Almeida Garrett fala da história de Portugal como um “Castelo de Chucherumelo”. Segundo Professor Google o Castelo é melhor conhecido por Chuchurumel, (suponho que há dezenas de versões!) mas é uma lengalenga que descreve uma série de acontecimentos em fio. Noutras palavras é muito parecido (por falar na estrutura) com o nosso “The Old Woman and her Pig“. Mas a velha com o porquinho é um conto infantil, portanto mais vale comparecer com “The Old Lady Who Swallowed a Fly*” ou “For want of a nail the shoe was lost”. Começa com a chave do castelo, e depois a corda que prenda a chave, acrescentando mais um elo à cadeia de cada versículo.
* It’s always the old ladies isn’t it? Something needs to be done about them, causing all this mischief.
Esta expressão, muito cedo no “Viagens Na Minha Terra”, chamou-me a atenção porque já escrevi um blogue sobre uma música dos Deolinda que contém quase as mesmas palavras. E eu estava como…
Lazily recycling a question I asked in another place and turning it into a blog post to help me remember
Xavier de Maistre, author of “Voyage autour de ma chambre” approves of this blog post
Logo na primeira página do meu livro (Viagens Na Minha Terra de Almeida Garrett) o autor coloca a seguinte frase. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse, ao menos ia até o quintal Graças ao Google, já sei o que é murta* e quem foi Xavier de Maistre mas ainda não faço ideia de porque o autor escolheu o imperfeito do conjuntivo neste contexto. Podes explicar sff?
Segundo os portugueses (e um brasileiro) que responderam, Garrett está a construir uma situação hipotética. “Que”, neste contexto, está a funcionar como “se” ou “caso”, portanto precisamos do conjuntivo.
Noutras palavras, Embora Xavier de Maistre tivesse escrito o seu livro dentro do quarto, se estivesse em Lisboa nos dias do Garrett, iria ao quintal dar uma vista de olhos à beleza das laranjeiras e a murta a florescer nos campos**.
*It’s a plant – a kind of myrtle – if you want to know.
**Thanks to u/yangruoang for paraphrasing the sentence: I have paraphrased his/her paraphrase as an exercise for myself, and if I have introduced any errors, they’re my own, but basically rewriting it helped me understand the whole thing a lot better
Há uma mapa que estende da contracapa para a capa do livro. Na verdade, a viagem é curta. É possível caminhar aquela distância dentro de um dia
Além do território em si, a história enxertado pelo autor em VNMT, como já disse ontem, tem cinco personagens, entre elas três que merecem inclusão no Dicionário de Personagens da Ficção Português*. Nestes resumos daqueles resumos (por assim dizer), irei omitir os pormenores da história e concentrar no caráter de cada um.
Carlos é o herói da conta. O autor concretiza nele as ideais da revolução: singeleza, honestidade, generosidade. Na sua cara, them uma “boca desdenhosa, não por soberba mas por consciência de ‘uma superioridade inquestionável'” o que reflete, acho eu, a intenção por parte do autor que nós nos identificam com esta protagonista admirável. O conflito no seu peito entre a sua lealdade à Georgiana e o seu amor para Joaninha é motivo de ânsia, precisamente por causa das boas qualidades dele. O autor justifica-nos “rousseaunianamente” esta paixão.
A reação dele á aparência do frade mostra o sangue quente do homem, mas não «e fora do controlo, como dizemos quando deixa de atacar e em vez de cometer parricídio, junta-se ao exército liberal. Mais tarde, Carlos, após algum tempo em exílio onde “flirtara” com três irmãs britânicas a fio, “adquiriu facetas dândis”, mas ainda era capaz de tomar ação decisiva para romper os laços de amor. Também fala do amor da sua pátria, e a veemência do seu liberalismo, que dá origem ao desejo se tornar deputado. Como resultado, perde algo do seu espirito aventureiro e engorda nas vésperas da sua vida.
O artigo conclui com o seguinte parágrafo imelhorável
É bem um “herói” romântico, Carlos. De íntimo ferido no confronto da sua pureza primitiva com a poluição do grande mal e da sociedade dispersora, ganha configuração ficcional pela representação de um mundo subjetivo intenso, fragmentado, complexo, posto em relevo pela contraposição a várias personagens e pela articulação com um tempo histórico em devir, também exemplificativo do descambar fatal dos ideais.
