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Memórias Póstumas de Braz Ucas

Passei algum tempo durante o fim-de-semana no jardim da minha mãe, a arrancar ervas daninhas e a ouvir o audiolivro clássico brasileiro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” mas achei-o difícil por causa do sotaque e porque os primeiros capítulos contêm montes de referências literárias e históricas. Enfim, decidi ouvir a versão inglês em paralelo. Alguns capítulos em português e depois os mesmos capítulos em inglês, para remendar os buracos no meu entendimento.

Infelizmente, a versão inglês é a versão grátis do Spotify e é horrível. Acho que foi gerado por “inteligência” artificial com reconhecimento ótico de caracteres. A voz soa humana mas vai lendo erros no texto, tipo “AU” em vez de “All” e assim por diante . De vez em quando, ouvimos um número de uma página, lido em voz alto ou um título numa outra língua qualquer. Acho que seria mais fácil ouvir a versão brasileira sem batota!

O erro que mais me irrita é quando a voz artificial traduz um verbo com o pronome indefinido “se” (veja este blogue como referência dos usos de se em situações impessoais). Seria praticamente impossível descrever precisamente de que modo é que a “inteligência” artificial falha, mas basta dizer que é uma desgraça. Estou a pensar em comprar a versão do Audible, traduzida pela estimada Margaret Jull Costa e lida por um ser humano qualquer. Custa sete libras mas tem de ser melhor.

Por acaso, tenho um trabalho de casa que foca na posição dos adjetivos (antes ou depois do substantivo) e o livro contém este ótimo exemplo:

Tanto quanto sei, o significado é “I’m not an author who has died but a dead man who has become an author”. Daí, (como se explica logo a seguir) a sua campa é o berço do seu estado atual

O livro está muito na moda nos dias que correm por causa de um vlog americano (veja vídeo infra) mas tem estado na minha TBR há meses e estou super-entusiasmado por me gabar de o ter lido em português. Toma, monoglotas*!

*I originally wrote Chupa (Suck!) instead of Toma. Chupa sounds incredibly rude in English, but appears not to be quite as rude in portuguese. Or rather it definitely can be rude in certain contexts, and it’s always fairly uncouth, but when people say “Chupa, Dinamarca” or whatever, after a football game they are just gloating, not making an obscene suggestion, at least according to Priberam.

interjeição

5. [Informal] Indica satisfação, geralmente em relação a uma derrota ou um revés de alguém. = TOMA

“Chupa”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/Chupa.

But I asked around and I think the feeling was that it was a bit too spicy and I should de-escalate the situation by using Toma instead. In both cases, they’re interjections. Toma doesn’t really change even if you’re taking to a whole group of people “Coloquei ananás nesta pizza. Toma, italianos!” but with Chupa it seems to be more of an open question whether you say “Chupa italianos” or “Chupem italianos” (ie, conjugate it as a plural imperative because you’re addressing multiple Italians). In the kinds of situations you are saying these types of things, the niceties of grammar are often among the first casualties.

Well, that was an interesting diversion!