Tendo feito check-in, fui a pé para a* Lx Factory que estava muito movimentada, cheia de pessoas em busca de lugares para tirar selfies.

A LX Factory é umaa zona muito fixe de Alcântara, com restaurantes e cafés e lojas, mas o rei de todos é a Livraria Ler Devagar. Está livraria nasceu em 1999 numa fábrica no Bairro Alto, mas mudou para um prédio que antigamente era uma fábrica de jornais com uma enorme impressora que ainda está lá na loja. A sala tem tecto muito alto e como resultado as prateleira de livros são inacessíveis. O chão também é inclinado, que impossibilita o uso das escadas móveis em determinados lugares. E tudo isto não soa promissor, pois não? Como é que uma livraria permanece aberta num espaço feito para produção industrial? Sabe-se lá, mas apesar destas desvantagens todas, a Ler Devagar não deixa de ser uma das livrarias mais encantadoras que já visitei.

Deparámos com a loja durante a nossa primeira estadia em Lisboa, por acaso, há 8 anos, no ano de lamentação**, 2016. Estávamos hospedados num AirB&B perto da Lx Factory. Mas naquela altura não estava capaz de ler livros portugueses portanto não apreciei a sua glória.
Mas voltemos para o presente: comprei uma meia dúzia de livrinhos.
Depois, caminhei de Alcântara para o Parque Mayer para assistir a uma peça no Teatro de Variedades. Este teatro abriu em 1926 mas um declínio de lucros nos anos 90 levou ao seu encerramento. E permaneceu encerrado durante 30 anos até o dia 5 deste mês – ou seja, 6 dias atrás. Imagina! 30 anos de silêncio mas reabriram o Teatro na mesma semana na qual estou aqui! Dado isto, achava que o Teatro estaria cheio de fãs de teatro entusiasmados por participar na reabertura desta sala histórica mas lamento que não estava. Quase uma metade dos bancos estavam vazios, o que é pena porque o espectáculo é muito divertido.
A peça, “Entraria Nesta Sala” é uma homenagem ao cinema do passado. Os 4 protagonistas são (tanto quanto sei) personagens do filme “Canção de Lisboa” – Vasco Leitão (Vasco Santos), Alice (Beatriz Costa), Alfaiate Caetano (António Silva) e… Hum… A Tia do Vasco (Teresa Gomes)? Mas os quatro vivem no Costa do Castelo (mais um filme de António Silva) e reconheci pelo menos duas referências ao argumento do “Pátio das Cantigas” (que incluiu Vasco Santana é António Silva no seu elenco) , principalmente um monólogo, recitado pelo elenco em uníssono, com um candeeiro da rua.
Houve elementos do absurdo (por exemplo, falam com a nossa senhora do Costa do Castelo, mas ela fala espanhol e parece não saber que não se fala espanhol em Portugal. Ri-me.) e até da ficção científica (viajam numa máquina de teletransporte para assassinar Hitler e levar a cabo o quinto império).
Não fiquei desencorajado pela falta de entendimento. Aproveitei o que consegui entender, mas havia canções e piadas e tanta atividade frenética que não era possível ficar aborrecido.
Depois, fui a pé para uma casa de fado mas não havia disponibilidade. Havia mais uma casa de fados por perto mas neste caso havia disponibilidade a mais: a fadista cantava numa sala deserta com vinte-e-tal mesas vazias. Um restaurante sem clientes é uma cena triste, mas há-de haver uma razão pela falta clientes. Não entrei. Cambaleei para o hotel até encontrar um restaurante acolhedor onde quatro músicos tocavam jazz. Jantei bem e voltei para o hotel.
*feminine, presumably because fábrica (factory) is feminine.
**I still remember feeling slightly sheepish about the whole Brexit thing. And Trump hadn’t even been elected yet so we didn’t even know the half of it. Fuck. 2015 seems like a hundred years ago now.
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