O escritor do retrato dedica um parágrafo inteiro á aparência física da Joaninha. Não é bela mas tem “Um vulto airoso” e blabla, voz doce, olhos como esmeraldas, voz puro, árvores e espiritualidade e tal. Mas além disso tudo, ela “afasta-se, pois, dos estereótipos românticos da mulher-anjo ou da mulher-sílfide” e vive no vale que nunca abandonou, rodeado de rouxinóis e outras criaturas. É corajosa e ama sem reserva o seu primo.
Enlouquece quando ouve de como Carlos “caíra em fragmentação interior e “morte” moral no ceticismo, tornando-se incapaz de amar a inocente que poderia revocá-lo do abismo”
Explicando o lugar da mulher dos rouxinóis nesta história, Ofélia Paiva Monteiro diz o seguinte:
Joaninha, sem deixar de ter alguma consistência física e psicológica, “vale” sobretudo como poética representação da inteireza natural, irrecuperável para os que perderam, como Carlos, a unidade e a transparência nativas.
O frade é uma figura “seca, alta e um tanto curvada” da aparência, e “austero” com “crenças rígidas” e “lógica inflexível”. A sua natureza não é completamente sem simpatia mas afinal o frade representa o clericalismo do regime antigo mas também é o pai do herói romântico que tem de se submeter á raiva do filho, naquela cena miserável quando a verdade é descortinada. A consciência por parte de Frei Dinis do seu pecado imperdoável assombra a sua aparência física e as vezes até o faz tremer.
*Annoyingly, the first time I clicked on this it failed to load because there’s a problem with its security certificate, so I had to go into the security settings and tell it to ignore problems on this specific site. Doesn’t seem to happen in Edge, only Chrome.
**I had to squint at this for a bit. It’s an adverb meaning “in the manner of Jean-Jacques Rousseau”. There you go, try dropping that into your next conversation!
Termos usados nos textos que podem ser úteis no contexto académico
Oitecentista: que viveu no século XIX – os millennials daquela época
Metadiegética: Palavra não encontrada no Priberam, mas segundo este fio redditético, existem mais palavras na mesma família: um narrador extradiegético é o narrador do livro que o leitor tem nas mãos. Um narrador intradiegético é um narrador de uma historia dentro do livro que conta as aventuras de um terceiro (o redditor dá o exemplo da Sherazade nos “Mil e Um Noites”) e um narrador metadiegético é um narrador da hístoria contado pelo próprio narrador intradiegético, como por exemplo Simbad, o navegador e o protagonista d’O Marujo. Todos escrevem na terceira pessoa mas existem em níveis diferentes na contagem das histórias dentro da história principal! Uau! Nunca antes ouvi falar deste concepto!
O Blogue de hoje é uma tentativa de fazer notas sobre este vídeo. Não vou pausar o vídeo, só fazer notas:
A viagem não é assim tão longa mas não existia comboios nem carros. Garrett e amigos convidados por um amigo
Ofélia Paiva Moreira: ViageNS. Realmente fez o passeio.
Carlos Reis: As viagens simbolizam uma jornada mental ou filosófica
José Miguel Sardica – apesar dos sinais do desenvolvimento, Garrett acha que falta alguma coisa.
Jacinto Lucas Pires dá um exemplo da forma inovadora do escritor, falando diretamente ao leitor
OPM “Fashionável” como estrangeirismo cómico
OPM Quem seria a menina dos rouxinóis que se encontra na vale de Santarém?
A narrativa passa para a história de Almeida Garrett
CR – Garrett afirma que o autor é uma cidadão com responsabilidade de criticar a sua própria sociedade
Joaninha (a menina dos rouxinóis) é um símbolo da natureza impoluida (impoluida? então… sem poluição?) portanto tem olhos verdes. Vive com a avó (Francsisca?) (simbolo de um portugal incapaz de ação?) O filho dela, Carlos é um soldado.
