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Scavenging Song lyrics

Acabo de ouvir um vídeo sobre o videojogo Fallout 4, enquanto fazia o pequeno almoço. O narrador fallout sobre… Hum… Falou sobre vasculhar em ruínas e casas abandonadas em busca da tralha da civilização do pré-guerra, com a qual consertar armas desgastadas, ou construir novos itens. Esta imagem de ser caçador de lixo é a metáfora que veio à mente enquanto Vascolei… Hum… Vasculhei na letra do Fado do Estudante à procura de novas palavras para colocar no Anki e, ao mesmo tempo, encontrei novas expressões interessantes:

Negra Sina – soa como uma expressão mas não é: o seu destino, ou o fim ao qual o cantor chegou é escuro… Ou se preferes “obnubilado” e nada mais.

Cabeça ao léu – significa “sem chapéu”, mas léu também significa “Ausência de preocupações ou de necessidade ou da vontade de trabalhar” portanto a expressão não foi escolhida completamente à toa, acho. No mesmo verso, “de capa ao ar” cheira a expressão idiomática, também, mas tanto quanto sei, não é. Não sei como interpretar a frase. Capa tem vários significados mas em contexto (perto da referência ao seu chapéu) tem de ser a peça de rouparia, certo? Está tão despreocupado que não repara no vento a soprar a sua capa??? Está a correr tão rápido em direção às raparigas que a capa flutua atrás de si? Adoro esta última imagem mas parece-me pouco provável porque o Vasco não tem o corpo de uma atleta ou um super-herói.

Sem me ralar – Ah, não percebi antes, mas este verbo é igual à expressão “não te rales” ou seja, não te chateies ou não te preocupes. Um ralador é uma ferramenta para picar queijo, cenouras e outras comidas mas “ralar-se” pode ter um significado mais figurativo: aborrecer-se. Noutras palavras, o Vasco nunca ficou farto de amar. Não me admira*.

É canja – “é fácil”. Em inglês, dizemos “a piece of cake” mas a equivalente em português é uma comida mais saudável! Já sabia disto, mas fui enganado pelo facto de “deixá-las eu” soar como “de chá, lazer”. A frase inteira soava como uma receita de uma vida relaxada: chá, sopa e descanso.

Traidora da franja – hum… Meu deus, quem me dera ter prestado mais atenção ao enredo. Suponho que está a referir a uma personagem do elenco. Mas quem? Enquanto canta a frase, desenha um rosto na parede** mas não é reconhecível. Tem uma franja, um olho e mais nada. Será que a “traidora” é Alice? Espero que não: ela tem uma franja, sim, mas Alice (Beatriz Costa) é mais bela, tem dois olhos e ainda por cima, está casada com o Vasco quando esta cena tem lugar!***

Tostão – uma moeda de pouco valor. Sem tostão = falido. “penniless”.

Batina – rouparia preta de um padre ou, neste contexto, a veste do mesmo estilo usada por estudantes de certas universidades.

Botas a rir???

Botas a rir – Estou a usar a imaginação aqui. Imediatamente após a referência às suas roupas rasgadas, suponho que o Vasquinho é tão pobre, mas tão pobre que as suas botas também estão ratas, com solas descoladas do couro em cima. Assim, o buraco entre a sola e o resto da bota parece uma boca a rir…? Não é inacreditável, pois não?

Bengalão – Não me lembro se o estudante usa uma bengala grossa****, mas esta palavra vem logo depois da assim mencionada “botas a rir”. Pode ser uma continuação da descrição (o feitio do buraco é curvado como a alça de uma bengala?) ou talvez o cantor simplesmente queira completar a imagem de si mesmo como o vagabundo criado por Charlie Chaplin poucos anos antes.

Afinar – Pode significar “tornar mais fino” mas suspeitava que também significa “ajustar o tom”, o que foi confirmado pelo Priberam. Ambos fazem sentido no contexto do verso, acho eu.

Tenir / Fugor – Não têm significados nenhuns. Quando cheguei a “fugor”, comecei a perguntar-me, “tratam-se de erros de digitação”? Fulgor (=brilho)? AHA!!!! Sim, as letras de ontem estavam incorretas! Raios partam! Há aqui uma versão que contém “fulgor” em vez de fugor e “tinir” em vez de tenir.

Então, que exercício profícuo! Aprendi muito e acrescentei mais 9 palavras à base de dados.

*I’m not rewriting this whole paragraph, but Cristina tells me the line is better understood as him saying he doesn’t think about the girls afterwards. “o resto são cantigas” is an actual expression, which has in turn been used as the name of at least one TV show.

**Há-de haver uma dissertação de um estudante de artes (carago!) sobre as raízes da arte dos grafiteiros portugueses tipo Vhils, Luísa Cortesão e Tamara Alves neste pequeno acto de vandalismo no maior clássico na história da cinematografia portuguesa. 😆

***Update, yes it is her, and she is being called a traitor because she’s changed him from his old gaddabout ways and made him settle down. Mate, count yourself lucky. Look at her, and look at yourself. She’s waaaaay out of your league!

