Posted in Portuguese

Similitary Intelligence

Como já disse, estou a participar numa maratona literária e uma das categorias é “um género que não costumas ler” e eu escolhi uma antologia de poesia de Manuel Alegre. Sendo homem*, não me dou com poesia, mas o dia 21 deste mês era o Dia Mundial da Poesia, portanto decidi engolir o sapo. Li metade do livro, incluindo este verso na página 20:

“Meu amor disse que eu tinha uns** olhos como gaivotas”. Esta metáfora marcou-me não por ser valida*** mas por não fazer sentido. Porque é que o amante compara os olhos da amada a umas gaivotas? As gaivotas fazem muito barulho. Roubam batatas fritas dos turistas na praia. São brancas. É verdade que voam no céu azul, mas quem tem olhos azuis com íris**** brancas? Ou íris azuis com pupilas brancas? A adequação da expressão terá a ver com a distância, o isolamento ou a vigilância de uma gaivota no céu? Não percebi bem. O amante é um marinheiro e talvez tenha uma perspetiva diferente do que a que nós, que passamos a vida em terra firme, temos.

Mas afinal, esta metáfora é uma metáfora mesmo? Costumo pensar em qualquer expressão deste género como uma “metaphor” em inglês, mas sei bem que temos uma outra palavra, menos eufónica, nomeadamente “simile”. Os professores nos anos oitenta adoravam explicar a diferença, mas não sei se ainda existe nos currículos do século XXI.

E os portugueses também fazem esta distinção? Sim! E a palavra “símile” existe e tem o mesmo significado mas regra geral usa-se “comparação”. O site Ciberdúvidas tem vários artigos sobre metáforas mas nem uma única referência à palavra “símile”, dizendo “comparação” no seu lugar. Veja-se, por exemplo*****, este artigo.

Sei bem como explicar em inglês mas vou pedir um empréstimo ao Ciberdúvidas de certas palavras para preencher as lacunas no meu vocabulário!

Uma metáfora (“metaphor” em inglês) é uma aproximação entre dois termos ou dois objetos sem usar uma partícula de comparação. Assim a aproximação é implícita. Por exemplo

O nosso parlamento é uma pocilga.

Uma comparação (“simile” em inglês) é quase igual, mas, neste caso, usamos a partícula para criar distanciamento do objeto da comparação.

O nosso parlamento é como uma pocilga.

Ambas as figuras de linguagem usam-se na poesia, mas é importante em certas situações, saber a diferença.

*This is a silly joke and not meant any more than I’d I’d said “being British, I never ever use grammar” or “like most people born in the nineteenth century, he had never heard of sexual intercourse because it had yet to be invented”

**The grammar checker doesn’t like this and I suspect it might be an example of poetic language not being like normal spoken language

***I lazily write “apta” as in “an apt metaphor”. Whoops! That seems to be a false friend because that’s not really a thing, and apto has more a sense of “capable”. Valido seems better or possibly adequado (which is another of those words that has a similar meaning but a slightly different weight in Português than its equivalent – “adequate” – in English.)

****Íris is the singular and the plural when it’s used in this sense.

*****I keep putting “por exemplo” et the end of the word, regardless of what else is going on in the sentence but that’s not really how it’s done in portuguese. It’s viewed as an adverb so it gravitates toward the verb. Here’s a Ciberdúvidas article about Por exemplo.

Testing Reader Theories

Thanks to Cristina of Say It In Portuguese for the help with this text. Quite a lot of mistakes crept into the first version. I’m sort of surprised it wasn’t even worse, though, because it’s always hard describing complicated aspects of Portuguese in portuguese.