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Utilitarismo

Good advice, both for ethicists and language learners

O Utilitarismo é uma filosofia, associada principalmente com o filósofo liberal John Stuart Mill. Esqueci-me do nome da filosofia ontem durante uma conversa. ‘tás a ver a dimensão do meu problema? Nem sequer sou capaz de falar no meu próprio idioma. Não me admira que as palavras portuguesas não estejam na ponta da minha língua. Eh pá…

A teoria diz que devemos agir duma maneira que tenda a produzir mais felicidade (ou “utilidade”) para mais pessoas. Se pensarmos em fazer alguma coisa, temos de nos perguntar: será que esta ação (por exemplo, roubar €10 de um amigo) leva uma felicidade que ultrapassar a infelicidade dos outros

Pros

  • Eu terei €10 com os quais* comprar uísque

Contras

  • O meu amigo perderia €10 de que ele precisa para comprar fraldas para o seu bebé
  • O mesmo sentir-se-ia traído
  • Provavelmente deixariamos de ser amigos logo a seguir
  • Ressaca

Em suma**, não seria ético. Que pena. Então como obter o uísque?

Para mim, este princípio ético é como a mecânica clássica de Isaac Newton: é um sistema que funciona na maioria das situações. Mas tem os seus limites. É fácil encontrar exceções e paradoxos. O meu exemplo favorito tem a forma de um conto: “Os Que Se Afastam de Omelas”, de Ursula Le Guin mas existe um ainda mais extremo, chamado “O Monstro Utilitário”

Eu falei da filosofia porque acho-a pouco útil na discussão sobre direitos de animais. Principalmente, acho isso porque não podemos imaginar como os animais pensam e como sentem a dor. Mas também duvido que a filosofia descreva bem a natureza. Por exemplo, um tigre “tem o direito” de*** devorar a minha professora de português? Claro que não. Não me importa se a felicidade do tigre em ter a barriga cheia ultrapassar a chatice de ter de procurar uma nova professora de português. Mas o tigre é um tigre, e para um tigre, a sua natureza é comer humanos e outros animais, quer seja ético quer não, porque é um carnívoro, e para mim, o meu dever é proteger o outro ser humano, por mais esfomeado que esteja o gatão, porque preciso de passar o C2. Duvido que exista um “Cálculo Felicífico” capaz de resolver as perspectivas de duas espécies de animais com visões do mundo tão incompatíveis.

Igualmente, não “tenho o direito” de comer frango piri piri, mas sou omnívoro e a galinha sabe bem. Sou o tigre nesta situação. Um tigre que usa óculos multifocais****.

Ainda que tenha este ponto de vista perante a existência da cadeia alimentar, não acredito que os animais nos pertençam. Quando pensamos em experimentar drogas contra doenças graves, o benefício hipotético de curar a doença de Parkinson parece-me obviamente maior do que o sofrimento de uns gatos ou macacos, mas ainda assim não acho que tenhamos o direito de infligir a dor para concretizar aquele benefício.

E se eu tivesse a doença de Parkinsons e existisse um novo medicamento***** conseguido com ajuda de testes em coelhos? Ou macacos? Ou contabilistas? Recusá-lo-ia eu de aceitar por razões éticas? Deixa mas é de fazer questões difíceis.

Talvez a minha “filosofia” pareça-te escanifobética e até hipócrita. Lá ser é, mas acredites ou não, penso muito sobre isto!  

*Quais, not qual, as I originally wrote, because ten euros is plural whereas in English we’d think of money as a substance and it would almost always be a singular sum of money, no matter how many thousands we were talking about.

**Somehow I managed to write “em sumo” which Er… Is not right.

*** tem o direito de / te direito a

**** Well I’ll be gosh-jiggered, I wrote “varifocais” and would have sworn I’d checked that and used it before but apparently not because it doesn’t exist.

*****Almost fell into the trap of using “Medicina” here. Medicina does mean medicine, but as a discipline, like “I’m studying medicine”, not the pills and potions that we take for what ails us.

Thanks to Cristina of Say It In Portuguese for once again saving me, not from being eaten by a tiger, but from making a lot of grammar errors, which is almost as bad.

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Just a data nerd

One thought on “Utilitarismo

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