como caracteriza o autor o seu primeiro livro?
Foi uma coleção de poesia lírica que ele escreveu para contrariar a tendência de escrever poesia Marxista falando da condição dos proletários.
- Quais foram as influências literárias de Mia Couto?
Fala primeiro do poeta José Craveirinha. Depois de vários brasileiros e finalmente de três portugueses: Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade e Fernando Pessoa. Acho que estas são influências poéticas; presumo que também foi influenciado por romancistas.
- Que tipo de escritor se considera Mia Couto? Justifique com uma frase retirada do texto.
Segundo os amigos dele, é “mais uma contista do que um poeta”. Eu sei que escreveu poemas mas tendo a pensar nele como escritor de contos também. Também diz “O que escrevo é Moçambicano”, que indica que o autor pensa de si próprio como nativo do país adotado pelos seus pais.
- Nas suas crónicas, contos e poemas, Mia Couto usa muitas vezes palavras inventadas (neologismos). À luz deste facto, explique o sentido da frase “Eu acho que não tem que haver um polícia de trânsito a regulamentar a língua, dizendo: Por aqui não se pode andar. Pode tudo!”. Concorda com o autor?
Está a comparar pessoas pedantes com os polícias que aplicam as leis de trânsito.
Concordo sim, quem pode contrariar? Uma palavra inventada que explica algo novo ou que traz mais nitidez, mais graça ou mais especificidade, enriquece a língua. Shakespeare inventou centenas de palavras. Há palavras que trazem apenas confusão e regra geral reagimos não as usando. Como a palavra “Fetch” no filme “Mean Girls”. E em casos raros as palavras mudam os significados numa maneira desajeitada, tipo a palavra “literally” (literalmente) em inglês. Mas regra geral as novas palavras fornecem mais cor à nossa fala.
Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades
Há um capítulo do Português em Foco que explica alguns pontos altos da literatura portuguesa. Um destes pontos altos é o Soneto. Esta forma de poesia é conhecida tanto em inglês quanto em português. Shakespeare escreveu muitos e neste exemplo o seu primo zarolho, Luís Vaz de Camões* também escreveu. Creio que tem mais influência em Portugal, Não tenho nenhuma perícia neste campo mas não acho que houvesse poetas famosos a escrever sonetos em Inglaterra no início do século XX. Em Portugal, sim**.
Um soneto consiste em 14 versos*** arranjadas em quatro estâncias – duas quadras e dois tercetos. Cada verso tem 14 decassílabos. Que raio é um decassílabo? Não faço a mínima ideia mas 14 deles é igual a dez sílabas. Neste exemplo, a rima segue um padrão: ABBA ABBA nas quadras e CDC DCD no tercetos (assinalado acores no transcrito infra), mas este padrão não é obrigatório. O poema “Rústica” de Florbela Espanca que memorizei em 2021 e que tentei, com o hubris dos ignorantes recitar ontem numa aula porque não tinha feito o TPC é um soneto mas corre ABAB ABAB CCD EED.
A forma poética é importante; o autor do livro afirma que “estamos perante um soneto perfeito” por causa do modo em que o poeta distribui os conteúdos pelas estrofes de maneira que cada estância tem o seu próprio tema.
O título do soneto é igual ao primeiro verso:
Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades (Times change, intentions change)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
*Obviously joking about their being cousins but this made me wonder if they were contemporaries. Sort of. They overlap by 16 years. Camões was about forty years old when Shakey was born.
**I don’t think I’ll be writing a history of anglo-lusitanian poetry anytime soon though, so definitely take this with a pinch of salt!
***OK, well here’s the first false friend for you: Verso doesn’t mean verse, it means a line of the poem.
E O Céu Mudou de Cor – Israel Campos

Neste romance angolano, vemos o mundo do ponto de vista de um jovem que mora num país opressivo, que é ficcional mas é uma versão (se não me engano) da Angola atual. Embora o narrador seja o protagonista, o personagem mais interessante (para mim) é o seu primo, Mateus. Idealista e lutador, este jovem enfrenta a corrupção quotidiana e recusa aceitar os comportamentos e as cunhas que estão a enfraquecer o seu país. Na perseguição deste objetivo, o Mateus, o narrador e um amigo deles, encontram o Sr. Zé que quer levar a cabo uma mudança social. O narrador é mais novo do que o Mateus e não entende perfeitamente o que está a acontecer ao seu redor.
Com humor e emoção, o autor lança uma crítica contra vários aspectos do sistema social. Claro que não conheço o seu país suficientemente para julgar quão exato seja esta crítica, e é muito provável que tenha perdido algumas coisas, mas foi interessante vislumbrar o mundo pelos olhos do seu protagonista.