Frei Dinis visita a família cada sexta feira. Uma personagem que não percebe as mudanças na sociedade. Vê a tropa do Carlos como “inimigos de Deus”. A guerra rodea o vale mas deixam Joaninha em paz nos seus passeios. O irmão primo Carlos está num dos grupos de soldados. Mas qual é esta guerra?
Aqui temos uma digressão pela história já contada ontem, começando com a invasão dos franceses e seguindo a passagem dos pretendentes ao trono nas suas várias lutas para poder, reunindo os dois fios, o do liberalismo e o do romanticismo. Garrett, como crítico do rei absolutista foi preso e for isso que entrou em exílio logo que esteve solto.
Carlos beija a sua prima mas volta ao seu amor, uma inglesa, e ao exército e fica ferido ao auge da história.
A guerra é revelada ser a guerra civil a seguir o cerco do Porto. Carlos, já ferido, briga com a noiva por causa do seu amor para a prima Joaninha. Vai-se embora, deixando Carlos na cama. Carlos acaba por culpar Frei Dinis mas logo antes de ele tentar matar o frade, Joaninha entra com Francisca que o informa que Frei Dinis e o pai dele. Pois, é Dinarth Freider.
CR – A ficção desta história dentro da história reflete a guerra familiar do país
O fim da família é pessimista: a joaninha enlouquece-se, Carlos é eleito como deputado, Georgina (a inglesa) entra num convento e os velhos permanecem na casa “como mortos-vivos”
O narrador do documentário faz comparações entre as personagens e os dois protagonistas do livro “Don Quixote” de Cervantes, mas, tendo lido aquela obra-prima, não entendo bem por quê. Talvez faça mais sentido depois de ler o romance.
Antes de começar, tentei juntar várias informações some o livro que irei ler, para me nortear antes desta viagem no meu livro.
Foi publicado em 1846, quando o autor teve 47 anos. Esta época foi caracterizado por um surgimento do liberalismo na esfera política e do romantismo na artística. Foi uma época de grande turbulência na Europa: a revolução francesa tinha irrompido dez anos antes do nascimento de Garrett e as ecoas reverberaram longe depois. Como adolescente, Garrett e a família dele fugiram da guerra peninsular e viveram na ilha terceira nos açores. 4 anos depois, em 1820, já licenciado da universidade de Coimbra, com 21 anos, participou na revolução liberal, após o qual, tinha de se esconder novamente, desta vez em Inglaterra. Trabalhou como poeta, livreiro, jornalista e dramaturgo aqui, em França e no seu próprio país durante os próximos anos mas a luta dos liberais continuou após o retorno de um rei tradicionalista, Dom Miguel, ao trono, e o escritor (novamente em exílio no reino unido) participei num cerco do Porto em 1832-3 (Garrett e os soldados liberais sendo cercados por tropas realistas).
Dois anos após o lançamento do VNMT, chegou o ano apocalíptico de 1848 quando houve revoluções por todo o lado no continente.
Para ilustrar a moda literária da época, na inglaterra na mesma altura (entre 1844 e 1848), foram publicados Jane Eyre, Wuthering Heights, Sybil, Martin Chuzzlewit e Vanity Fair. As primeiras páginas da obra lembraram-me do Three Men in a Boat de Jerome K Jerome mas acho que a semelhança é ilusória e o livro inglês não apareceu até 1889.
Quanto ao movimento romântico nas artes plásticas, o roteiro dá exemplos de quadros da primeira metade do século XIX e aponta o papel da paisagem como contexto da criação dos sentidos e a imaginação do narrador (p4) Ofélia Paiva Monteiro descreve o papel dele na vida cultural do país naquela época como “fundador” por causa da sua influência ideológica e no desenvolvimento do romanticismo em Portugal (Monteiro, 2001, p. 3)
Não sei como mas entre todas estas atividades, teve tempo suficiente para namorar com dezenas de mulheres e casar com 3, entre elas uma de 13 anos (embora tenha esperado até ela foi velhota de 14 antes de eles se casaram)😬
OK; factos interessantes, salpicados de nojo, mas já chega por hoje. Volto á carga amanhã