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E O Céu Mudou de Cor – Israel Campos

Neste romance angolano, vemos o mundo do ponto de vista de um jovem que mora num país opressivo, que é ficcional mas é uma versão (se não me engano) da Angola atual. Embora o narrador seja o protagonista, o personagem mais interessante (para mim) é o seu primo, Mateus. Idealista e lutador, este jovem enfrenta a corrupção quotidiana e recusa aceitar os comportamentos e as cunhas que estão a enfraquecer o seu país. Na perseguição deste objetivo, o Mateus, o narrador e um amigo deles, encontram o Sr. Zé que quer levar a cabo uma mudança social. O narrador é mais novo do que o Mateus e não entende perfeitamente o que está a acontecer ao seu redor.

Com humor e emoção, o autor lança uma crítica contra vários aspectos do sistema social. Claro que não conheço o seu país suficientemente para julgar quão exato seja esta crítica, e é muito provável que tenha perdido algumas coisas, mas foi interessante vislumbrar o mundo pelos olhos do seu protagonista.

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“Aquilo É Estado”

Mais uma expressão encontrada no meu romance angolano, “E O Céu Mudou de Cor”. Durante uma conversa entre a tia e o irmão do narrador e o filho dela, ela anda a repetir a expressão “aquilo é Estado”, com letra maiúscula na última palavra. Fiquei ligeiramente confuso porque não entendi o que significa Estado neste contexto, mas após ter perguntado à minha professora, e depois pedido conselho aos sábios do Reddit, parece-me óbvio, e mal acredito que o achei difícil.

A tia é um funcionário num serviço na administração pública (o governo, o estado) e por isso é pouco trabalhadora. Há quem ache que todos os funcionários no setor público têm esta atitude e sem dúvida existem também funcionários que realmente têm. A falta de responsabilidade por parte de uma pessoa cujo emprego é garantido, e a falta de financiamento disponível para desembolsar bens ao público dá num serviço que realmente não serve para nada. Os funcionários fazem orelhas moucas aos clientes.

Ou isso acontece mesmo ou um cliente que foi recusado por um funcionário culpa a preguiça e a arrogância dos funcionários. Mas é claro que, neste livro, a tia do protagonista é assim: uma funcionária que não funciona, um exemplo de corrupção do baixo nível.

Um membro angolano da comunidade r/Portugal confirmou que a frase e o sentimento são comuns em Angola.

Mas claro que Angola não é o único país que tem estes problemas. Existem por todo o lado, mas acho que o escritor pretende criticá-los na sua própria terra. Mais tarde na mesma história, o irmão diz que ele vai procurar trabalho e a tia responde com mais um exemplo de injustiça: “Não te preocupes(…) Nem vais ter que te dar ao trabalho de procurar por emprego nenhum. Já tenho uma cunha montada para ti (…) Já tá tudo acertado (…) podes até começar já amanhã se quiseres, o meu chefe não se importa”. A oferta é rejeitada porque o seu sobrinho não quer ficar metido num compromisso injusto: “Os tempos mudam e vão mudar, tia!”

Esta palavra “Cunha” já é conhecida porque surgiu no diálogo do “As Crónicas dos Bons Malandros” sobre o qual escrevi há 3 anos. Significa uma oferta de ajuda, emprego, ou outra bem, feita por uma pessoa influente, e é mais um exemplo de corrupção.