Posted in Portuguese

Gente Remota

Gente Remota de Francisco Sousa Lobo

Esta BD é a terceira das três do mesmo autor que comprei de uma vez, e gostei de todas. Parece-me que ele é um homem que não se importa correr riscos na sua arte. A segunda (que não resumi porque é em inglês) tem um pedófilo como protagonista, e o desta é um racista da velha guarda, que, além de ter opiniões nojentas e/ou patéticas, quando lutava na guerra colonial, cometeu um crime grave. A revelação causa ondas nas vidas dos outros em seu redor. Assim como o segundo, este livro espantou-me, mas não cheguei ao nível de boquiabertice* que senti após fechar a capa d'”O Cuidado dos Pássaros”.

*This is a made-up word of course. Estupefação would be better

Posted in English

O Cuidado Dos Pássaros

Just a quick interlude to discuss this book. It’s one of three i bought by the same author and, unlike the others, it’s mainly in English, but it’s a bilingual edition with portuguese dialogue in notes at the bottom of the grid.

O Cuidado Dos Pássaros

It’s quite a hard read though. The main character is a paedophile who’s trying to get through his life without harming anyone. It’s… An original idea for a book, but if you like your protagonists to be sympathetic people you can relate to you won’t find that here!

The other books I bought by him are Cartas Inglesas, which I reviewed a few days ago and Gente Remota, which I just finished today. I’ll be posting that review in a couple of days from now but spoiler alert) it’s definitely the pick of the crop!

Posted in Portuguese

“A Visão Das Plantas” de Djamilia Pereira de Almeida

A Visão Das Plantas

A autora deste livrinho foi inspirada por um breve parágrafo num livro de Raul Brandão no qual ele fala duma pirata que, nos finais do século XIX, participava no tráfego de escravos. O homem tinha abatido dezenas de negros com cal em pó e depois reformou na costa onde cuidava o seu quintal. Ela tem um estilo muito leve. Retrata o protagonista da ponta de vista das plantas dele. Não julgam. Tanto lhe fazem se cuidado por um assassino . É uma obra hipnotizante, e ainda mais poderoso por causa da moderação da autora.

Posted in Portuguese

Capitães da Areia de Jorge Amado – Opinião

I hope its clear from the review, but in case it isn’t, this is a great book to read, but don’t spend time studying the grammar because it’s a million miles from anything you’ll want to write in a PT-PT exam. See this post for the most glaring example but it’s not the only thing by any means.

Capitães da Areia

Raramente leio livros brasileiros porque português brasileiro é tão diferente. Ainda por cima, o português neste livro é longe do padrão de português brasileiro: há montes de calão, expressões regionais e gramática específica à região onde a história tem lugar. Mas apeteceu-me ler porque ouvi tantas coisas boas sobre este autor e esta obra sobretudo. O livro conta a história dum grupo de jovens e meninos abandonados que moram num trapiche(1). Recordei-me dos “Lost Boys” de JM Barrie (o líder ate se chama Pedro, a versão português de Peter) ou as carteiristas do Fagin no Oliver Twist de Dickens. Mas o tom do romance é mais escuro.

São criminosos, temidos pela gente da cidade, mas ao mesmo tempo, são crianças que sentem saudades da segurança e da felicidade de um lar e uma família. São sempre à procura de uma “mãezinha” e querem ir brincar no carrossel. Sem hipótese de viver como crianças, tornaram-se homens, mas não só homens: criminosos. Roubam viúvas, exploram pessoas simpáticas, lutam com navalhas e punhais. A personagem principal, com quem o autor pretende nos simpatizemos, até viola uma rapariga, o que é contado de maneira gráfica, e fica surpreendido quando depois ela o pragueja.

Ao longo dos meses, as personagens andam pelos seus percursos – há tragédia e redenção, mas o pano de fundo contra o qual o enredo se desenrola é a violência e caos na sociedade brasileira nos anos trinta do século XX, e o autor retrata esta sociedade muito nitidamente. É um livro virtuosístico.

(1) Entendi esta palavra como “armazém” mas ao que parece, tem um outro significado em PT-BR: um cais. Acho que armazém faz mais sentido neste contexto porque não consigo imaginar dezenas de pessoas a dormir num cais! Mas vou ver o filme em breve e espero entender melhor depois.