****Not just this student, it was part of the standard Coimbra student getup apparently

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Fado do Estudante

Vasco Santana is supposed to be a graduating student in A Canção de Lisboa, but he was actually 35 years old when they made it, so it’s all a bit Steve Buscemi…

Anyway, I decided to go back and listen to one of the songs again. I’m doing this one as a listening exercise rather than as a translation, because seeing that play on my first day in Lisbon reminded me that one of the difficulties of listening to old black and white films is that the quality of the sound recording means that a lot of the dialogue sounds muffled or flattened, so it’s quite challenging to follow. The songs are doubly hard because the words have to fit the rhythm of the music instead of normal speech.

Let’s see how much I can get purely by ear… I’ll put it in one side of a table then drop the real lyrics in next to it to show how far off I am.

NOTE – I’m leaving this as it is, but some of the footnotes and even the translation turned out to be wrong when I did a deeper dive into the song the following day, so if you want to know more about how that all happened, have a look at “Scavenging Song Lyrics

My TranscriptionActual Lyrics
Que nem quer assim de ver-me assim
Que só deve ir-me degradante
Ai que saudade sinto em mim
Do meu viver de estudante
Nesse fugaz tempo de amor
Que dum rapaz é o melhor
É um audaz conquistador das raparigas
De capo ao ar, cabeça ao ___?
Só para amar vivia eu
Sem ??? e tudo mais eram cantigas
De nenhum delas me aprendi
De cha, lazer e de canja
Até o dia em que pareci
Essa fragura de franja
Sempre tenir(?)-se em tostão
Bati um ___ ou um rasgão
Botar _____ um bengalão
E artes, carago!
Invade o ar com outras mães
E a dançar pelos areais
P’ra namorar, beber, folegar,
Cantar o fado
Fora agora com soledade
Os calhamaços que lia
Os professores da faculdade
Minha amiga dá-me tremia
E ouve as minhas recordações
Que não tem fim dessas lições
P’ra o então jardim do velho campo da Santana
Aulas que eu dava e estudasse
Onde estava nesta classe
E eu faltava sete dias por semana*
O fado é toda a minha fé
Embala, encanta e nevaria
Ou chega a ser bonita até
Na radiotelefonia
Quando é tocado com calor
bem atirado e a rigor
É belo fado e ninguém há que o resista
É a canção mais popular
Tem emoção p’ra nos vibrar
E eis a razão p’ra ser doutor e ser fadista
Que negra sina, ver-me assim
Que sorte vil e degradante
Ai que saudade eu sinto em mim
Do meu viver de estudante
Nesse fugaz tempo de amor
Que de um rapaz é o melhor
Era um audaz conquistador das raparigas
De capa ao ar, cabeça ao léu
Só para amar vivia eu
Sem me ralar e tudo mais eram cantigas
Nenhuma delas me prendeu
Deixá-las eu era canja
Até ao dia em que apareceu
Essa traidora da franja
Sempre a tenir, sem um tostão
Batina a abrir, por um rasgão
Botas a rir um bengalão
e ar descarado
A vadiar com outros mais
E a dançar nos arraiais
P’ra namorar, beber, folgar
Cantar o fado
Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia
Os professores da faculdade
E a mesa de anatomia
Invoco em mim Recordações
que não têm fim dessas lições
frente ao jardim No velho campo de Santana
Aulas que eu dava e se estudasse
ainda estava nessa classe
A que eu faltava sete dias por semana
O fado é toda a minha fé
Embala, encanta e enebria
Pois chega a ser bonito até
Na rádio telefonia
Quanto é tocado com calor
Bem afinado com fugor
É belo o fado ninguém há quem lhe resista
É a canção mais popular
Tem emoção faz-nos vibrar
E eis a razão de eu ser Doutor e ser Fadista

*As the kids say, “literally me!”

Oof! Wow, I started this exercise about 3 weeks ago and have only just picked up the post and restarted. I think I must have given up because it was so disheartening to realise how little of it I could write down first time. The effect of my “palpites” is pretty surreal in places, because sometimes I am just transcribing sounds and not really being able to link them back to written words I’ve seen, so I was just inventing verbs left and right. Amazingly, one of them “Tenir” turned out to be real, although I don’t know what it means and neither does Priberam.

Obviously even when I did come up with a real word, I knew some of them must be wrong “E artes carago!” was clearly stupid, but I couldn’t hear it any other way. Others were positively surreal: “Invade o ar com outras mães” is a very fine example. But misheard lyrics are nothing new. I remember at secondary school thinking there was a Gary Numan song called “I’m a Plastic Bag” (It’s actually called “That’s too bad”) and there are whole blog posts and even sites dedicated to misheard lyrics, so I’m not too downhearted!

The fact that a lot of small words – mainly pronouns – escape my ears hasn’t helped. Mostly, I should have known better: the “o” in place of “lhe” in the third-from-last line, for example. But the most maddening one was the “se” in “Aulas que eu dava e se estudasse” was the key to unlocking the sentence. I knew something wasn’t right, because there was no reason for it to change from indicative to subjunctive like that so I should have guessed there was a se in there somewhere, and if I’d realised that I probably could have unfucked the rest of the sentence too. Ugh…