Feira Literária Internacional de Língua Portuguesa
This is a corrected version of the text from some Instagram posts from Friday




“Matei aulas*” para assistir aos primeiros dois discursos da Feira Literária Internacional de Língua Portuguesa que teve lugar na sede do Facebook em Londres. Foi um evento muito descontraído, e gostei muito de ouvir as suas experiências como escritores lusófonos, muitos dos quais vivem aqui no Reino Unido. Falei com muitos convidados: escritores de… hum… quatro países, e um inglês casado com uma brasileira que também fala português.
Apenas uma pessoa falou comigo em inglês mas houve várias que se ofereceram, antes de eu ter explicado que sou dinamarquês e não falo uma única palavra daquele idioma.
Sendo pai de uma escritora novata, estava disposto a comprar livros de outros escritores independentes e auto-publicados. E sendo estudante de português, também me senti disposto a comprar qualquer coisa de alguém que elogiasse o meu domínio da língua 😉 Consequentemente, gastei muito dinheiro em livros novos. A minha pobre TBR.
Saí do prédio antes de publicar esta série de fotos porque receei ser preso pela polícia Zuckerberguista por ter divulgado a palavra-passe da sua rede Wi-Fi
Balanço do dia
Estou muito curioso sobre “E O Céu Mudou de Cor” de Israel Campos (🇦🇴) porque o resumo na contracapa soa interessante, e depois de comprar, assisti a um painel em que o autor participava com mais 3 escritores e escritoras e pareceu-me muito simpático.
Penina L Baltrusch (🇧🇷) é uma autora de políciais. Comprei o “Herança de Sangue” (o seu primeiro, se não me engano). Tem o Big Ben na capa porque tem Londres como cenário. ‘tá bem, estou aqui com as pipocas.
Lorena Portela (🇧🇷) estava a vender o seu romance de estreia, “Primeiro eu Tive que Morrer”, que é «um inventário da autodescoberta de uma mulher». Acho que não faço parte do mercado-alvo deste livro, mas não me importa, apetecia-me e não preciso de mais razões!
“Phobos” de Cláudia Matosa (🇵🇹) é o único livro em inglês e… Eh pá, acabo de dar uma espreitadela à primeira página: é contado na segunda pessoa! Um modo muito incomum (a não ser que o autor seja o Mohsin Hamid) Não estava à procura de livros ingleses mas gostei da capa 🤷🏼
E o último livro é o “Livre de ser Preso” de Alcino G. Francisco (🇵🇹). Segundo a sua biografia na contracapa, este autor está muito ativo no intercâmbio cultural entre os nossos países, e este livro foi lançado no 50° aniversário do 25 de Abril e conta a história do tráfico de livros proibidos durante a época de Salazar.
Além destes cinco livros, também falei com a autora Isabel Mateus (🇵🇹), cujo leque de publicações inclui um relato de uma viagem seguindo os passos de Miguel Torga, entre vários outros. Não tinha livros para vender mas após a feira encomendei um livro sobre um Lince Ibérico e uma antologia de contos rurais. Achei que ambos seriam interessantes e também fariam parte dos meus estudos porque a conservação de animais selvagens, e as tradições do país fornecem conteúdos dos exames da língua portuguesa.
*Leaving this in even though it’s brazilian. I just like it. Weirdly, the person who taught it to me was very hostile not only to brazilian portuguese but to all brazilians, so you could have knocked me down with a feather when I heard she’d taught me a brazilian expression. Oh well, people are weird sometimes.
Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei
Mais uma vez, virei a última página de um livro e pensei “Quem me dera ter desenhado uma árvore genealógica daquelas personagens” porque confesso que perdi o fio à meada muitas vezes e por isso não gostei da leitura tanto quanto os portugueses que lhe deram 4 ou cinco estrelas no Goodreads.
Alice Vieira escreve muito bem, e geralmente os livros dela são muito acessíveis. Talvez fosse por causa disso que não comecei com a devida cautela! Geralmente com tantos protagonistas eu pego num lápis e faço um diagrama das ligações entre eles*.
“Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei” conta a história de várias mulheres que moram numa aldeia provinciana, que têm os seus próprios sonhos mas que vivem num ambiente opressivo. Existem alguns homens, mas assumem um papel menor. Também há um cheiro a bruxaria mas fiquei tão confuso que nem sequer tenho certeza de se magia existe no mundo do livro ou se era apenas uma expressão da imaginação delas. Eu sei, sou idiota.
Enfim, não faz mal. Talvez volte a lê-lo um dia.
*I originally made this feminine: tantas … elas, because the true protagonists of this are all wammens, but I suppose since it’s talking about books in general, and most books will have da mens in it, I ought to make it masculine again