Posted in Portuguese

“Cartas Inglesas” – Francisco Sousa Lobo

Cartas Inglesas de Francisco Sousa Lobo

O autor deste álbum de banda desenhada foi inspirado pelas “Cartas De Inglaterra” de Eça De Queirós. Infelizmente, não as conheço e por isso talvez tenha perdido alguns pormenores.

Tem uma estrutura mais formal do que a maior parte de BD. É composto de 14 capítulos, cada um com 4 páginas, nem mais nem menos. Abordam vários assuntos na vida do artista: a sua psicose, a tacanhez dos ingleses, as feiras literárias, o natal e o antinatalismo (que não é um movimento contra o natal mas sim contra o nascimento!), entre outros. São vislumbres da sua vida, sem profundidade. O capítulo sobre Brexit, por exemplo, tem razão até certo ponto, mas 4 páginas de BD não são capazes de explorar as raízes profundas que deu no desabrochamento dessa flor absurda. Acabou por ser uma caricatura e mais nada.

O livro é bem apresentado e bem desenhado, em tons de azul. Comprei três livros do mesmo autor de uma vez, e não me arrependo desta decisão!

Thanks to Talures for the help.

Posted in Portuguese

Um Dia de Leitura

A minha filha sugeriu ontem que passemos um dia inteiro a ler. Não tenho a certeza de que, quando acordar, ela ainda quererá seguir este plano. Tendo em conta como os adolescentes mudam de opinião, é possível que não tenha vontade, mas não perco a esperança. Está ansiosa por terminar vários livros do género “jovem adulto”, porque não os quer ler na universidade, mas está tão ansiosa que começa novos livros sem terminar os anteriores. Ainda ontem, sacou um novo livro e começou a queixar-se que a autora é parva. Tanto quanto sei, já anda a ler 4 livros. Talvez mais – não estou a par de todos. Não faz mal. Espero que queira continuar com um destes livros hoje, ou até um novo, mas se acordar disposta a escrever ou ver um filme ou outra coisa qualquer, não importa assim tanto.

Posted in Portuguese

“Breves Notas Sobre o Medo” de Gonçalo M Tavares

Breves Notas Sobre o Medo

Não gostei deste livro, mas é provável que não o tenha entendido bem. As frases usadas pelo autor são compridas e complexas. Fiquei com a impressão que autor é pretensioso, porque havia tantas páginas que tive de reler, rereler ou até rerereler, mas muitas vezes as pessoas que acham obras de arte pretensiosas não as entendem e, uma vez que o meu português é fraco, podemos concluir que a minha opinião sobre este livro não vale nada.

Posted in Portuguese

“O Último Cais” de Helena Marques

Começando este livro, custou-me a entender o primeiro capítulo porque havia tantas personagens em duas linhas de tempo distintas que perdi logo o fio à meada. Desenhei uma árvore genealógica de como as várias pessoas estavam ligadas, que tornou a compreensão mais fácil, e depois fiquei absorvido na história.

O enredo anda à volta de uma família madeirense, principalmente um casal que vive nos finais do século XIX. Há uma narradora que está a contar a história mas ela é quase invisível. Poucas vezes faz referência ao seu próprio ponto de vista, cem anos depois, quando herda uma escrivaninha e vários papéis da sua tia, que também é neta do casal.

Cada capítulo é dedicado a um familiar, principalmente os elementos femininos, e a sua perspetiva. Embora Marcos, o marido do casal, seja central ao enredo, não é o protagonista. A autora está mais interessada na experiência das filhas e irmãs e outras mulheres; na primeira página há uma citação de Herberto Hélder* “Começa o tempo onde a mulher começa”.

Seria muito fácil para um livro que tem lugar numa ilha ser insular ou paroquial, mas a autora deixa uma janela aberta para o mundo lá fora: Marcos participou na luta contra a escravatura em África após a sua abolição na Europa e nos Estados Unidos, e outros capítulos abordam o movimento pelos direitos das mulheres, conhecido por sufragismo, o crescimento do sentimento republicano e até o desenvolvimento de infraestrutura tecnológica na forma de um cabo telefónico sob o Atlântico. Assim situando o seu elenco num palco mundial, pintando numa tela grande (estou a misturar metáforas mas não me importa), a autora evita um sentido de claustrofobia.

Adorei o livro e estou muito contente que mo tenham recomendado antes das nossas férias na Madeira.

*i originally wrote this as “há uma citação na primeira página de Herberto Hélder” (there’s a quote on one first page from Herberto Hélder) but that is confusing because “a primeira página de Herberto Hélder” makes it sound like HH has pages, and he probably doesn’t.